XXVIII
"LILÁS"
Cor mais linda, pintura de açucenas,
Ali, na noite escura, és recordar
Na boca sensual que quer amar...
Uma voz rouca... só... sorrindo apenas...
Imagens simples, férteis e pequenas,
Mas tudo traduzido em um olhar...
Frenética loucura de um gostar
Jamais um mar será de águas amenas...
Um rio de cor, reflexos de sentir,
Um só lençol de seiva, uma choupana,
Que pode um coração fazer explodir
Ao som de um samba sob a luz cigana...
Lábio que a cor mais linda faz mordaz,
És por amor, ternura, a cor lilás...
Gil Saraiva
XXVII
"D. QUIXOTE"
Um sorriso do olhar... simples, mais nada...
Fazer parar o tempo nessa hora,
Saber morrer de amores, p’la vida fora,
Apenas p’lo teu ar de apaixonada...
E, então, te ver brilhar, de alma encantada,
Nesse crepuscular que a serra adora...
Sentir-te, à luz da vela acesa, agora,
A cintilar de vida, porque amada
Te sentes hoje, pra sempre, meu amor,
Vida, que me cativa e prende enfim...
Ah! Como é bom ser teu e ter em mim
Tudo o que sou, pra dar-me em mais furor...
E se me és Dulcineia, verso, mote:
Faz, por amor, de mim teu D. Quixote!...
Gil Saraiva
XXVI
"A CHARRETE"
Sob o verde dos plátanos, trotando,
Vem a charrete, antiga em tradição,
Dar Sintra, cor, romance e emoção,
A todos os locais onde, passando,
Deixa uma marca leve para quando
A nostalgia andar pela paixão...
Chega, em tempo de amor e de ilusão,
De fortes sensações no ar pairando,
De amarelos e couros, a charrete
Que o saloio comanda com vigor,
Levando atrás a dama e o valete...
Quais Pégasos... cavalos dão torpor
Aos sonhos dessa dama e, num só trote,
Aos olhos do valete... no decote…
Gil Saraiva
XXV
"FLOR COLHIDA..."
Ter no sentir o brilho do poente,
Ter o olhar profundo, inconformado,
Que mais parece ser o resultado
Do espelho que da alma é transparente...
Ter no sorriso a luz de um branco quente,
Num cativar exclusivo, arrebatado,
Que tem de simpatia e de pecado
Tanto como de vida e de inocente...
E ser sereia e mar na Internet
Ou flor crescendo em bruto na colina...
Ter tudo, enfim, e ser adrenalina
De quem num só olhar se compromete...
Ser simples como a flor que, ao ser colhida,
Descobre quem por ela dá a vida...
Gil Saraiva
XXIV
"VERMELHA TEMPESTADE"
Querer... já diz quem sabe que é poder;
Poder... já diz quem tem que é divinal,
Divino... diz quem sente que, afinal,
Amar é mais profundo... e mais que ter
Qualquer uma outra força pra viver...
Amar... um todo é!... Fundamental...
Amar - A luz mais forte: Capital
De quem pode o caminho escolher!...
Querer... poder... viver... oh! Mas amar...
Nada é tão forte, quanta intensidade:
É como sentir vermelha tempestade
Nos invadindo a alma e o olhar;
É como ter na mão o infinito;
É querer, poder… viver, em um só grito!
Gil Saraiva
XXIII
"ALMA RUIVA"
Hoje, há noite, eu os olhos fecharei
E em minha mente asas vão nascer,
Para que aos céus me possa, enfim, erguer
Como se deles eu fosse um velho rei...
Na noite, por mulher, eu voarei
Atravessando os mares p’ra a poder ver...
Porque meu pensamento me faz ter
Prás asas: Força!... Prá vontade: Lei!...
.
E mal o oceano eu atravesse,
À Lua cheia, em lobo vou tornar,
Seguindo as suas sardas vou sarar,
Vou ver, por fim, ouvida minha prece!...
P'ra conquistar a fêmea o lobo uiva...
E eu... Homem volto a ser por alma ruiva!
Gil Saraiva
XXII
"FLOR BELA"
Florbela...! Branca pétala suave
Lhe vai cobrindo só a curta vida
Eternamente presa, esmorecida,
Tal como na gaiola morre a ave...!
E quem ao pé de si a campa cave
Há-de encontrar, na terra dolorida,
Restos de mágoa e dor incompreendida
Pois que a porta de amor perdeu a chave...
Porém... ao se espreitar, então, cuidado,
Abre à noite... à sombra... e ao pecado...
As portas do castelo da Saudade...
E nesse espelho de árida ansiedade
Uma sozinha pena... cava... arranca
Gritos da Alma e à Flor bela Espanca...
Gil Saraiva
XXI
"SERRA DA LUA"
Com o entardecer, o Sol poente
Consigo trás um sopro de mistério...
Por entre o verde, a prova de um império,
Da serra ao mar, História faz presente!...
Brotam dos montes, fontes de um latente
Hino de vida, culto, presbitério...
Ancestrais brumas, entre vento etéreo,
Ao profano dão forma de imponente...
No Alto da Vigia se acentua
A dádiva dos deuses, sem pelintra...
Se eu, um Templo de Amor, erguesse em Sintra,
Na Serra que roubou o nome à Lua,
Escolheria a forma embrumescida
De um dinossauro negro rindo à vida!...
Gil Saraiva
XX
"AMAR... COMO FLORBELA"
Amar, amar e só amar alguém;
Amar, por toda a vida, eternamente;
Amar, quem só nos ama, loucamente,
Amar, como Florbela... usar também
Por mote um de seus versos, que diz bem:
"Eu quero amar, amar, perdidamente,"
No futuro, passado, no presente,
Amar como eu nunca amei ninguém...
Amar quem nesse amor se adora e ama,
Em chamas de alegria e de calor,
Amar, por quem meu corpo arde, chama;
Chama que arde e dura por amor...
Amar, amar, amar, essa ternura,
Essa mulher que sonho ser loucura...
Gil Saraiva
XIX
"PÉROLA ORIENTAL”
Aberta a feia ostra luz se faz,
Um brilho novo nasce natural,
Nasce do feio um belo sem igual,
Estrela da manhã que a noite traz...
Tal como de uma guerra brota a paz,
Da feia ostra vem novo ideal,
Pérola, mar, segredo oriental,
Paradoxo sem Deus ou Satanás...
A oriental pérola é magia,
Símbolo de natura e perfeição,
Em si contém o brilho da paixão,
Tal como a ostra tem a bizarria...
E se a bizarra for a própria dor
É a pequena esfera o vero amor!
Gil Saraiva