Livro de Poesia - Plectros de um Egrégio Tetro Umbrático: Dias da Democracia - VI
VI
"DIAS DA DEMOCRACIA"
«Vamos portugueses ao trabalho,
Vamos fazer disto uma nação,
Se sou escultor eu assim talho
A estátua da nossa salvação.
Tu tens de dizer “- Fiz quanto pude.”
Para eu poder dizer que livre sou,
Porque se no trabalho está a virtude,
Do trabalho construi, moldei e fiz
Aquilo que sou!»
Uma lengalenga própria de um político,
Que, chegado ao poder, logo se achou
Detentor da moral e do caminho
De quem em nele votou ou não votou.
Não deu exemplo, mas mudou de gravata,
Falou em vão, em tom de quem ata e desata.
Tudo dito sem pensar no que se diz e porque, apenas,
Para os políticos o prometido é de vidro,
É frágil, é, somente, a intenção pura
De uma alma amargurada,
Que pode tentar tudo sem jamais conseguir nada!
São estes os dias da democracia ocidental,
Que se vivem agora, em todo o lado,
Democracia comprada pelo capital,
Coberta de valores sem significado,
Onde o imposto é mais valia,
Onde o pobre não é culpa do regime.
Palavras ocas onde a cobardia
Ganha foros de instituição e escola
Enquanto cada vez mais cidadãos
Se ficam por migalhas ou esmola.
A palavra democracia está cariada.
Por favor, levem-na ao dentista…
Gil Saraiva