Em 1984, na cidade de Coimbra, sob a capa e a batina de um curso de direito, publiquei, através da Gráfica de Coimbra, o livro de poesia “Quimeras de Quimera” – “Sonetos”, numa altura, com 22 anos de idade, em que ainda sonhava com um novo e maravilhoso mundo, aquando dos festejos de Carnaval, que antecipavam os 10 anos do 25 de abril. Esta nova versão, revista e ilustrada, visa fazer homenagem ao homem que ainda sou e que continua a sonhar com o mesmo mundo.
A escolha do nome do livro, para além de fazer um rebuscado trocadilho com o diminutivo do meu primeiro nome (Quim de Joaquim), em que Quimera se dividia num tolo “Quim era…”, tinha outras motivações mais assertivas. Em primeiro lugar, o antagonismo dos diferentes significados da palavra, que se usa para nos referirmos a sonhos impossíveis de alcançar, num dado texto, como nos retrata um monstruoso animal mitológico se nos voltarmos para a antiguidade clássica.
Sendo mais específico, no que à Mitologia Greco-Romana diz respeito, Quimera foi um monstro de natureza divina, nascido da união de Tífon e de Equidna. Segundo Homero, Quimera tinha um aspeto terrível. O bicho conjugava a mistura de um leão, pela frente, uma cauda que mais parecia a cabeça de uma serpente, seguida por uma secção do tronco e, por fim, uma cabra identificada no meio do corpo e nas patas traseiras. Outros doutos estudiosos na antiguidade davam-lhe formas parecidas, em que a cabeça dos 3 animais se tornava evidente no monstro. Contudo, o importante é que todos a apresentavam como uma horrível besta que lançava chamas pelas diferentes bocas, enfim, uma Quimera assustadora e terrível. O animal teve alguns irmãos igualmente famosos na época, a saber: Cérbero, Hidra, Esfinge e o inesquecível Leão de Nemeia.
A besta acabaria por morrer ao lutar com um dos grandes heróis da Antiguidade Clássica, o nobre Belerofonte. Um herói que já vencera, noutras batalhas, os Sólimos e as Amazonas, sempre com a ajuda preciosa do animal mais célebre daqueles tempos, Pégaso, um cavalo alado, amado pelas Musas. Aliás foi Pégaso quem fez brotar do Monte Hélicon, ao bater com um dos seus cascos no solo, a Fonte mágica de Hipocrene, cujas águas tinham a virtude de inspirar poeticamente quem delas bebesse.
Ora, por um lado, temos a Quimera, enquanto, monstro mitológico dos tempos da mitologia greco-romana. Por outro lado, o monstro imaginário evoluiu na linguagem para significar algo de impossível e apenas sonhado. Quimera passou a ilustrar, paradoxalmente, algo de bom, mas difícil de alcançar, passando a estar classificada na categoria dos sonhos, do imaginário, do fantástico, da miragem e da ilusão, quase uma suave e doce Quimera.
Destes antagonismos tornaram-se obscuras frases como: “Sonhos de Quimera”; “Quimeras de um Monstro”; e “Quimeras de Quimera”. É destes conflitos que se parte de um todo para o confronto das suas partes, das quais os melhores exemplos são os que se apresentam entre: a vida e a morte; o amor e o ódio; o bem e o mal; o sonho e a realidade; a guerra e a paz; a justiça e a injustiça; o sim e o não e finalmente, o que se quer e o que se tem.
Deste permanente conflito em que a mente humana é protagonista, acabou por nascer o nome do presente livro de sonetos; “Quimeras de Quimera”.