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XXXIV
“BATOTA”
É noite. Está um céu sombrio, escuro,
Nesta montanha verde, sem luar,
São trevas escondendo aquele solar
Que espreita por detrás de um grande muro.
É escuridão ocultando o futuro
Na recolhida terra, que invulgar
É desespero que me faz chorar
Porque o amor perdi, tão prematuro.
Eu choro, o tempo pelos dois vivido,
Em lágrimas noturnas, infernais,
Por ver, assim, o meu amor perdido,
Quem sabe… assim, talvez, p’ra nunca mais…
Isto de ser mulher não é derrota,
Derrotada serei, se houver batota.
Ariana Telles
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XXXIII
“O MEU AMOR”
O desespero, que em minha alma mora,
Provém de já saber eu vou partir,
Provém do meu chorar por ir sair
P’ra longe desse amor que me devora.
A louca solidão em mim demora,
Fruto é de eu não mais te ir ver sorrir,
Provém, meu bem, de não poder fugir
A este amor que sinto a toda a hora.
Mas esta dor, que fere meu coração,
Provém de me dizeres que sou passado,
Mais uma de quem mal tu estás lembrado,
E mesmo assim te dou o meu perdão.
A solidão, o desespero e a dor
Jamais superarão o meu amor!
Ariana Telles
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XXXII
"A MÁQUINA”
Na máquina, batendo ritmadas
As teclas, no papel, ali gravavam
Letras que, entre si, se conjugavam
Em frases nunca mesmo imaginadas.
Marcavam, escrevendo compassadas,
Articulando vidas que criavam,
Aos pares, esses amores que entrelaçavam
Correntes firmes, vivas, desejadas.
Máquina de escrever, velha tirana,
Este meu ser, por ele apaixonado,
Fica, por ti, ali, assim gravado
Como se de mim fosses soberana.
Não és computador, nem tens memória,
Para de registar a triste história!
Ariana telles
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(Tribunal do Comércio, fresco do Palácio da Justiça, Porto, Mestre Isolino Vaz)
"JUSTIÇA VÃ"
História do direito português,
Direitos deste povo lusitano,
Saber como fugir a um engano
Ou como castigar outro que o fez.
Salvar a honra nobre de um Marquês,
Legalizar os horror’s de um tirano,
Limpar milhar’s de mortes com um pano
Bandeira Nacional da invalidez.
E legislar somente o que dá jeito,
Matar a juventude num quartel,
Pois assim manda um xis ministro “eleito”,
Por ter tido má noite no bordel.
É este, ainda hoje, o tal direito?
Justiça vã, palavras de papel!
Ariana Telles
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XXX
"A DISCOTECA"
Ali, a música enche-me os ouvidos,
Esta bebida sobe-me à cabeça
E as lâmpadas piscando tão depressa,
Por entre sombras, cores e ruídos,
Acabam confundindo os meus sentidos
Na escuridão que vai e que regressa.
Era assim, já faz tempo, qual promessa,
Entre suspiros, gritos e gemidos,
Parte do divertir, das alegrias,
Desse meu tempo antigo de selvagem,
Do meu mulher-menina de passagem
Para a mulher adulta… sem fobias.
A discoteca está, hoje, fechada
Como eu, p’la pandemia, confinada.
Ariana Telles
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XXIX
"LUARES"
Foi-se na escura noite a Lua ausente
E oculta se tornou a Lua Nova,
Mas não tardou que, sendo posta à prova,
Nascesse, enfim... um já Quarto Crescente...
E veio a Lua Cheia, envolvente,
Mostrar em toda a luz que, numa trova,
Pode fazer brilhar canal ou cova,
Por mais funda, sinistra ou deprimente
Que, à partida, essa mesma se adiante...
Mas. e porque o auge vai, tal como veio,
Já mirrando, chorou Quarto Minguante
Pois que a Lua é como um materno seio,
Pelos séculos, berço de milhares
Que, à força de viver, sonham luares...
Ariana Telles
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XXVIII
"PRATO TEU"
Olhas p’ra mim com ar de quem tem fome
De vida, de existir, de gozo enfim…
Olhas, com louca garra, um frenesim,
Como quem um repasto doce come.
E mais ninguém existe que me tome
Por churrasco ou almoço de jardim,
Com essa ânsia de me comer, a mim,
Numa vontade imensa que não some
Numa repetição que não se farta,
Que não se cansa nunca de me ter,
De me chamar de sua e em mim viver
Nessa glória de quem jamais se aparta.
Não me importo eu de ser o prato teu
Se esse teu coração for todo meu!
Ariana Telles
![Gota de Água.jpg Gota de Água.jpg]()
XXVII
"GOTA DE ÁGUA"
Amor que pela dor é mais amor.
Amor pela distância incendiado.
Amor louco, servil, escravizado!
A dor doce e ardente, qual licor
Me queimando os meus lábios de pudor,
Me dilatando o ventre delicado.
Amor que pela dor é meu reinado
Naquele homem, com garras de condor,
Que Apolo é, para mim, em meu poema!
Um homem sensual, voluptuoso...
Só ele é, a meus olhos, virtuoso,
Por ele nasce, em mim, a dor suprema!
Oh! Mas que importa a minha imensa mágoa,
Se é dor, que por amor, é gota de água.
Ariana Telles
![Gota a Gota.jpg Gota a Gota.jpg]()
XXVI
"GOTA A GOTA"
E gota a gota... e pingo a pingo... chove,
Além... se molha a gente que caminha,
E embora sob um teto, aqui... sozinha,
A chuva que em mim cai não me comove…
Vem gota a gota... uma... duas... nove...
E mais... vem sempre mais... ribeirazinha,
Cair dentro de mim, espinha a espinha,
E picada a picada a dor me envolve...
E nesta tua ausência me assassino,
Nas cordas de uma música, em tortura,
Efetuada ao som de um violino,
Que Lucifer maneja com loucura!
Chovem em mim as farpas da saudade
E gota a gota perco a identidade...
Ariana Telles
![Deus.jpg Deus.jpg]()
XXV
"DEUS"
Deus, eterna razão, razão perfeita,
O Criador do Mundo e do Ser Vivo,
Não tem nosso feitio intempestivo,
Nem cria obras de raiz suspeita!
Mecânico, a que a vida se sujeita,
O Seu próprio princípio é inventivo:
Agir pela justiça, haver motivo
P'ra crença, fé e um credo que se aceita.
Deus, que não tem princípio nem tem fim,
Que nos deu memória em prosa e verso,
Não pode permitir o fim do Hino
Da Obra Prima em mundo controverso:
"- Deus, Pai, Senhor Supremo, Paladino,
Ajuda-nos a sermos Universo!"
Ariana Telles