Livro de Poesia - Crença em um Fanal na Chona Lôbrega: Não Leias Estes Versos - II
II
"NÃO LEIAS"
Não leias estes versos, meu amor!
Estes que são para ti,
Não deves ler.
Foram escritos no fervor,
No que senti,
De todas as vezes que te pude ver.
Não, leias estes versos, minha amada!
Tu nem sabes que existo,
Que te adoro.
Eu sigo cabisbaixo a tua estrada,
Sem me apresentar, sem um olá,
E quando tu me olhas, sem me ver,
No regresso a casa, apenas choro,
Pois que para ti nem sequer estou lá.
Não leias estes versos, minha querida,
Eles falam de carinho e sentimento,
De como te daria a minha vida,
De como não me vês,
De como é amargo o sofrimento.
Não leias estes versos que te faço,
São lágrimas de orvalho
Antes da aurora,
Palavras de amor, um enxovalho,
De quem, só por te olhar,
Apenas cora…
Não leias os meus versos, ó mulher,
Tu que brilhas cintilante e bela,
Na noite de breu,
Haja o que houver,
Com o reluzir próprio de uma estrela,
Sem saberes sequer
Quem sou eu…
Mas se um dia leres os meus versos,
Escritos, por este amor que desconheces,
Mesmo que te pareçam controversos,
Jamais saberás como os mereces,
Pois sendo para ti,
Teu nome, omitem,
Escondendo bem fundo a tua imagem.
Lerás apenas aquilo que transmitem,
Sem saberes
Que tu
És a mensagem…
Não leias os meus versos, meu amor,
Eles que são para ti,
Não deves ler!
Gil Saraiva