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Estro

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

Livro de Poesia: O Próximo Homem II - Chorai...

Chorai.jpg

"CHORAI"

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

Aqueles que chutam a bola

Apocalíptica dos sonhos sem prazer...

Aqueles a quem a vida disse, um dia,

Pra sofrerem as torturas da agulha;

A doce sensação do não sentir;

E o ventre seco e frio da própria

Morte...

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

 

Aqueles que veneram a miragem negra,

Heroína suprema dos homens

Sem rosto, sem nome

E sem força de vontade

Ou sem amor...

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

Porque deles é o reino da vida

Sem Futuro,

Porque neles tudo é estéril,

Seco e sem sentido;

Porque eles são o espelho mais triste

Do Inferno.

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

Porque entre eles passeia a Negra Dama,

Plena de clientes, satisfeita...

Porque de Tchernobil já estão vacinados...

Porque oxigénio, Amazonas e ozono,

São coisas supérfluas, palavras soltas,

Num mundo que deixaram já faz tempo...

Porque a SIDA é apenas um atalho,

Não um mal, apenas e somente

O caminho mais curto para quem

Já não tem tempo...

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

Lagartas fechadas num casulo

Selado nas veias, ocas de sangue,

Plenas de vício e de tristeza...

Crisálidas, uns insetos humanos

Que nunca serão gente;

Vazios de esperança, carentes de voz...

Seres de asas queimadas

Que jamais voarão rumo à liberdade;

Que jamais sentirão o cheiro das flores,

O gosto, o gozo de voar, ser borboleta...

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

Chorai lágrimas de amigo, irmão, de primo

Ou filho até...

 

Chorai os que odeiam, agora, a luz

do Astro Rei...

 

Chorai os corpos vivos

A quem a mente abandonou...

 

Chorai aqueles que andam à procura

Da alma que não sabem encontrar...

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

Chorai também aqueles olhos parados...

Deus…!!!

Aqueles olhos parados de quem já foi criança,

De quem era tão engraçadinho

Nos primeiros sorrisos... lembram...?

E quando, um dia, ele te chamou "- Mamã..."

Ainda te recordas…?

E quando, a dado momento,

Deu os primeiros passos,

E tu, pai orgulhoso,

O abraçaste entre as essas mãos,

Amostras firmes de vigor,

Então tão carinhosas...

Não é fácil esquecer…!!!

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

Que já tiveram mãe, avós, amigos,

A quem demos a mão,

Com quem brincamos à apanhada,

Escondidas, cabra-cega, monopólio,

Damas, xadrez, gamão, jogos de cartas,

De amor, carinho, afeto ou de amizade...

 

Chorai... Aqueles que sabiam quem tu eras,

A quem contavas, baixinho... a rir, talvez...

Segredos que o mundo inteiro ignorava.

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

E sejam brancos, negros, vermelhos,

Arraçados; chineses, esquimós, gregos,

Franceses, angolanos, alemães

Ou portugueses, não nos importa a nós...

 

Chorai...

Chorai comigo budistas,

Católicos, ateus ou protestantes;

Velhos, crianças, meninos e meninas,

Jovens na flor da idade, homens, mulheres,

E toda a gente que neste mundo exista...

 

Chorai...

Chorai comigo...

Uni hoje vossa dor à minha mágoa.

 

Chorai, chorai comigo, ó, por favor...

Que a culpa não é só de quem cultiva,

Trafica ou se vicia... Mas sim de todos nós

Que não fazemos nada para ceifar da Terra

A triste chaga... Ao menos... chorai...

 

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

Condenados por nós à Morte lenta...

 

Chorai...

Chorai comigo...

Chorai, chorai comigo...

Chorai...

Chorai comigo os filhos das Trevas...

 

Gil Saraiva

Livro de Poesia - Quimeras de Quimera II: Introdução do Autor - Versão Ilustrada

Quimeras de Quimera imagem.jpgIntrodução

Em 1984, na cidade de Coimbra, sob a capa e a batina de um curso de direito, publiquei, através da Gráfica de Coimbra, o livro de poesia “Quimeras de Quimera” – “Sonetos”, numa altura, com 22 anos de idade, em que ainda sonhava com um novo e maravilhoso mundo, aquando dos festejos de Carnaval, que antecipavam os 10 anos do 25 de abril. Esta nova versão, revista e ilustrada, visa fazer homenagem ao homem que ainda sou e que continua a sonhar com o mesmo mundo.

A escolha do nome do livro, para além de fazer um rebuscado trocadilho com o diminutivo do meu primeiro nome (Quim de Joaquim), em que Quimera se dividia num tolo “Quim era…”, tinha outras motivações mais assertivas. Em primeiro lugar, o antagonismo dos diferentes significados da palavra, que se usa para nos referirmos a sonhos impossíveis de alcançar, num dado texto, como nos retrata um monstruoso animal mitológico se nos voltarmos para a antiguidade clássica.

Sendo mais específico, no que à Mitologia Greco-Romana diz respeito, Quimera foi um monstro de natureza divina, nascido da união de Tífon e de Equidna. Segundo Homero, Quimera tinha um aspeto terrível. O bicho conjugava a mistura de um leão, pela frente, uma cauda que mais parecia a cabeça de uma serpente, seguida por uma secção do tronco e, por fim, uma cabra identificada no meio do corpo e nas patas traseiras. Outros doutos estudiosos na antiguidade davam-lhe formas parecidas, em que a cabeça dos 3 animais se tornava evidente no monstro. Contudo, o importante é que todos a apresentavam como uma horrível besta que lançava chamas pelas diferentes bocas, enfim, uma Quimera assustadora e terrível. O animal teve alguns irmãos igualmente famosos na época, a saber: Cérbero, Hidra, Esfinge e o inesquecível Leão de Nemeia.

A besta acabaria por morrer ao lutar com um dos grandes heróis da Antiguidade Clássica, o nobre Belerofonte. Um herói que já vencera, noutras batalhas, os Sólimos e as Amazonas, sempre com a ajuda preciosa do animal mais célebre daqueles tempos, Pégaso, um cavalo alado, amado pelas Musas. Aliás foi Pégaso quem fez brotar do Monte Hélicon, ao bater com um dos seus cascos no solo, a Fonte mágica de Hipocrene, cujas águas tinham a virtude de inspirar poeticamente quem delas bebesse.

Ora, por um lado, temos a Quimera, enquanto, monstro mitológico dos tempos da mitologia greco-romana. Por outro lado, o monstro imaginário evoluiu na linguagem para significar algo de impossível e apenas sonhado. Quimera passou a ilustrar, paradoxalmente, algo de bom, mas difícil de alcançar, passando a estar classificada na categoria dos sonhos, do imaginário, do fantástico, da miragem e da ilusão, quase uma suave e doce Quimera.

Destes antagonismos tornaram-se obscuras frases como: “Sonhos de Quimera”; “Quimeras de um Monstro”; e “Quimeras de Quimera”.  É destes conflitos que se parte de um todo para o confronto das suas partes, das quais os melhores exemplos são os que se apresentam entre: a vida e a morte; o amor e o ódio; o bem e o mal; o sonho e a realidade; a guerra e a paz; a justiça e a injustiça; o sim e o não e finalmente, o que se quer e o que se tem.

Deste permanente conflito em que a mente humana é protagonista, acabou por nascer o nome do presente livro de sonetos; “Quimeras de Quimera”.

Gil Saraiva

 

 

 

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