![Meu Coração Parou.jpg Meu Coração Parou.jpg]()
VI
"MEU CORAÇÃO PAROU..."
Tomava a bica
No velho Aliança,
«Prá» Baixa de Faro
Até não é caro,
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai! Ele disparou...
Que traços de fêmea,
Que olhos de lince,
Que curvas perfeitas...
"- Estarei a sonhar?"
Foi o que pensei,
"- Não quero acordar"
Foi o que implorei...
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai! Ele disparou...
Abri os olhos
Sorria pra mim
"Ai... Não pode ser..."
Pensei eu por fim...
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai ele disparou...
Mas era verdade,
Chamou-me plo nome,
De toda a cidade
Era comigo, era comigo,
migo, migo, que estava...
Não sei se consigo,
Dizer como a amava...
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai! Ele disparou...
Me disse que a noite,
A noite passada,
Tinha sido louca,
Só nós dois na estrada...
Nos bancos do Alfa Romeu
foi a Julieta
E o outro fui eu...
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai! Ele disparou...
Eu tinha bebido,
Bebido de mais,
De nada lembrava,
Nem dos seus sinais,
Nem mesmo do Alfa,
Pior do Romeu
Que tinha sido eu...
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai! Ele disparou...
Olhei para ela,
Contei que esquecera,
Queria repetir
O que acontecera;
Pedi-lhe pra vir,
Pedi-lhe...
Pedi-lhe...
Para repetir...
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai ele disparou...
Disse-me adeus,
Que assim não valia,
Que me amara
E que agora fugia,
Que nem queria crer
Que eu a esquecera...
Não podia ser...
Que assim a perdera...
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai! Ele disparou...
E então acordei,
E a cara eu voltei,
E ela ao meu lado,
Colchão apertado,
Tão bem que dormia,
Ai! Quanta alegria,
Afinal era verdade,
Uau,
Felicidade...
Quando ela entrou...
Meu coração parou...
Ai! Ele disparou...
Gil Saraiva
Nota: Letra para a Banda de garagem “Rock Spot Alive” (anos 80).
![Bateu.jpg Bateu.jpg]()
XI
"BATEU..."
Bateu,
Algures no mundo,
Um coração...
Bateu de amor,
De dor,
De sofrimento...
Bateu
Milhares de vezes
Num momento...
E ninguém o ouviu,
Nem mesmo eu...
Nem mesmo eu!
Bateu,
Chamou a vida
Em alta voz,
Mas ela em despedida,
Pareceu querer ficar
A sós...
Bateu,
Gritou pelo amor
Em pulmões plenos,
De um ar sem o calor
De verões serenos...
Bateu,
Chorou saudade
Pelos cantos frios,
Mas a resposta
Se esvaziou nos rios...
Bateu um coração
Em vil tormento…
Bateu
Milhares de vezes
Num momento...
E ninguém o ouviu,
Nem mesmo eu...
Nem mesmo eu!
Gil Saraiva
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Nota do Autor:
I
“GOTA DE LÁGRIMA”
Pelo teu rosto se desenha, em movimento,
A lágrima que cai, neste momento…
E, se olhares para mim, não me vês chorar.
Jamais conseguirias, pois não sabes
Sequer onde ou como procurar…
Porque a gota de lágrima que choro,
É por dentro, entre a alma e o coração,
Que desce, que resvala, que ecoa,
Por não saberes o quanto eu te adoro,
Nas cavernas das saudades do meu ego
A onde a tua lágrima ocupa um oceano,
Por onde tristemente eu navego…
Vem, ama-me mesmo que por engano,
Vem, ó gota de lágrima que adoro,
Junta-te à lágrima que eu, agora, choro…
Gil Saraiva
Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 2003 e 2008
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XI
“CHALÉ FERNANDO PESSOA”
Aqui, no Portaló, em Tinharé,
Longe de Paris, Rio ou Lisboa,
A vida, qual sorriso de um bebé,
Segue calma, simples e tão boa…
“Tudo vale a pena…” a forma é pura,
A prosa à poesia dá frescura
Com aromas de ser e de natura,
Neste espaço feito luz e cor…
Cada chalé tem nome de poeta ou de um escritor,
Cada chalé tem um coração, tem um sentir,
Tem paz, tranquilidade e tem amor,
Tem essência, alma e existir…
A pena é verde aqui, como a mata atlântica
E a palavra é barco, galeão, canoa,
É terra que floresce de romântica…
Em Fernando Pessoa
Me instalei meia quinzena,
E me senti um Rei, sem ter a coroa,
De um quinto império sem arena…
Fiquei por Portaló enamorado,
E pelos versos de Pessoa eu inspirado
Entendi, então, de forma plena,
O que vale ter a alma não pequena…
Casámos na casa de Pessoa,
Longe daqui, lá para Lisboa,
E a Lua de Mel realizámos,
Na Bahia, no Morro de São Paulo,
E neste chalé nos instalámos,
Chamado de Fernando Pessoa,
A milhares de quilómetros de Lisboa.
Não existem coincidências,
Digo eu, que pouco sei,
Mas que o poeta foi padrinho
Não duvido,
Por entre incongruências
Foste rainha e eu glorioso rei,
E tudo pareceu fazer sentido.
Fomos unidos por estros do além,
Abençoados por ninfas,
Trovadores,
Predestinados ao amor, que de nós vem,
Apenas tu e eu e mais ninguém…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
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![Chegada à Bahia da Paixão.JPG Chegada à Bahia da Paixão.JPG]()
III
“CHEGADA À BAHIA DA PAIXÃO”
Quem não queria poder
Ver mais além?
Partilhar um momento com alguém
Na chegada à Bahia,
Que encantada,
Nos recebe, ao aterrarmos,
Agradada,
Porque lhe sorrimos nós também…
Se olhar a Bahia,
Nessa altura,
Entre beijos trocados
Com candura,
Lá do ar,
Nas nuvens de algodão,
Nos faz tremer,
E mais, sonhar
Com a proeza agora iniciada…
Também sorrimos
Com o coração,
Porque ao descermos vamos encontrar
Um outro bem,
Um cristalino estro,
Que inspira mais do maestro,
De quem chega sabendo áquilo que vem…
Nada do que sentimos é em vão,
Tudo em nós fica, se retém,
Porque tudo traduz nossa paixão!
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
![Possa Ser Eu.jpg Possa Ser Eu.jpg]()
X
"POSSA SER EU!"
Meu amor...
No espaço diminuto do meu cérebro
Não consigo enclausurar o amor que sinto...
É vasto demais,
É denso, é forte,
E nem zipado cabe entre neurónios...
Poderia eu arquivá-lo nessa rede,
Aquela a que chamamos de Internet,
Em servidores sem fim...
"Terabytes" e "Terabytes" de sentir...
Mas é pequena a "Net",
É curta, é vã...
Ah, mas então...
Só dessa forma se tornaria a rede
Um sentimento só,
Somente e apenas...
Mas tanto ficaria por expressar,
Pois está por inventar o “chip”
Ou a memória
Que possa processar o verbo amar
Com a dimensão e a dignidade
Que este deve possuir...
Porém...
Um processo existe, um meio, uma forma,
De saberes, ó meu amor, o quanto te amo...
Há um condensador do meu sentir
Que podes ler sem erro,
“Bug” ou vírus
Que o afete...:
O brilho dos meus olhos quando a retina
Capta a tua imagem e a retém
Lá para lados desse órgão interno
A que teimamos dar por nome:
Coração!...
O fenómeno pode não ser sensível
À ânsia da descoberta do sentir
Através de quaisquer materiais...
Ah... Mas se amares...
Vais poder ler o brilho oculto
Aos olhos de um outro qualquer alguém
E, meu amor, que esse alguém
Possa ser eu!
Gil Saraiva
![Não por mim.jpg Não por mim.jpg]()
IX
"NÃO POR MIM..."
Às vezes
Acho-me um ser híbrido...
Não importa se o sou
Mas o que penso...
É como se metade do que me constitui
Fosse sentir
E só a outra parte de mim
Fosse homem nato...
Sou,
Tal como o dia tem na noite
Uma outra face,
Um ser ambidestro
No que toca à mística
Representada pelo coração...
Um quase ser criança
Entre pudores que,
Nesta idade que tenho,
Já extintos deveriam estar.
Mas corre-me nas veias
O devir...
A sensação última de atingir
A plenitude das coisas
Simples e pequenas
Que permanecem fiéis à memória
De quem realmente as viveu
Com existência.
Mas para que falo eu isto?
Que importância tem?
Para que raio interessa
Um tal assunto?
Ahhhhhhh...
Importa refletir,
Sentado nas escadas alvas e frias
Do mármore que edifica e marca
Cada registo do que sou,
Tentando sempre
Ir mais longe no pensar...
O que me move?
Ou, talvez, o que me comove?
Ou, ainda, o que me demove...?
É delicioso poder concluir que,
Em cada caso,
A chave é sempre a mesma:
Sentimentos!
Vindos de dentro,
Da arca radioativa do amor
À qual chamamos
Alma...
Sentimentos,
Desempacotados,
Pelo espírito
Que nos torna humanos,
Postos a render
Para que possamos desfrutar,
A cada pegada impressa
No caminho da vida,
A realização
Do que deveríamos ser
Para que o existir tenha um propósito:
Felizes sermos!...
A demanda pela verdade
É um falso caminho se,
No final da linha,
Não encontrarmos
O amor!
É pela sensualidade dos corpos
Que a alma,
Feita espírito inventivo,
Nos mostra a excelência de uma espécie
Com milénios de existir:
O Ser Humano.
Um ser que não se reproduz apenas,
Mas que se funde em harmonia
Sempre que a longa busca,
Pela alma gémea,
Se conclui com êxito.
Ser sensual
É ser-se humano
E ter com isso a esperança
De perpetuar a espécie
Por forma a poder gritar bem alto,
Aos quatro ventos:
É amor!...
Às vezes
Acho-me um ser híbrido...
Não pelo que sou
Mas pelo que os meus olhos captam
Do mundo
A que chamamos evoluído...
Onde sensualidade
Se confunde com pornografia,
Tal como o bem
Se confunde com o mal...
Às vezes
Acho-me um ser híbrido,
Mas não por mim...
Não por mim...
Gil Saraiva
![Hino à Mulher.jpg Hino à Mulher.jpg]()
I
"HINO À MULHER"
No mundo existe um ser, quase irreal,
Ao qual foi dado o nome de Mulher...
E é tão bonito ouvir dizer Mulher...
Mulher
Ou o berço mais perfeito,
Mais subtil,
A fonte de toda a Humanidade,
Aquela luz que brilha
Dia e noite
A todos quantos lhe chamaram
Mãe!
E é tão bonito ouvir dizer Mulher...
Mulher,
Nogueira que os anos reduziram
A mobília de luxo, estilizada,
De porte antigo,
Austero e imortal;
Ou em mesa de sala,
Gasta, enegrecida,
Onde outras gerações contam segredos
Aos nós ou aos ouvidos da
Avó...
E é tão bonito ouvir dizer Mulher...
Mulher
Ou vida que cresceu e que floriu
Sob o olhar da águia e do falcão;
Até que ganhou asas... liberdade;
Até olhar pra trás e num sorriso
Dizer que já foi nossa a nossa
Filha!
E é tão bonito ouvir dizer Mulher...
Mulher
Ou alma ou coração; tão terno... tão piedoso...
O cofre-forte, o banco da saudade,
A gema cristalina em mais pureza,
O símbolo mais casto da justiça,
O sinónimo exato para um
Anjo!
E é tão bonito ouvir dizer Mulher...
Mulher
Ou espada reluzente, tão certeira,
Tantas vezes fria que foi neve,
Mordaz, esperta, vingativa,
Uma artimanha feita de truques,
Trevas e tristezas, refletindo no espelho
Lucifer!
E é tão bonito ouvir dizer Mulher...
Mulher
Ou miragem de outros Tempos neste Tempo;
A gota de água que ao cair deleita
A terra que a recebe saciada;
A estrela mais notável porque bela,
O termo mais correto p’ra
Beleza...
E é tão bonito ouvir dizer Mulher...
Mulher,
Tambor, apocalipse de emoções,
Ritmo frenético dos homens, o gosto,
Aquele sabor a sal tão doce...
Os dias que nem têm uma hora
Pra quem olha pra ti e grita: "Amor";
Pra quem nasce pra ti e quem, um dia,
Já dentro do teu corpo diz
Mulher!
E tu
Simplesmente sorris,
Porque é bonito ouvir dizer
Mulher...
No mundo existe um ser quase irreal...
Gil Saraiva
![Chorar.jpg Chorar.jpg]()
"CHORAR"
Sangue, suor e lágrimas eu choro,
E vou assim chorar pra toda a vida...
Não vou mais conseguir estancar a ferida,
Aberta por tamanho meteoro
No coração de quem eu mais adoro
E nesta já minha alma suicida...
Meu sangue vai escorrendo da jazida,
Saindo-me p’la pele em cada poro...
Suor tenho nas veias e artérias,
Correndo loucamente para a morte...
As lágrimas são átomos, matérias,
São o consolo triste da má sorte...
Chorar é meu último conforto,
Agora que na vida vivo morto!...
Gil Saraiva
![Sentir Camoniano.jpg Sentir Camoniano.jpg]()
"SENTIR CAMONIANO"
Amor é eterno nada e universo;
É ilusão que muito e pouco dura;
É muita fome ter quando há fartura;
É viver o contrário do inverso;
É um calado estar quando converso;
É doença que não procura a cura;
É seta que não faz qualquer rotura;
É submarino coração emerso;
É vela acesa que apagada existe;
É o sonho do homem acordado;
É a felicidade de estar triste...
Mas como podes ter tu sublimado
Este sentir, Camões, que descobriste
Prá inda ser presente o Amor passado?...
Gil Saraiva