Livro de Poesia - Sintagmas da Procela e do Libambo: Bagdad - IV
IV
"BAGDAD"
Bagdad,
Terra das Mil e Uma Noites,
Das Mil e Uma Mortes,
Dos Mil e Um Pesadelos,
Das Mil e Uma Armas de Destruição Massiva,
Das Mil e Uma Crianças Que Imploram:
- Mãe ... oh mãe, mãe!?
Onde estás, mãe...
Mãe... oh mãe, mãe!?
É no regaço coberto pela burca
Que se escondem os olhos de mágoa,
Os rostos de dor,
O sofrer no silêncio
De quem perde os filhos
Para uma eternidade sem preço...
- Mãe ... oh mãe, mãe!?
Onde estás, mãe...
Mãe... oh mãe, mãe!?
Já vai longo o tempo em Bagdad,
Dia a dia
É sempre assim
Dia a dia,
Sempre e sempre,
Dia a dia, Mãe a Mãe...
- Mãe ... oh mãe, mãe!?
Onde estás, mãe...
Mãe... oh mãe, mãe!?
Bagdad podia ser Alepo, El Salvador, Dili, Sarajevo,
Fronteira turca de refugiados sem Grécia, Itália,
Europa ou direito à paz,
À vida, à existência,
À dignidade de se ser humano.
Quando irão viver,
Num mundo de esperança,
As crianças tristes da Terra das Mil e Uma Noites?
Quando será deles a era dos sorrisos?
Ninguém escapa,
Ninguém pode fugir...
Mas quantos ficarão nos escombros sombrios,
Nos destroços da guerra?
- Mãe ... oh mãe, mãe!?
Onde estás, mãe...
Mãe... oh mãe, mãe!?
Até quando deixará a Terra
Que as Mil e Uma Noites
Sejam pesadelos de mãe
Por entre burcas,
Num grito aflito que ecoa pelo universo:
- Mãe... oh mãe, mãe!...
Bagdad,
Terra sem mãe!
Gil Saraiva