Livro de Poesia - Quimeras de Quimera II: Agasalho
XXVII
"AGASALHO"
De mim, daquil' que sou, eu sou culpado...
A minha própria vida eu esconjuro;
Sou triste e velho como um podre muro,
Sem ter a mocidade completado...
Num beco me sinto eu abandonado;
Muito sozinho, triste e sem futuro,
Na solidão da noite, no escuro,
Completamente sem significado...
Fui como rebotalho durante anos,
Fui farsa, fui mentira, fui enganos,
E tu... foste, p'ra mim, suave orvalho,
Em cada folha ser do meu esplendor...
Em cada dia... só... foste agasalho
De mim, que fui daninha erva sem cor...
Gil Saraiva