Livro de Poesia - Ântumos Implexos dos Airados: O Escorpião - XIII
XIII
“O ESCORPIÃO”
“O escorpião é dor, é digno de medo, de respeito, de terror.
O escorpião é sorte, é signo de quem com a morte a seu favor,
Nasce sob a sua proteção, cheio de vida, de encanto de amor,
Porque o restante já lhe ocupa o coração.”
Posso eu ser um escorpião, porém, não me revejo nas palavras,
Anteriormente escritas nestes versos e que, a meu ver,
Não passam da ideia generalizada de que o animal é um ser do mal.
Não! Não me revejo eu na citação da primeira estrofe, não sou eu,
Não me reflete, não pode falar de mim, não acredito que seja pessoal.
É como afirmar que os meus amigos são como os meus cigarros e que,
Embora andem sempre comigo, no fundo, só me fazem mal.
Mas fazem mal porquê? Se meus amigos são só fazem bem.
Tudo o resto são premissas falsas, Axiomas sem sentido,
Verdade ou fundamento. Banalidades ditas pelo povo,
Habituado a sacudir a água do capote
Das suas próprias culpas e defeitos.
Eu sou escorpião, afirma comprovadamente
A astrologia. Nascido em novembro, dia seis,
No centro do signo, a meio do dia,
Todavia, não quero a morte a meu favor,
Mas sim a vida, o sorriso, a alegria,
Nem sou sadomasoquista para da dor
Tirar qualquer prazer, que não a tétrica agonia,
Que rejeito como forma do meu ser.
Diz o meu signo que a sensualidade,
O sexo e o amor, são predominantes,
Que gosto de rumar contra a maré,
Que sou solidário, sensível e extrovertido.
Pode ser que sim, mas cada um é o que é
E eu sou somente aquilo que sou
E nada mais do que o que fui e que serei.
Tudo o resto pode vender revistas de cordel,
Mas nada tem a ver com o meu papel
Neste mundo onde vivo e onde existo como ser.
Reconheço que, todavia, não gosto de seguir
A carneirada, talvez por ser escorpião.
Eu sou aquilo que sou (desculpem) e mais nada!
Gil Saraiva