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"CIGARRO"
A pouco e pouco sofro, me consumo...
Cigarro após cigarro só me enterro...
Eu já nem força tenho para um berro...
Eu sou completamente pele e fumo...
O meu sangue de nicotina é sumo...
Meus ossos de ferrugem foram ferro...
Sou feito de tabaco em que me encerro...
Eu de mim sou apenas um resumo...
Eu já nem força tenho para ser...
Metamorfose sou, entre meus ais;
Uma beata velha a apodrecer...
Mais um lixo entre cascas e jornais...!
Se o prazer foi razão do meu viver
Agora sou um morto entre os mortais...!
Gil Saraiva
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VIII
"UM COPO"
Um copo de cerveja
E um cigarro...
E a música apalpando toda a gente...
Um copo de cerveja
E um cigarro...
E gente sentindo o corpo quente...
Um corpo que deseja
E mais um charro...
E o álcool subindo calmamente...
Um corpo que deseja
E o mais que agarro...
E outro corpo aquecendo lentamente...
Um litro se despeja,
Zarpa o carro...
E o leito se aproxima ardentemente...
Um litro se despeja,
Zarpa o carro...
E zarpa o sangue no corpo da gente...
Um fogo que se inveja,
Coze o barro…
E… unindo dois corpos fortemente:
É movimento,
Ritmo, ternura,
É febre,
Suspiros e loucura;
É infinito
Num tempo finito,
No segundo louco da expansão...
Um grito se solta
E é bizarro...
É suor, saliva e sucos de emoção...
Um grito se solta,
Coze o barro
No exato momento da fusão!...
É já... ainda não...
E mais... agora!...
É vem... amor...
É dia dos sentidos,
É noite, ardor,
É dentro e fora,
É grito que se quebra em mil gemidos!...
Gil Saraiva