Livro de Poesia - Sintagmas da Procela e do Libambo: A Dor Que Dói - VII
VII
“A DOR QUE DÓI”
A dor que dói assim, confina um lamento,
É quase minha filha e justifica
Meu ego corroer em crescimento.
É dor que dói assim, num movimento,
Que não se afasta nunca, mas que implica
Voar para sempre mais que o próprio vento…
A dor que dói assim, não tem alento…
Vem da raiz de nós e não se aplica
A coisas que não sejam pensamento.
A dor que dói assim num vil tormento
Tem cerne de mágoa que não explica
Porque não seca ela num momento…
A dor que dói assim, sem advento,
Que na saudade é cancro e se complica,
É como água que me mantem sedento,
É dor que dói assim sem ter evento,
Que só a pouco e pouco se fabrica,
Sendo a matéria prima esgotamento…
A dor que dói, enfim, é meu sustento,
A dor que dói ruim não se erradica,
A dor que dói sem fim me sacrifica,
A dor que dói assim é alimento
Da dor que dói em mim, em sofrimento.
Gil Saraiva