Livro de Poesia - Desvarios em Sol-Posto - Direito à Vida - XII
XII
“DIREITO À VIDA”
Dizem que temos nós
Direito à vida.
Dizem
Que vem na lei,
Que tem de ser.
Dizem
Que ninguém pode
Dela ser privado,
Salvo se crime houver
E, sem saída,
Se age
Por mais meios
Não haver…
Uns dizem
Que é direito assegurado,
Que assim
Se constrói democracia…
Outros dizem
Que tirá-la
É pecado,
Sentença capital
Da agonia,
Condenando,
Até ao fogo eterno,
As almas pecadoras,
Ao Inferno.
Mas o que dizer de quem
Aplica um memorando,
Que pelo eleito poder
Se torna lei,
Levando o povo ao suicídio
Ou à pobreza,
Por não ter
Como cumprir
Um tal comando
Imposto por Governo,
Armado em Rei,
Num confisco
Que torna o Povo em presa...?
Dizer que são culpados!
Porque não?
Dizer
E condená-los a prisão!
Homicídio involuntário
De gente sem saída,
Gente
Que se mata,
Só por desespero,
Gente fraca,
Sem sorte,
Empobrecida,
Que não sabe de roubo
Ou contrabando,
Que grita dor
E fome pelo exagero
Do saque
Em favor do memorando….
Dizem
Que temos nós direito à vida.
Dizem
Que vem na lei,
Que tem de ser.
Quem julga os assassinos
De tanta gente?
Quem julga um Estado
Destes tão demente?
Mensagem que me conforte
Só da mão de um cauteleiro,
Que vende fortuna e sorte
A quem a comprar,
Certeiro.
Não culpes o mensageiro,
Que mensagem não escreveu,
Se não gostas,
Vê primeiro
Quem foi…
Quem a remeteu.
Se vier numa garrafa
Uma mensagem assim,
Cheira a mofo e não se safa,
De já não falar de mim,
Nem daqueles que pereceram
Pelo confisco ou pelo suicídio
Em desespero…
Gil Saraiva
Nota: Poemas dos tempos idos da Troika em Portugal.