IX
“EPOPEIA”
Neste hotel de nome Portaló,
Somos como a aranha em sua teia,
Somos o guardião de uma baleia
Num quarto batizado Moby Dick…
Só importa a quem cá fique
Instalado na encosta,
Saber daquilo que gosta,
Porque aqui não há despique…
No Morro de S. Paulo,
Em Portaló,
Ilha de Tinharé,
Terra de verde e pó,
Banhada de fé,
De azul, de céu e de águas,
Onde o passado em tempos
Lavou mágoas,
Por entre aromas tropicais
E de café,
Olhando paisagens geniais
Escutando um violão,
Um oboé,
Tudo floresce em cada grão de areia
Para gravar em nós esta epopeia…
Epopeia de amor,
Que entre imensos amplexos,
Faz vibrar, bem no calor,
Os nossos excitados sexos.
Num entra e sai
Que não para, não descansa,
Entusiasmado,
Parece mais maratona
Do que um ato isolado,
Este frenesim de amor,
Com travos de feromona…
Afrodisíaca viagem de alegria,
Neste morro, nesta aldeia,
Onde aos saltos as hormonas,
Libertam as feromonas,
Criando ninhos na areia,
Fazer amor e senti-lo é quase igual,
Por aqui, num local fenomenal,
Onde o amor é epopeia…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
IV
“MIL AMORES”
No ar, o som das aves é vida,
É luz que brilha atrevida,
É música, é alegria
Cantada, como por magia,
Em tom de felicidade
Com força, com garra, com vontade…
Pelas calçadas e valados
De um cinza feito de matizes,
Onde desponta, aqui e ali, a cor da terra,
Pelos arbustos salpicados
Entre o verde das copas
E o amarelo das raízes,
Por entre tons do morro
Que lembram a serra,
Pelo verde, da erva, tão garrido,
Pelas pétalas que o tornam colorido,
Por toda a parte, enfim,
Pairam aromas mil
De mil e uma flores,
Pairam partes de mim
Enfeitiçado pelo estio primaveril,
Por Portaló,
Por mil amores…
Mil amores de ti amada minha,
Tu que ao existires,
Me dás sentido,
Tu que me fazes rei,
Por seres rainha,
De mil amores contados
Ao ouvido…
Por ti eu sou alguém,
Dentro de ti, vassalo e rei,
Senhor da Bruma, e mais além
Serei
De tudo o que, por ti,
Eu conquistei.
Chamas-me e me invades
Em fervores,
Que, vindos de ti,
São mil amores…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
VIII
“MORRO DE S. PAULO”
Ao olhar
Ressalta já o Morro de S. Paulo;
Ao recordar
Um morro de reis, de glórias
E de escravos;
Morro de histórias,
Fantasmas e de bravos;
Morro de saudade,
No tempo perdido,
Onde um minuto vale a eternidade,
Onde cada segundo tem sentido…
Aqui, no Morro de S. Paulo,
Das águas feitas de cristal,
Se elevando
O sonho ganha corpo, rosto, forma,
É natural…
E o sorriso vai edificando,
Em cada instante,
Uma outra plataforma,
Feita de natureza cativante
Como que esculpindo nova Atenas…
Mais do que bonito
O Morro de S. Paulo
É belo apenas!
Aqui,
De mãos dadas, passeamos
O nosso amor
E ele sorri, enquanto andamos,
Ao Sol e ao calor,
Por entre as lojas
Como que para nós engalanadas,
Por entre ruas estreitas,
Calcetadas,
Onde se vendem,
Quase às toneladas,
Recordações,
Que um dia,
Empoeiradas,
Nos despertam a saudade,
A nostalgia,
Dos olhares trocados naquele morro.
Objetos, símbolos, na verdade,
Do amor vivido, da alegria,
De quem dentro de ti
Não quis socorro…
No Morro de S. Paulo fui feliz,
Fomos amor rubro,
Intenso, enlouquecido…
Que ali se cimentou, criou raiz,
Que jamais por nós será esquecido…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
IV
“BENÇÃO DE ORIXÁ”
Lá do alto, mirando,
Vimos o oceano,
Pelas ondas,
Nos cumprimentando,
Com luvas de espuma alva,
Qual polidez gentil de anfitrião…
E nós agradecemos,
Acenando,
Felizes pela doce receção.
As nuvens se agitaram de alegria,
Fazendo chuva morna,
Em cortesia…
Em torrentes de água cristalina,
Lavando o solo e a paisagem,
Que o Sol secou,
Como rotina,
Em raios de ouro e areia,
Das praias, das dunas,
Dos caminhos,
Qual convite ao namoro
Em Lua Cheia,
Que entre nós chegará
Com mil carinhos….
Porque é bonito amar sem oxalá
Qual bênção divina de orixá.
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão