XI
"O IMPOSTO"
Quem ama:
Ama!
Mas e quem quer amar?
Quem quer essa certeza e não a tem?
Quem procura encontrar um amor
E ser correspondido
Quando apenas sente
A chuva ácida do tempo
Lhe enrugando a face, sem sentir?
Como sobreviver assim...
Selvagem de sentimentos e sentidos,
Virgem de fé e sem amor?
Quem não ama...
Olha para a Lua e se sente despido
Porque não vê beleza na luz da noite...
Porque não vê!
Quem não ama, não vive,
Sobrevive apenas às penas
Que a vida lhe reserva...
Amar
É, pois, fundamental,
Mas não conta para tempo de serviço,
Não tem preço nem salário,
Não tem direito a greve
Ou baixa por doença...
Amar é um dever da alma,
Decretado pelo coração,
E apenas tem um imposto:
A felicidade!...
Gil Saraiva
X
"JAMAIS"
Sentir um amor estando ele ausente...
Olhar para quem não posso ver...
Beijar uns lábios que não sinto...
Falar contigo no presente,
Com muito amor,
Apaixonadamente,
Sem a tua presença eu poder ter:
É sonhar, sabendo eu o que perdi,
É chorar solidão, é estar sem ti...
Sonhos,
Que me escondem o sofrer
Se nunca eu, jamais,
Os for viver...
Gil Saraiva
IX
"SOSSEGO"
Pela calada da noite
Te senti
Mal sossegada...
Mais calada
Do que a noite...
Que a noite
Não está calada.
Tens o mocho,
O morcego
E outra mais bicharada...
O lince,
Que não é cego.
Predadores
Pela calada...
E eu sinto
O desassossego
Desse teu peito apertado,
Porque à vida tens apego,
Porque amas tu, sem receio,
Porque amar
É mais que um estado:
Não pode ficar a meio,
Só existe lado a lado.
Não temas, amada minha,
Que eterno é esse calor...
Futuro, não se adivinha,
Sente-se apenas amor...
Teme a calma, não a guerra.
Se a não sentires, mau sinal,
Porque alguma paz encerra
Aranhas tecendo a teia,
Em emboscada fatal...
O sossego
Não tem terra;
Treme, sim,
Sem Lua Cheia.
O sossego
É voz que berra,
Anormalmente, em segredo,
O que o coração
Receia...
O sossego
Esconde o medo,
Não tem rubor nem paixão,
Mais vale desassossego
Do que sossego
Em caixão...
Gil Saraiva
Olá, desculpem o aspeto, mas acabei de acordar. Resolvi fazer uma pequena experiência declamativa. Peço desculpa se aparecer alguma publicidade, porém, às vezes, o sapo video tem destas coisas. Se quiserem apanhar o poema deste o início não se esqueçam de verificar o som. Podem também ampliar a imagem para conseguirem ver melhor. Obrigado pela paciência.
Adivinha: Quem é Ela?
Poema declamado pelo autor.
Gil Saraiva
Nota: Um obrigado especial ao meu vizinho do 2º andar por me ter emprestado a sua web cam e o mic para a realização deste teste.
VIII
“VIAGENS”
Viagens:
Sonhar, aqui,
É correr mundo em mil viagens,
Que o sonho não limita,
Porque ao sonhar
O pensamento voa livre!
Chegar perto de tudo
Ou quase nada...
Mas, por viajar em sonhos,
O ter, o alcançar!
Se é bom ser onda azul
Em verde mar...
Ou ter na voz
O tom do violino...
Melhor será, por certo,
Viajar, rumo ao universo,
Sem destino…
Poder viajar
De um pensamento a outro,
Em absoluta liberdade,
É turismo mental, num só lugar,
É viver enquanto se puder imaginar,
São cinco estrelas de hotel,
Sem reserva,
Nem direito a pequeno-almoço…
Gil Saraiva
VII
"PARTO"
Pela noite andei...
Andei em Lisboa...
E tu...
Terra onde nasci,
Não me conheces?
Agora que voltei,
Terra onde não vivi,
Desapareces?...
Cheguei
Com o fogo talvez do Chiado,
Cheguei
Nessa noite
Ou noutra qualquer...
Não estou recordado,
Cheguei sem mulher...
E no verão parti,
Saindo daqui...
Desta cidade chamada Lisboa,
Onde já nasci...
Saí sem outono,
Que nele nasci,
Saí sem o sono,
Que nunca perdi...
Outono, Lisboa,
Meus progenitores,
Ajudai vosso filho,
Aplacando-lhe as dores...
Sorrindo-lhe à toa,
Mostrando-lhe o trilho,
A viela, a rua, travessa, avenida,
Por onde a Lua lhe dará guarida...
Já não sinto afeto,
Já daqui não sou,
À noite cheguei...
De noite me vou...
Pela noite andei,
Outono, Lisboa,
Agora que parto,
Esqueçam meu parto...
Porque parto...
Eu sei!!!...
Gil Saraiva
VI
"SORRISTE"
Fazem-me às vezes,
As crianças,
Pensar em pequenas coisas,
Se pequenas forem...
Fazem-me pensar...
E faz-me bem!
Olhando para elas
Descubro que são
O meu passado,
Reconheço que serão
O meu futuro...
São projetos
Inconcluídos de adultos...
São amostras vivas
Da pureza e da sinceridade...
São os símbolos últimos
Do que fomos
Antes de sermos
O que somos...
Ainda ontem uma criança,
Com a fina voz
Da idade dos porquês,
Me questionava:
"- Porque é que os crescidos
Têm de contar anedotas
Para poderem rir ou sorrir?"
E eu...
Olhei a pequenina
E sorri...
"- Era uma anedota
O que eu perguntei?
Era...?
Tu até sorriste..."
Gil Saraiva
V
"MÁSCARA"
Que ninguém tire
A máscara;
Que ninguém seja
O que, no fundo,
Sempre quis ser;
Que ninguém fale
Com a sinceridade
Que lhe vai na alma;
Que ninguém mostre
O que é
Na realidade;
Que ninguém revele,
Por fim,
A verdade pura;
Por favor!!!
Os nossos filhos
Não estão preparados,
Ninguém está!...
Gil Saraiva
IV
"SENTIR SÓ"
Na aldeia global
Entrei um dia
Procurando por ninguém...
Nas redes saltei,
Com nostalgia,
Parando por um simples também...
Ah!
Foi instinto
Que me fez falar
Contigo entre milhões...
Não sei se foi destino
Ou se persinto
Quando há alguém
Mais pra além...
Sei que te conheci...
Sei que gostei...
Mas o que eu vi...
Nem mesmo sei...
O tempo não parou
E foi passando...
Mas o elo ficou
Um dia e outro...
E quando me interrogo,
Perguntando
O porquê de manter
Tal ligação...?
Não encontro resposta...
Apenas sinto no pulso
Latejar a pulsação...
Pode o mundo rodar
Mais cem mil vezes...
Na internet entrarei,
Talvez não tantas,
Mas, enquanto girar
Meu pensamento,
Jamais esquecerei
Aquele momento
Em que encontrei alguém,
Sem saber quem,
Por entre multidões,
Entre milhões...
Posso no mundo ser
Um grão de pó...
Na aldeia global
Serei ninguém,
Mas sei que entre milhões
Existe alguém...
Não mais poderei eu
Me sentir só!
Gil Saraiva
III
"PARADOXO"
O paradoxo
Nasce com o pensamento...
O pensamento
Alimenta-se da sociedade...
A sociedade
Gera a segurança...
A segurança
É a raiz do condicionalismo...
O condicionalismo
Corta a liberdade...
A liberdade
Diferencia o Homem...
O Homem
Origina o pensamento...
O pensamento
Cria o paradoxo!...
Gil Saraiva