Livro de Poesia - Estrigas do Dilúculo dos Lamentos: Escuridão - XXXV
XXXV
"ESCURIDÃO"
Nesta cama, num livro, à cabeceira
Um voador inseto está sozinho,
A mosca cheira a bolo, a merda, a vinho,
Mas a pobre não sabe àquil' que cheira...
E no silêncio desta companheira,
A noite vai passando de mansinho...
E o seu corpo por mim, devagarinho,
Vai-me envolvendo em sua ratoeira...
Já não durmo esta noite, ó noite calma!
Me invadindo a tristeza ganha alma
E me envolvendo faz, de mim, seu berço.
E já não sou o ser que eu conhecia:
Na escuridão me sinto em pleno verso,
Que o verso, em escuridão, traduz meu dia!
Gil Saraiva