Livro de Poesia - O Donaire do Proterótipo Ordinário: Balada da Crise Instalada - X
X
"BALADA DA CRISE INSTALADA"
(Cantar com a música d’ “Ó rama, ó que linda rama” de Vitorino)
Por nós a crise passou,
Depois foi a recessão,
Veio a Troika e repressão,
Que a muitos o pão roubou…
Pedem solidariedade,
Que já esqueçamos o Passos,
Criam programas e laços,
Calam vozes e a verdade!
Vem falar de sacrifícios,
Um sujeito bem sinistro,
E nos dizem que é ministro,
Rói-nos ossos, rouba ofícios.
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Quando é que ele rebenta,
As águas, ah, desse parto,
Porque está ficando farto
Da sebenta bolorenta.
Vai crescendo o capital,
Rei José fica sem sorte
E na prisão perde o porte
Com acusação fatal.
Fico do lado da morte,
Eu que sofro pela vida
Nem tanga trago vestida,
Ele é corte atrás de corte.
Lei das rendas, chegou Cristas,
Roubou-me o teto a sorrir
E anunciam que hão de vir
Uns diabos socialistas.
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Quando é que ele rebenta,
As águas, ah, desse parto,
Porque está ficando farto
Da sebenta bolorenta.
Chega Costa, de viagem,
Vem matar a austeridade,
Prometendo honestidade
Traz Cabrita na bagagem.
Por fim chega a geringonça,
Baralhada, um pouco lerda,
Que o socialismo de esquerda
Tem muito amigo da onça.
Arde assada muita gente
E às dezenas nos compêndios,
Em Pedrogão dos incêndios,
O fogo ganha contente.
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Quando é que ele rebenta,
As águas, ah, desse parto,
Porque está ficando farto
Da sebenta bolorenta.
Morre Igor, aeroporto,
Por SEF sem compaixão,
Instala-se a confusão,
Quando um vivo vira morto.
Entre tristeza e loucura,
No meio de gente cega,
Um novo partido, Chega,
Anunciando Ventura.
E a direita radical
Promete cortar a eito,
Sem saber o que é respeito,
Pedófilo, genital.
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Quando é que ele rebenta,
As águas, ah, desse parto,
Porque está ficando farto
Da sebenta bolorenta.
Finalmente se alivia,
A vidinha portuguesa,
Mas logo para tristeza.
Eis que vem a pandemia.
E aqui, na capital,
Na carteira, sinto o corte,
Mais um português sem sorte,
A sofrer com Portugal!
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Gil Saraiva
Nota: Letra para a Banda de bairro “Ecos da Cidade” (últimos 20 anos).