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XVIII
"ATENA"
Foi uma deusa em templo consagrada:
- Olhos cinzentos, mente criadora -
Por nenhuma mulher fora gerada,
Da cabeça de Zeus nasceu senhora...
Atenas, nela via uma aliada,
A deusa da cidade, a protetora...
De razão e saber fora criada,
Minerva, a implacável defensora
Dos campos ricamente cultivados,
Das oliveiras, corujas e dos prados...
Mais que Artemisa e Héstia foi singela,
Se virgem como as outras... mais segura...
Reluzente na mítica armadura
Nasceu Atena, Párteno ou Donzela!
Gil Saraiva
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XVII
"BORBOLETA"
Na imensa planície de meu ser
A madrugada traz, de novo, as flores...
Desabrocha suave em meu viver
A alma, o coração, risos e cores...
Desabrocha o sentir, o amar e o ver...
Por mim sedentos, todos, quais credores,
Cobrando o toque, o gosto, o poder ter
Meu cheiro, meu olhar e meus amores...
Na imensa planície a madrugada
Desabrocha por fim meu existir
E a borboleta vem, enfeitiçada,
Em mim beber o néctar do sentir...
Na imensa planície oculta flor
À borboleta dá suave amor...
Gil Saraiva
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XVI
“APOGEU”
Sua, teu corpo, amor, e sua o meu
Até a vista nos ficar nublada,
Da fusão do contacto à pele suada
Sexo de fogo a noite desprendeu…
Seguindo unidos… Já amanheceu…
O céu coberto avisa trovoada
Parecia cantar, em alvorada,
A noite que entre nós aconteceu…
Veio a luz da manhã, se fez esplendor,
Brilhou como cristal a água azul,
Atracou um barco mais pra Sul
E buzinou p’ra nós o nosso amor…
Suou teu corpo amor, suou o meu,
De gota em gota… até ao apogeu!...
Gil Saraiva
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XV
"AZUL"
Somos um ponto azul no céu imerso...
Fonte de esperança, água, humanidade,
E o infinito temos por vaidade...
Parte de um todo unido, mas disperso...
Somos um ponto azul no universo...
Somos, azul no céu, na claridade,
Azul dos oceanos à verdade
De uma simples palavra escrita em verso...
Somos um todo azul e somos nada,
Uns segundos no dia universal,
Mas por sermos azul somos sinal
Que existe vida nesta escura estrada...
Somos a vida azul no cosmos negro.
Somos o ponto, a chave... do segredo!...
Gil Saraiva
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XIV
"DOCE PECADO"
Com a aurora chega o Sol Nascente,
Sobe no céu, com rumo já traçado,
Vem dando vida ao mundo iluminado
Pra se esconder depois lá pra Poente...
E parece cumprir, de forma crente,
Uma homenagem viva, devotado
A quem tem no olhar brilho encantado
E vive e mora mais a Ocidente...
Parece o Sol seguir-te ó estrela bela,
Tu que, a Oeste, moras, qual princesa,
De origem e de raça a beleza
Por quem o Astro Rei amor revela...
Pudesse eu ser o Sol apaixonado
P'ra cometer em ti doce pecado!...
Gil Saraiva
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![O Último Beijo.jpg O Último Beijo.jpg]()
“ÚLTIMO BEIJO”
Semanas há que guardo afoito o leito
Onde caíste assustadoramente
Enfraquecida, pálida, doente,
Quase uma réstia, assim, de um ser perfeito,
Com quem, há muitos anos eu me deito
Numa fusão de corpos tão ardente,
Que, meu amor, não tem equivalente…
Teu coração, p’ra lá do doce peito,
Envia-me sorrisos abafados…
Por entre a tosse, a febre e muita dor,
Nesses teus olhos, eu só vejo amor…
Quero poisar nos lábios teus, cansados,
Esses anos de amor e de desejo,
Morrer contigo, nesse último beijo!
Gil Saraiva
03/2020
Nota: Para entender as circunstâncias que rodearam a criação do soneto ler "Carta à Berta" de 27/03/2020
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XIII
"GOTAS DE ORVALHO"
A primavera está para ficar,
Meu coração, por fim, se torna leve,
Derrete nele a branca e pura neve
Em lágrimas de amor, um rio, um mar...
Agora com o inverno a hibernar
Deixa meu existir a hora breve...
Novas palavras minha pena escreve,
Puras gotas de orvalho a alimentar
A flor de cardo que em minha alma existe...
Agora a primavera conspirou...
Até ser dia a noite me beijou
E o dia me sorriu... porque sorriste...
Gota a gota subiu em arco um véu,
Nosso arco-íris de amor subiu no céu...
Gil Saraiva
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XII
"SELVAGEM"
Passas rebelde, sem olhar ninguém,
Sorris de vida, procuras amor,
Tens a garra e a força do Condor
E duras as palavras para quem
Tenta deter-te a ti, sem vir por bem...
Tens no brilho do olhar um fogo, ardor,
Felino de vontades e fulgor,
Ansioso de ser feliz também...
Amas de coração, sem ser problema,
E não pareces ser essa ternura,
Que ocultas lá no fundo, em forma pura,
Soberana de vida, um diadema!...
Rainha és, num trono de coragem,
Mulher entre as mulheres... mais: Selvagem!
Gil Saraiva
![Bolero.jpg Bolero.jpg]()
XI
"BOLERO"
Mais uma vez aquele bolero tocava
Ondas de espuma... crinas de corcel...
Aguarelas pintadas sem pincel...
Ondas de noite... sexo... sons de lava...
Mais uma vez aquele bolero soava,
Como suavam corpos num hotel...
No ar crescia o sonho de Ravel
Que aquele maestro irado interpretava...
Mais uma vez ali... ouvi bolero,
Acompanhando este meu louco beijo
E modelando, em mim, em meu desejo
Um grito ardente: "- Amor, como te quero..."
Mais uma vez meu coração bateu
Tocou bolero, amor, perto do teu...
Gil Saraiva
![Luar de Sonhos.jpg Luar de Sonhos.jpg]()
X
"LUAR DE SONHOS"
Chegou hoje branca a noite de luar
Com farrapos de sonhos no horizonte
Envolvendo a serra, monte a monte,
Humedecendo as almas de invulgar
Ambiente de oculto secular...
Chegou hoje branca a noite em alva fonte,
Entre luz e mistério sendo a ponte,
Que a Lua não nos diz como alcançar...
Chegou hoje branca a noite... quase trágica,
Translúcida de seres e sentimentos...
Chegou hoje branca a noite e por momentos
Raiou, em sensual passo de mágica,
Poisando branca em teus olhos tristonhos
E os transformando num luar de sonhos...
Gil Saraiva