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Estro

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

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Livro de Poesia - O Donaire do Proterótipo Ordinário: O Postal do Entardecer Algarvio - VI

O Postal do Entardecer Algarvio.jpg(Fotografia sem filtros ou efeitos de: Borda d'Água, Ria Formosa, Fuzeta, Algarve)    

                         VI

 

"O POSTAL DO ENTARDECER ALGARVIO"

 

O Algarve, quando o Sol se põe,

À beira Atlântico ou junto à Ria,

Que se diz Formosa,

É terra de paraíso na paisagem,

De postal ilustrado, que turista

Manda para casa tentando fazer prova

De que se encontra, embevecido,

Rendido ao entardecer algarvio no paraíso.

 

O postal não mostra as mãos calejadas

E curtidas pela faina dura

Que, no pescador, medraram

Fruto dessa labuta quotidiana dos seus dias.

 

O postal esconde a desertificação

Que vem de África,

Do Deserto do Sáara,

E se instala, impiedosa,

Por toda a região,

Ameaçando roubar terreno à laranjeira,

À amendoeira, ao limoeiro, à nespereira,

À figueira, à videira e à romãzeira,

Bem como à pobre e triste alfarrobeira,

 

É verdade!

O postal não revela o pó

Que se instala vingativo

Na garganta de montanheiros, camponeses

E agricultores.

 

O postal oculta a extinção

Do lince ibérico e do camaleão,

Nem diz que o país tem quinhentas espécies,

Na fauna e na flora, ameaçadas de extinção

Pelas alterações humanas e climáticas,

Que minam igualmente os parcos e pobres

Recursos hídricos deste reino

Do Sul, do sal e do Sol

Que há cento e onze anos integrou Portugal.

 

O postal encobre os terrenos ardidos,

A cada ano que passa,

Que sugam à região a sua inata formosura,

A sustentação do povo,

Fazendo perigar a sobrevivência

Da própria beleza natural.

 

O postal ilustrado do entardecer algarvio

(Que não tem algodão,

Como um certo anúncio televisivo de outros tempos),

Engana quem o vê,

Trazendo o entardecer as trevas a esta alma dolorida.

 

Gil Saraiva

 

 

 

Livro de Poesia - Plectros de um Egrégio Tetro Umbrático: Fado do Pescador Algarvio - XIV

Fado do Pescador Algarvio.jpg

                  XIV

 

"FADO DO PESCADOR ALGARVIO"

 

P’ra ir ao mar com levante

Algarvio, o pescador,

É formiga que elefante

Combate o mar com fulgor.

 

Combate no mar bravio

Ondas, que a água elevou,

Mais altas do que o navio

Que até ali o levou.

 

(Refrão)

Homem ao mar, grita alguém,

Depois de vaga tremenda,

Que fora de bordo há quem

Possa morrer na contenda.

 

Uns dizem ser a bombordo,

Que o homem ao mar caiu,

À popa ou a estibordo,

Mas afinal ninguém viu.

 

De repente à claraboia,

O capitão vê marujo

Agarrado a uma boia,

Molhado, com medo, sujo.

 

(Refrão)

Homem ao mar, grita alguém,

Depois de vaga tremenda,

Que fora de bordo há quem

Possa morrer na contenda.

 

Se não há peixe na rede,

Agora importa bem pouco,

Que ninguém tem fome ou sede,

Que a luta é coisa de louco.

 

Há que salvar o Facada,

Puxá-lo para o convés,

Antes que onda marada

Possa trazer um revés.

 

(Refrão)

Homem ao mar, grita alguém,

Depois de vaga tremenda,

Que fora de bordo há quem

Possa morrer na contenda.

 

Contra Neptuno lutar,

Que o mestre já decidiu,

Tirá-lo daquele mar,

Pois que ninguém desistiu.

 

O Trunfas atira a corda,

Logo a apanha o Facada,

Puxado é pela borda,

Com a boia à corda atada.

 

(Refrão)

Homem ao mar, grita alguém,

Depois de vaga tremenda,

Que fora de bordo há quem

Possa morrer na contenda.

 

Nadar, sueste vencer,

Com a luta terminada,

Voltar atrás, sem perder,

Passar a barra agitada.

 

Não há ali quem se queixe,

Vazia a rede ficou,

Desta vez não houve peixe,

Outra vida alguém ganhou.

 

(Refrão)

Homem ao mar, grita alguém,

Depois de vaga tremenda,

Que fora de bordo há quem

Possa morrer na contenda.

 

Gil Saraiva

 

 

 

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