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XI
"OBSTÁCULOS..."
No fumo de um cigarro
A forma breve
Do sorrir antes juvenil
Da minha filha,
Traduz de uma só vez
Minha saudade...
E um grito louco
Me sai da garganta
Sedenta de palavras de carinho!
Na falta do meu filho
Aumenta a dor...
Sempre que o frio me aperta
Aperta a alma...
Sinto o frio da saudade
E já carente
Penso não mais poder continuar...
Será destino meu
A solidão?...
Será castigo?
Já não posso mais!
Quero ganhar à vida
Para sempre...
Poder viver feliz
Assim que queira
Ou acabar num esgoto
De ribeira!...
Problemas da minha alma
E do viver,
Das voltas que a vida me deu
Sem eu o querer…
Obstáculos de mim e do que sou…
Gil Saraiva
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X
"MEDITANDO"
Brada o pincel, contra
A tela, irado
Pelo fervor frenético
Que a mão
(Veículo último
Da inspiração de um homem),
Lhe imprime
De forma apocalíptica...
Banhado de cor
Grita as imagens
Da mente,
Que gere seu movimento,
Na tela
Antes crua de sentir...
Escorrega
Entre materiais anacrónicos
Que, pelo génio conjugados,
São vassalos da dor,
Da euforia,
São sinónimos da mão
De um criador...
Grita,
Brada,
Mas não chora,
Medita apenas...
Medita nos estros,
No âmago e no ser,
Procura a essência
“Cromográfica” das formas.
Dos conteúdos,
Dos Sentidos…
Procura, como quem,
Meditando no estado da alma, da vida,
Da chegada e partida
De sentimentos e emoções,
Espera encontrar a pura
Adrenalina do ego e dos corações,
Por entre arritmias saudáveis,
Entre o querer e o crer,
O ter e o desejar,
O Amor e o amar…
Meditando,
Enquanto o pincel brada,
Mas não chora,
Enquanto o pulso mostra o relógio,
Que vai marcando a hora.
Por onde andas meu amor?
Questiono eu, sem ti, ali, ainda
Meditando…
Gil Saraiva
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IX
"ESPELHO, ALHEIO"
Foi hoje?
Ontem?
Amanhã?...
Foi ou será?
Possivelmente,
Foi um dia!...
No tempo perdido...
Foi...
Quando eu procurava saber
Para que vivia...?
Por querer descobrir
Quem sou...?!
E para onde segue
O meu caminho...!?
Foi por mim, por nós, por ti,
Que a vida ofereci
À sorte ou ao destino...?
Foi por querer ou
Por querer amar
E ser amado
Que eu tentei uma vez mais...?
Foi hoje,
Ontem,
Amanhã...?
Foi antes de o ser,
De nascer
Ou renascer...?
Foi absolutamente
Por saber
Que tu existes!
Por sentir
Que te amo mesmo se partiste!
Por tanto te querer
Mesmo se a mim resistes,
Porque imaginas que um dia
Possam ficar tristes
Os teus olhos que hoje
Brilham por amor...
Foi certamente
Um novo pensamento,
Tão novo
Que a alma
Mal o descobriu,
Que o estro
Apenas o sentiu,
Que a vida
Não soube que o pariu,
Que o coração
Por pouco não partiu,
Que o espelho, alheio,
Não o refletiu!
Gil Saraiva
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VIII
"ENTRE IGUAIS"
Nada do que eu sou,
Ou fui,
Ou era,
Será o que serei
Daqui para a frente.
Não sei como não vi?...
É evidente!!!
Tudo o que eu fizer
Será diferente!...
Como aquilo que eu fiz
Não teve igual.
Simples,
Não sei como não vi,
É natural.
Apenas sou
Um ser diferente,
Diferente entre iguais...
Cheio de ideais...
Assim sou eu
E toda a gente...
A toda a hora um ser
Sempre diferente,
Especial,
Que pensa,
Em cada instante,
Ser diferente,
Mas que a todo o tempo
É igual!...
Gil Saraiva
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VII
"NÉCTAR"
O Néctar dos Deuses,
Um tal de hidromel,
Pode ser divino,
Digno de tão elevados seres,
Mas não tem o sabor
Do nosso amor...
Não sabe a vida e a eternidade,
Não tem a plenitude
Num mero segundo,
Não nos faz sentir que existimos
Porque precisamos de viver
Para poder tocar o infinito
No espaço estrito
De um simples olhar...
O Néctar dos Deuses
Pode ser divino,
Pode ser perfeito,
Pode ser puro,
Pode ser cristalino,
Pode ser indescritível,
Mas não é absoluto
Como nós...
Somos um ser total
Em construção,
Estamos para além
Dos sentidos
E dos sentimentos,
Somos o futuro,
A esperança e a alegria
Das nossas próprias almas...
O Néctar dos Deuses
Pode ser divino,
Mas não tem a graça
Do teu sorriso,
O perfume do teu ser,
A alma desse corpo
Onde me perco de mim,
Para despertar num tal de nós...
Se és a flor oculta
Deste meu existir,
Até aqui perdido,
Eu mais nada quero ser
Do que a terra
Onde cada uma das tuas raízes
E todas elas
Se alimentam até à eternidade...
Até à eternidade
Numa sede sem fim
E que por convenção
Chamamos de amor!...
Eu te amo!
O Néctar dos Deuses
Afinal não é importante...
Gil Saraiva
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VI
"COMPLETO..."
A saudade
De quem aprende
Por quem ensina
Apenas é possível
Se aquele que ensina
O tiver feito na perfeição,
Aos olhos,
De quem é ensinado;
Mesmo que a verdade
Seja outra!...
A saudade
De quem se ama
Por quem ama
Apenas existe
Se o sentimento for perfeito,
Cristalino, vivo
E vindo bem do fundo da alma
E dos sentidos;
Mesmo que o sentir
Seja nublado!...
A saudade
Não mata...
Alimenta a eterna chama
De um futuro...
Mesmo que o futuro
Não exista!...
A saudade
Nada mais é que a consciência
Que num dado momento
Estamos incompletos...
E eu...
Eu estou tão longe de,
Por fim,
Me completar de vez...
Mesmo que me julgue
Completo!...
Gil Saraiva
![Palavras.jpg Palavras.jpg]()
V
"PALAVRAS"
Pensemos
Em tudo o que nos constitui,
Em qualquer universo
De existir...
Aqui!
Neste mundo em que vivemos,
Enquanto seres
Que se desenvolvem
Pela comunicação das partes com o todo...
Na nossa realidade,
De humanos que se movem
Pelas relações entre eles
E o próprio meio...
Aqui,
Onde aquilo que mais depressa
Se devora, consome
Ou se assimila e que,
Por outro lado,
Mais produz, cria
Ou desenvolve é,
Com inequívoca certeza,
A Palavra.
Esse conjunto de letras certas,
Absolutas ou relativizadas,
E não um qualquer paleio
Ou palavreado em abstrato...
Não se trata
De uma simples conversa
Sem sentido
Ou mera circunstância...
Não!
Importa sim
O do ato criativo
Que nos ajuda a pensar e progredir...
Importa realmente a expressão última
Que nos torna comunicativos,
Únicos e humanos:
A Palavra.
Em suma
Nada é tão apelativo
Como uma boa meia dúzia
De doces palavras...
Ditas no momento correto,
Na altura exata, à pessoa certa!
É imenso o valor dessa
Palavra!...
Tudo se constrói pela linguagem!
Tudo se pensa pela soma
De palavras
Em continuo turbilhão...
Tudo se vive e vibra nas
Palavras...
Ficção ou realidade;
Sonho ou existir;
Ser ou Não Ser;
Meu Deus...
Palavras!
A tentação última dos poetas:
Sobreviver depois do Ser!
E renascer
Nas páginas que deixam
Para a eternidade...
Somatórios de letras,
Que lhes darão vida,
Após a morte:
Palavras!
Gil Saraiva
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IV
“ORAÇÃO”
(REZAR, AMAR, MATAR...)
OH! Deuses do Mundo Antigo,
Ancestrais Protetores do Homem,
Escutai a Oração do Bom Destino
Fazendo de mim um vosso amigo.
Antes que forças do mal me tomem,
Antes que eu entre em desatino,
Antes que em corpo de homem
Vire menino.
Ó Elementais Deuses do Planeta,
A Vós eu peço proteção e amparo,
À Terra que me dê raízes,
Eu peço a força do Cometa,
A precisão robusta do disparo,
O saber, que vem de Vós, juízes.
Da Água, quero a força do mais forte,
Do Fogo, a ousadia e a coragem.
Ao sopro, ao vento, ao Ar,
Suplico, enfim, por ter um Norte
Nesta vida que vivo de passagem
E onde apenas quero eu rezar.
Pedir, pelo direito de poder amar.
A Vós Elementais Deuses deste mundo,
Eu rezo pelo justo direito que à Paz
Temos todos nós, bem lá no fundo.
Se Vós quiserdes eu serei capaz,
De cumprir sortilégios num segundo,
Protegei-me dos males que vida traz,
HIV, Gripe das Aves ou Antraz…
Não quero eu maus olhados ou inveja,
Que busco por fortuna e bem-estar,
Que a vela vermelha me proteja,
Que depois de rezar eu possa amar.
Ah! Deuses, que meu sangue vire a cera,
Que arde no Vosso Divino Altar,
Sete pedras de sal e me façam forte,
Que roxa vela me ajude a superar
Dores, sofrimentos e má sorte
No meu duro caminho, nesta vida,
Procurando, firme e protegido, de vencida
Poder vencer o mal, vencer a morte!
Pela fragrância do cravo
Venha um futuro
De propriedade, riso, excitação,
Que a citronela acidifique o muro
De qualquer queixa, dor,
Lamentação.
A Vós, Elementais Deus das Verdades,
Eu rogo contra o negativo não,
Que o aroma a ópio traga claridades,
Mantendo feliz e hirto, em qualquer chão,
O meu ser, orando por matar saudades,
Ao implorar, rezar, amar, nesta oração.
Líder de mim, a alma satisfeita,
Se entrega ao mais alto Orixá,
Enquanto meu corpo se deleita,
Com Vossa Divina ajuda de oxalá.
Para que assim seja, porque assim será!
Gil Saraiva
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III
"O FAROL"
Rasgando a escuridão da noite
O farol
Dá vida às negras trevas...
Anónimo de coisas e pessoas
É estátua velha,
Acesa e nunca realmente vista
Nas memórias
De quem por ali passa...
É indiferente a todos nós...
Está lá!
Cumpre o seu destino!
Porquê louvar?
Rude de calor já não atrai...
Distante fogo
Onde restou a luz que,
Enquanto dura a escuridão,
Não mais se apaga...
"- A Ocidente nada de novo!"
Parece dizer continuamente.
Porém,
Quando uma noite
O farol fechar os olhos...
Deixar de brilhar na tempestade
Ninguém mais, dele, se irá esquecer...
Que a memória é marcada a aço
Qual tatuagem de ferro e fogo,
Quando a desgraça
Nos afunda o Ser...
Gil Saraiva
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II
"TRANSCENDENTE"
Eu sou
Como a tempestade tropical,
Apareço
Vindo dos confins do universo,
Fulminante,
Devastador,
Impondo meu ritmo
A cada grão de areia,
Mas cedo me vou
De novo embora,
Seguindo sem rumo
A ilusão perpétua do futuro...
Não se pode querer
O que não se agarra...
Mas até eu sonho com dias
Que não se encontram
No quotidiano de meu existir...
Sonho com noites
Sem teclas de internet,
Com noites viciadas
Em toques de êxtase,
Fundido ao transcendente
Pelo amor...
Gil Saraiva