IX
"SONHOS DE POETA"
Aqui nos encontramos, os amantes,
Entre poemas não ficamos sós...
Dos versos que dizemos, somos voz,
Dos outros, que nos dizem, figurantes...
Somos um todo uno, por instantes,
Sorrimos e choramos, somos nós...
Afluentes de um mesmo rio, a foz,
Sensíveis... raros, somos os Atlantes
Em vias de extinção neste milénio...
Que os sonhos de poeta, são… moradas
Daqueles que, ao escrever, são magos, fadas...
Desses p'ra quem o verso é oxigénio...
E se um final feliz temos por meta,
É porque temos... sonhos de Poeta...
Gil Saraiva
VIII
"PEDRA DE LUZ"
Pedra de luz... brilhar fatal... o teu...
A Cruz Alta és, no ponto mais cimeiro,
Bem no topo da Serra, em nevoeiro,
Renascerás de um brilho que cresceu
Aqui... ali... nas almas que escolheu!...
Réstia de luz, que a Estátua do Guerreiro
Vigia, como um guarda prazenteiro...
Brilho que me encantou, que não esqueceu!...
Pedra de luz, que o meu olhar captou
No mágico triângulo da Serra:
Guerreiro, Pena, Cruz, que nesta terra
A alma dos amantes capturou
Nestes penedos do Al Andaluz!
Sendo eu a pedra, amor... tu és a luz...
Gil Saraiva
VII
"SINTRA-A"
Na lareira arde, em chamas, o azinho;
Na Serra, a bruma esconde a própria Lua;
Na Praia das Maçãs, a onda sua
Uns salpicos de Mar, que não de vinho...
Na ribeira, em Colares, mais um patinho
Mergulha atrás da uva e, já na rua,
Passa uma turista seminua
Que, por azar, não deu com o caminho...
E inveja a Várzea, a árvore no serrado,
Enquanto alguns saloios a cultivam,
Para que os frutos cheguem ao mercado...
Nesta terra, onde Amor e História privam,
Artesanato e vinho, de mãos dadas,
Fazem do Amor as formas das queijadas!
Gil Saraiva
VI
"O ELIXIR DA LUA"
Por entre o verde, acima dos telhados,
Junto ao histórico centro desta vila,
A esperança desperta, não cochila,
Nos corações agora apaixonados...
Na velha Sintra, muros e cercados
Geram recantos onde a sombra oscila,
Criando ninhos negros de tranquila
Intimidade e fontes de pecados...
Vendo o vermelho e azul dos azulejos,
Os brancos ou os ocres nas paredes,
O amarelo e verde em velhas redes,
Húmidas sebes loucas de desejos,
É fácil de entender que, em qualquer rua,
Se sinta e cheire... o elixir da Lua...
Gil Saraiva
V
"A CONDESSA"
A Condessa sorriu...ligeiramente...
Um sorriso sem cópias ou igual...
O seu brilhante olhar tem, do cristal,
O mesmo ardor e garra permanente,
Aquele fulgor que nos desperta a mente,
Numa ânsia de sonhos e real...
A Condessa sorriu... tão natural,
Mas ao sorrir assim, candidamente,
Explodir fez, de vez, as emoções,
Mil melodias, odes, versos, hinos,
Lindas canções de amor e mais refrões,
Coros vindos do céu dobrando sinos...
Condessa, ó Condessa... sorridente...
Sorri p'ra mim... assim, sorri somente...
Gil Saraiva
IV
"CRISTAIS DE AREIA"
Foi quando a bruma veio esconder o Sol
Que, na praia do fruto, nua e sã,
Arisca, tu mordeste essa maçã,
Me embebedando mais do que álcool...
Na vasta praia nosso guarda-sol,
Se erguia só... nas névoas da manhã...
Sem pressas de partir, sem amanhã,
Apenas nós na areia, qual lençol,
Nos amávamos, mais e muito mais...
Nessa praia escondida pelas dunas,
Onde piratas mil escondem fortunas,
Encobertos p'lo verde dos pinhais,
Fomos cristais de areia, em comunhão
E o mar chorou feliz nossa união!...
Gil Saraiva
"A QUEDA DE ÁGUA"
A queda de água, bela de frescura,
Desce suavemente pelos fetos,
Raízes, rochas, musgos e abetos,
Qual cascata de vida e de natura...
É Monserrate, exótica verdura,
Jardins mais que perfeitos de completos,
Quase uma selva pronta, para que afetos
Por nós sejam vividos com loucura...
Vem, meu amor, molhar na água fria
Da cascata, que desce a negra rocha,
Teus pés, à luz da noite ou de uma tocha,
Pra chegar... vermos... juntos... novo dia...
Que a queda de água, assim tão cristalina,
Do nosso amor é seiva clandestina...
Gil Saraiva
II
"FLOR DA PELE"
Sentir, à flor da pele, o verbo amar,
Amar, de corpo e alma, com furor...
Sentir, vibrar, viver e pressupor
Que o ser humano tem num só olhar:
A força e a vontade de lutar,
A garra e o poder de sobrepor
A tudo e todos a palavra amor,
Por mais que essa palavra vá custar!...
Sentir, à flor da pele, toda uma vida,
No prazer divinal de um só orgasmo...
Viver de gosto, em pleno entusiasmo,
Amar sem fronteiras, foragida...
Assim sempre tu és... e, apaixonada
Amas-me à flor da pele... da pele suada!...
Gil Saraiva
I
"AZENHAS DO MAR"
Caindo a noite sobre o promontório
Brilham as luzes entre o casario
E vê-se o branco, com um ar de frio,
Desenhar a falésia... promissório
O mar, em baixo, já grita, ilusório,
Ondas de espuma plenas de arrepio...
Nas Azenhas do Mar, o desafio
É manter hirto e firme o território...
No escuro, as rochas são um sacrilégio,
Penhascos negros segurando as casas,
Que parecem suspensas ou ter asas,
Mas tornando real o sortilégio...
E aqui, na terra feita encantamento,
Oiço o mar que me chama... num lamento...
Gil Saraiva
Dedicatória:
Este livro é inteiramente dedicado a uma região, uma Vila, uma Serra e um Mar que durante 6 anos me deixou rendido pelos sentimentos que me impôs na alma. Nem todos os sonetos aqui incluídos, talvez nem a maioria, falam de Sintra, pois que é a ela que me refiro, mas foram escritos nesse tempo, imbuídos desse espírito, dessa nova forma de sentir e ver o mundo que, por entre a bruma, ali descobri. Mais do que os amores então vividos, espero conseguir transmitir e retratar as memórias de um ego rendido a uma nova forma de ser, estar, ver e amar. A ti Sintra, porque te amo.
Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 2001 e 2007.