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I
"NA MINHA ALDEIA..."
(Brincando com Alberto Caeiro)
Não cai neve na minha aldeia...
Mas cai o Sol
Sobre os telhados morenos,
Sobre o chão...
E que linda fica a minha aldeia
Quando a luz,
Vinda do azul,
Nela, placidamente,
Então se espelha
Nos azulejos postos nas paredes
Das vivendas e dos prédios,
Dos andares...
E que lindos são os azulejos,
Os azulejos
Cá da minha aldeia;
De cores mil,
De efeitos vivos...
Quadrados e quadrados
Onde a invenção do ser humano
Não dormitou
Sequer um só momento...
E se Picasso
Visse a minha aldeia...?
Que inveja, que pasmo,
Que palavras
Arranjaria o génio
Pra descrever
Este arco-íris esbelto,
Pelo Homem roubado à Natureza...?
Não cai neve na minha aldeia
Mas cai chuva,
Levando o pó que,
Nesta obra humana,
Se deposita nas Estações do Sol...
E logo tudo brilha,
Ri, reluz,
Aos olhos famintos de quem passa
Olhando perplexo
A minha singela aldeia...
Porque são lindos,
Lindos e todos diferentes,
Os azulejos pelas construções...
Esses pedacinhos de criatividade
Que tão bem exprimem
O gosto popular das gentes
Desta minha aldeia...
Ó viajante,
Se puderes,
Não deixes de vir
À minha aldeia...
Não cai neve,
Não cai mágoa,
Mas cai no coração
De quem aqui passeia
Esta minha bela,
Linda e singela aldeia...
Gil Saraiva
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IX
“EPOPEIA”
Neste hotel de nome Portaló,
Somos como a aranha em sua teia,
Somos o guardião de uma baleia
Num quarto batizado Moby Dick…
Só importa a quem cá fique
Instalado na encosta,
Saber daquilo que gosta,
Porque aqui não há despique…
No Morro de S. Paulo,
Em Portaló,
Ilha de Tinharé,
Terra de verde e pó,
Banhada de fé,
De azul, de céu e de águas,
Onde o passado em tempos
Lavou mágoas,
Por entre aromas tropicais
E de café,
Olhando paisagens geniais
Escutando um violão,
Um oboé,
Tudo floresce em cada grão de areia
Para gravar em nós esta epopeia…
Epopeia de amor,
Que entre imensos amplexos,
Faz vibrar, bem no calor,
Os nossos excitados sexos.
Num entra e sai
Que não para, não descansa,
Entusiasmado,
Parece mais maratona
Do que um ato isolado,
Este frenesim de amor,
Com travos de feromona…
Afrodisíaca viagem de alegria,
Neste morro, nesta aldeia,
Onde aos saltos as hormonas,
Libertam as feromonas,
Criando ninhos na areia,
Fazer amor e senti-lo é quase igual,
Por aqui, num local fenomenal,
Onde o amor é epopeia…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
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"AQUI"
Aqui, na praia, voam as gaivotas;
Bate de leve o mar azul na areia;
Neste arbusto uma aranha tece a teia;
No horizonte navios cruzam rotas...
Na ponte, uns amadores pescam botas;
Por todo o lado, o quente Sol passeia
E só se quebra a calma cá na aldeia,
Quando os jovens ensaiam suas motas.
No ar sente-se o cheiro a maresia,
Cheira nas tascas a sardinha assada,
A marisco apanhado nesta ria.
Em toda a parte há riso, gargalhada;
Só eu fico sofrendo neste dia;
Só... por sentir distante minha amada.
Gil Saraiva