Livro de Poesia - Estrigas do Dilúculo dos Lamentos: Pescador - XXII
XXII
"PESCADOR"
Ele que lutou p'la vida em seu batel,
Pescando bacalhau nos mares do Norte,
Nessas águas repletas só de fel,
Cabeça erguida ao mar, possante, forte,
Morreu, como soldado de papel,
Na guerra; o pescador de rude porte...
E em Salvador, Polónia ou Israel
Nasceu repleto o dia para a morte...
E em palavras finais de moribundo
Com desprezo p'la vida que levou,
Como uma despedida deste mundo,
Mesmo antes de morrer ele falou:
- Eu, que por cá venci os elementos,
Morro, p’las mãos dos homens, em tormentos!
Gil Saraiva