Livro de Poesia - Plectros de um Egrégio Tetro Umbrático: Vento - I
I
"VENTO"
Sopra mais forte o vento
Nesta noite,
Vem assobiando melodias
Que nem sempre conheço.
Sopra sempre assim
Na minha alma
Desde que a pandemia
Começou,
Desde que a nostalgia
Se instalou…
Sussurra-me aos ouvidos:
“- Desespero…”
Procuro entender o nobre vento,
Busco a verdade
Na bruma do quotidiano,
No etéreo da internet,
Vestido de névoa,
Por um desconhecido caminho de neblina.
Busco a verdade
Na palavra segredada
E descubro-a vestida de medo
Bordado de infinito.
Não quer o pobre vento a eternidade…
Está cansado da amarga história,
Amiga de tudo o que fim nunca mais tem!
Às vezes penteia as árvores
E despenteia a gente,
Que no seu caminho se atravessa.
Volta a falar comigo o vento norte,
Sibilando os esses e os zês
Numa pronúncia soprada
Por entre a neblina,
A névoa, a bruma:
“- Se… se pudesse ser assim como tu és…
Seria o mais feliz dos elementos,
Porque tu, humano, tens um dom:
Sabes que um dia,
Ao bater das horas incertas,
Morres para sempre!
Já eu…
Posso descansar na duna
De um deserto,
Ser brisa amena,
Tornado
Ou tufão na tempestade,
Cósmico no espaço,
Sopro solar,
Em quente movimento,
Ou mera aragem,
Mas venha a peste negra,
A gripe espanhola
Ou esta pandemia,
Continuarei soprando segredos
Sem mensagem.”
Gil Saraiva