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VII
"ETERNIDADE"
Quando, na Praia Grande,
Um jovem passa,
Num surfar que abraça,
Sem que abrande,
A praia, o mar,
O horizonte...
Quando a prancha é ponte
E, de fugida,
Por entre espuma, é hino,
Pelas vagas da vida,
Sem destino...
Quando, na curva, navega,
Sobre as ondas,
Livre de entrega,
Sem fios, sondas,
Rumo ao céu divino...
Quando ao mar arranca,
Pelas águas,
Um rufar, qual tambor
Em desatino...
Quando, ao Sol que desce,
A prancha desliza intemporal,
Enquanto o perigo cresce,
De forma injusta
E desigual:
Eu... vejo no surfista
A despedida:
Na forma de uma vaga,
Em agitar fatal...
Me recordando
Um momento de partida,
Em que a espuma
É o teu rosto
Em lágrimas de sal!...
Não!
Não posso mais sentir
Tamanha dor...
Meu corpo quero fundir
Com teu amor
E, mais que a saudade
Que em meu ser hoje treme,
Eu quero a força
Da vaga que geme,
O azul marinho
Da longevidade,
Eu quero, amor,
Contigo... a eternidade!!!
Gil Saraiva
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VIII
“MORRO DE S. PAULO”
Ao olhar
Ressalta já o Morro de S. Paulo;
Ao recordar
Um morro de reis, de glórias
E de escravos;
Morro de histórias,
Fantasmas e de bravos;
Morro de saudade,
No tempo perdido,
Onde um minuto vale a eternidade,
Onde cada segundo tem sentido…
Aqui, no Morro de S. Paulo,
Das águas feitas de cristal,
Se elevando
O sonho ganha corpo, rosto, forma,
É natural…
E o sorriso vai edificando,
Em cada instante,
Uma outra plataforma,
Feita de natureza cativante
Como que esculpindo nova Atenas…
Mais do que bonito
O Morro de S. Paulo
É belo apenas!
Aqui,
De mãos dadas, passeamos
O nosso amor
E ele sorri, enquanto andamos,
Ao Sol e ao calor,
Por entre as lojas
Como que para nós engalanadas,
Por entre ruas estreitas,
Calcetadas,
Onde se vendem,
Quase às toneladas,
Recordações,
Que um dia,
Empoeiradas,
Nos despertam a saudade,
A nostalgia,
Dos olhares trocados naquele morro.
Objetos, símbolos, na verdade,
Do amor vivido, da alegria,
De quem dentro de ti
Não quis socorro…
No Morro de S. Paulo fui feliz,
Fomos amor rubro,
Intenso, enlouquecido…
Que ali se cimentou, criou raiz,
Que jamais por nós será esquecido…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
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"QUE IMPORTA?"
Temos esta noite...
Pensa bem...
Que importa o amanhã
Se hoje existimos...?
Se podes escrever
As palavras
Que me invadem o ser
E me viciam...
Que importa o amanhã...?
Vício de ti...
É virtual?
Interneticamente inatingível?
Que importa o amanhã
Se a noite é nossa...?
Se é o futuro
Que te dá alento,
Porque não pode o presente
Ser esperança?
Ahhhhh!!!
Nasce comigo em cada tecla!...
Nos diálogos frenéticos
Das janelas privadas,
Fechadas a todos
Que não a nós...
Nasce comigo em cada letra
Teclada com a força
Do bater arrítmico
De nossos corações perdidos,
Para a eternidade,
De tanta paixão...
Ahhhhh!!!
Nasce comigo antes de amanhã,
Porque o agora existe!...
E é nosso, amor,
É todo nosso!!!
Que importa o amanhã...?
Diz-me!
Que importa...?
Gil Saraiva
![Saudades.jpg Saudades.jpg]()
"SAUDADES"
Saudades
Choro de um riso antigo
Hoje recordado...
Saudades
Vou deixando
Aqui, além...
Recordações
Eu guardo dos meus passos:
Daquele alguém que um dia olhou pra mim
E me chamou de amigo...
E num olhar
Disse poder guardar de mim memória
E registar bem fundo o meu sorriso...
Saudades
Vou guardando, conformado,
Daqui, de além e de todo o lado
Onde há um abraço de amizade;
Onde a Humanidade for humana;
Onde a Paz existir na Natureza
E onde a Liberdade for amada...
Saudades,
Nostalgias, lembranças, emoções
E outros sentimentos pouco claros
Que vão ficando em nós
E que nos tornam
Produtos inventados pela mente
De quem a nosso lado já viveu
E guardou para si a nossa imagem...
Saudades
De outrora... de uma hora,
Daquele momento exato,
Inesquecível,
Daquele instante louco, fugidio,
Em que a flor abriu, desabrochou...
Ou de outro que não conto por pudor,
Mas que por certo falava de Amor...
Saudades,
Momentos presentes do Passado
Que o Futuro não pode apagar;
Vivências de uma vida,
Lágrimas de dor, felicidade,
Desejos e gritos já vividos;
Anos de sonho e de saudades
E dias que são claras ilusões...
Saudades
Vou guardando, vou deixando
Aqui, ali, além, por todo o lado
Onde a lágrima seja borboleta
Ou onde a eternidade iluminada
Se reduza breve, num segundo,
A gotas de orvalho e de saudade...
Saudades
Choro de um riso antigo
Hoje, uma vez mais,
Já recordado
Ou novamente,
Até que enfim, reencontrado!...
Saudades
Choro de um riso antigo...
Gil Saraiva