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Estro

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

Livro de Poesia - Desassossegos de um Bardo: No Ano em que Eu Nasci - I

No Ano em que Eu Nasci.jpg

I

“NO ANO EM QUE EU NASCI…”

 

Decorria o Ano da Graça de

Mil novecentos e sessenta e um

Quando, pouco antes de acabar,

Se deu o momento em que eu nasci…

Novembro adentro…

Uma meia dúzia de dias

Já passados…

Em pleno Outono,

Pelo cair da folha,

À porta de um frio

Que não se anunciava para breve…

Terça-feira,

Sem muita festa

Ou Carnaval…

 

De sessenta e um não guardo memória,

O berço parece ter sido,

Pelo que diz quem me conheceu,

Todo o meu Universo,

Nesse ano que foi ímpar, por um mero acaso.

Mas… olhando para trás,

Revendo a História,

Descubro que o Mundo não parou

Para me ver nascer naquela data…

E muito aconteceu,

Bem mais relevante do que eu…:

O ano em que eu nasci foi agitado,

Na Bélgica o céu se revoltou,

Em trombas de água de trágico final,

Levando para morte onze mortais…

Paris tremeu, gelou de frio,

Bateu recordes de cem anos, nessa data…

Porém, Portugal aquecia corações

Porque o Verão se fez durar o tempo inteiro,

Por entre chuvas verdes de tépida frescura…

 

Não peçam que me lembre,

Contudo, no ano em que eu nasci:

Em Angola a guerra teve início

Contra o poder de um Salazar colonial;

Goa, Damão e Diu se perderam

Para a União Indiana farta do nosso Fascismo Colonialista,

A Argélia conquistou a sua autodeterminação.

O Muro de Berlim se ergueu,

Anunciando a Guerra Fria entre dois blocos.

O Dia dos Namorados foi diferente,

Calhou bem na terça-feira de Carnaval.

 

E foi mesmo no ano em que eu nasci que

Cuba e os americanos cortaram relações diplomáticas,

Perante o espanto das gentes apáticas.

John F. Kennedy chegou à presidência,

E anunciou a intenção de pôr um homem na Lua,

Em resposta, os russos movimentam-se e

Iuri Gagarin torna-se o primeiro humano

A atingir o espaço sideral.

Em África o líder da independência do Zaire

É barbaramente assassinado

E a Serra Leoa torna-se independente do Império Britânico.

 

Para quem, como eu, nasceu calado,

A precisar de câmara de gás

(Dizem que era de oxigénio)

A agitação mundial parecia não me incomodar.

Todavia, o ano em que eu nasci

Foi agitado.

Nos Açores, ao largo da Ilha de Santa Maria,

Encalha, o petroleiro norueguês Velma,

Gerando uma maré negra assustadora.

Foi o início da invasão da Baia dos Porcos,

Em Cuba, com a CIA, sem sucesso, no comando.

A URSS testa no oceano Ártico a Bomba Tsar,

A maior bomba atómica a ser detonada na história.

Já no Brasil, um incêndio criminoso

Faz a tragédia no Gran Circus Norte-Americano,

Morrem 500 pessoas nessa tenda, em Niterói,

Morrem mais de 150 animais às mãos das chamas.

 

Para meu espanto em sessenta e um,

O ano em que eu nasci,

Nasceu também a Princesa Diana,

Um tal de Barack Obama,

O atleta Carl Lewis,

A atriz americana Meg Ryan,

Michael J. Fox, Eddie Murphy,

 Nastassja Kinski e George Clooney,

Mas tristemente faleceram:

Ernest Hemingway, Gary Cooper, João Villaret

E o pai da Psicologia Analítica Carl Gustav Jung.

 

Que ano inesquecível foi o ano em que nasci…

Robert Wise dirigiu o West Side Story

E Elia Kazan lançou o Esplendor na Relva.

França anunciava: Uma Mulher

É Uma Mulher de Jean-Luc Godard

Elvis Presley lança Something for Everybody

E Sinatra edita o álbum All the way.

Já Roy  Orbison se anuncia Lonely and Blue.

E as músicas dos tops foram: Speedy Gonzales,

Let's Twist Again e A Walk On The Wild Side.

 

Foi tudo no ano em que eu nasci,

Não admira que ninguém tivesse dado conta

Que esse foi o meu ano, o número um,

A não ser a minha mãe, o meu pai

E a senhora Graça,

Alguém a quem, até morrer, chamei de avó.

 

No ano em que eu nasci,

O mundo não parou e pelos vistos,

Não nasci sozinho.

Talvez por isso nunca olhei demais

Para o meu umbigo.

 

Gil Saraiva

 

 

 

Livro de Poesia - Quimeras de Quimera II: Sombras

Sombras.jpg

"SOMBRAS"

 

As sombras desse imenso castanheiro,

Retiram deste solo o sol que quente

Aquece as casas, animais e gente,

Inverno, primavera, o ano inteiro.

 

As sombras, deste sólido mosteiro,

Apagam o brilhar do afluente

Que se arrastando, só, assim tão crente,

Inveja um soalheiro, além, ribeiro...

 

As sombras negras, soltas na cidade,

Vão devorando o verde natural...

Ah! Só a tua sombra é liberdade,

 

A sombra do teu ser não tem igual,

Pois nela se protege a felicidade

Deste meu simples ser, sentimental.

 

Gil Saraiva

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