Livro de Poesia - O Donaire do Proterótipo Ordinário: Trabalho - Direito, Dever, Fantasia - IV
IV
"TRABALHO: DIREITO, DEVER, FANTASIA"
O trabalho concede o sustento do próprio
E, quantas vezes, de outros.
Trabalhar é um direito,
Será que importam os meios, os fins
E as consequências de quem o exerce sem
Pensar, automaticamente?
O conselho do poder, é trabalhar,
Sem refletir, sem sorrir, sem galhofar,
Porque apenas importa produzir eficazmente,
De forma amorfa e impessoal
A parcela laboral que a cada um foi atribuída.
Trabalhar, dizem os entendidos,
Traz felicidade, constituição familiar, progresso.
Há quem diga, até, que se trabalha só se Deus quiser
E apenas enquanto a sorte nos acompanhar.
Porque há que levar para casa o sustento,
O pão para a mesa, generalizam os teóricos
Deste ato feito norma social instituída.
Um fado, quantas vezes o é, esse o trabalho,
Uma sina, afirmam os míticos,
A quem nunca ninguém põe a questão.
Um padrão que à maioria impõe um chefe,
Um capataz, um mestre ou um patrão.
Porém, se mal pergunto,
Onde está a honra se o trabalho de um
Contamina o rio em que me banho?
Onde está honestidade se o que alguém faz
É desbastar a floresta tropical?
Onde está a dignidade de se plastificar o ambiente?
Onde está a retidão de ser diretamente responsável
Por armas que matam, por alterações climáticas,
Por que governos que só se governam a si mesmos?
Há quem diga que o trabalho
Enobrece o ser, há quem diga…
Gil Saraiva