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Estro

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Falcão Peregrino - X

Falcão Peragrino 1.jpg

              X

 

"FALCÃO PEREGRINO"

 

Vagabundo dos Limbos,

Haragano, O Etéreo,

Senhor da Bruma,

Um Falcão Peregrino,

Que vagueia pela net

Olhando todos

E ninguém,

Como quem olha as montras

Sem poder comprar,

Como quem tem fome de existir

Nos sentimentos profundos

De outro alguém...

 

Como quem procura a eternidade

Sem saber que ser feliz

Se encontra

Num simples e mágico segundo...

 

Sou como quem

Inesperadamente descobre

Que o segredo do amor

Começa em si mesmo

Mas que tem de terminar

Num outro alguém

Para se desvendar,

Em farrapos de divino infinito,

Em nossa alma...

 

Serei eu

O Falcão Peregrino,

Descobrindo o mundo

Apenas por te querer

Perto, próxima, tangível

E real?

 

Serei eu

A ave implacável,

Na busca insana,

Ávida de lar,

Completo de ser e de existir,

Porque nela bate um coração menino,

Pela simplicidade dos desejos,

Dos olhares

E do sentir?

 

Sim, eu sou o timbre do sino,

Que ecoa pelas serras e vales,

Na senda

De se fazer ouvir...

Eu sou o predador dos males

Que me devoram,

Por te querer descobrir

Antes que seja tarde,

Antes que a memória esqueça o hino

Da felicidade,

De voar nas asas de um amor,

Que busco sedento de ninho,

De calor,

Em liberdade,

Qual Falcão Peregrino.

 

Vem,

Que se faz noite,

Alma gémea de mim...

Vem,

Para a peregrinação poder parar...

Vem,

Porque a viagem

Tem de ter um fim...

Vem,

Para que possamos alcançar

O vibrato feliz de um violino,

Que liberta o Falcão Peregrino.

 

Gil Saraiva

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Felicidade - IX

Felicidade.jpg

        IX

 

"FELICIDADE"

 

Dar asas à imaginação exige

Que nos afastemos da realidade...

Não podemos imaginar

Presos no colete de forças

Das normas e das leis,

Dos parâmetros sociais

Em que estamos envolvidos...

 

Imaginar

Implica liberdade de espírito,

De conceitos,

De regras e de tabus...

 

Tal como a imaginação

Apela a uma forte libertação

Também o amor demanda

Os mesmos procedimentos...

 

Para amar é preciso ser livre

E estar disposto a tudo...

 

A diferença entre amar e imaginar

Traduz-se no objetivo de cada um dos termos,

Na força implícita

Que em cada caso teremos que usar...

 

Se a finalidade da imaginação

Se retracta no ato criativo

De gerar um contexto

Nunca antes tornado cognitivo,

Em que o esforço pedido à mente

É apenas de abstração,

Já amar obriga à utilização

De todos os recursos do ser

E tem, por fim,

A conquista inequívoca

Do que se ama...

 

Uma certeza podemos ainda acrescentar:

Quem ama utiliza, vezes sem conta,

A imaginação como recurso, meio,

Perspetiva e criação

Dos seus cenários de futuro,

Tornados presente em cada hora...

 

Já quem imagina apenas se limita

A criar a metáfora de cenários

Ou futuros possíveis

Sem a preocupação de com eles atingir

Qualquer nível de alegria.

 

É aqui que reside

A diferença fundamental:

Imaginar solicita um ato criativo

Por si só suficiente,

Enquanto amar possibilita

Que se encontre a chave última da razão

Pela qual todos existimos:

A felicidade!...

 

Por tudo isto,

Eu confesso, neste testemunho,

Que sou livre e feliz:

Não só eu imagino que amo...

Como amo porque me tornei

Inegavelmente detentor

Da Felicidade!

 

 Gil Saraiva

 

 

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Pessoa Que Ri - VIII

Pessoa Que Ri.JPG

VIII

 

"PESSOA QUE RI..."

 

Renasci num bairro da cidade

Onde um dia,

 Faz tempo, nasci,

Lá para as bandas de Campo Grande,

Que mal conheço,

Talvez pelo tamanho...

Renasci num casamento,

O meu segundo

Ou quinto se não contarmos os papeis…

 

Num segundo,

Num momento,

Num clique,

Renasci ali,

Na Casa Fernando Pessoa

Onde casei de novo,

Convencido,

Quase meio século

Depois de ter nascido,

Que renascera mesmo

Em pleno Campo de Ourique...

 

De novo era gente,

Uma criatura nova,

Não na idade,

Que essa não deixa Cronos

Em cuidados,

Mas na vida.

 

Renasci porque vi

O que nunca ninguém viu,

Um Pessoa que ri…

 

Da improvável volta que dei

Na minha conturbada vida

Ou desta atualidade

Que nos cerca,

Deste Quinto Império

Em saldos,

Destes políticos

Sem espinha vertebral,

Num mar

Já salobro das lágrimas de Portugal.

 

Renasci

Na alma de um ser

Que, como eu,

Se sentia desaparecida a dada altura...

Um ser exatamente como tu,

Aquela que fez Pessoa rir,

Ao casar comigo

Em casa dele,

Sem consentimento do próprio...

 

Renasci e afinal,

Apenas sou

O único homem

Que viu Pessoa rir...

 

Gil Saraiva

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Rasto - VII

Rasto.jpg

VII

 

"RASTO"

 

Olhar o céu

E ver nas estrelas

O florir da primavera...

 

Sentir em cada uma

O perfume de uma flor!...

 

Tocar o infinito

Como quem toca uma quimera

Na essência vaporina

De um odor!...

 

Colher a mais perfeita,

Porém...

Da vista oculta,

Que não do meu sentir...

Que não do coração...

 

Sorrir só por sorrir!...

 

Em pétalas de amor

A desfolhar...

Entre meus dedos

Dar-lhe a forma

E um olhar...

 

Sentir a agitação do pólen

Me viciar o corpo,

Ir mais além...

Que ao infinito

Nunca foi ninguém!...

 

Regar,

Essa mais linda flor,

De vida,

De lágrimas de sémen

E saudade...

E ver nascer

Em folhas de prazer

Um novo amor,

Roubando assim à estrela

A liberdade!...

 

Ébrio de sonhos

Busco a flor oculta

Olhando o céu estrelado

E vasto...

 

Perdido de ilusão

Busco de novo...

Para encontrar apenas

O seu rasto...

 

Quem quiser ver

Florir a primavera,

Nas estrelas

Do universo imenso,

Tem que uma oculta flor

Ver brilhar

Sem que um qualquer outro

Possa vê-la!...

 

Para poder ser minha

A oculta estrela

Tem de pensar o mesmo

Do que eu penso,

Tem de por mim sentir

Um amor tão vasto...

Que eu possa,

Por amor,

Seguir-lhe o rasto!...

 

Gil Saraiva

 

 

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Eu Espero - VI

Eu Espero.jpg

VI

 

"EU ESPERO"

 

Penso sozinho, eu sei,

Na solidão...

E o silêncio, nas sombras,

Não me ajuda...

Apenas faz crescer

Minha paixão...

Apenas me corrói

E me tortura

Em processos de mágoas

E loucura!...

 

E como se agrava a minha dor...

Em mil momentos de pavor...

Pois quanto mais eu penso,

Mais eu sei,

O quanto me doi

E me magoa,

Ter na solidão a voz amiga

Ou um riso cínico de intriga!...

 

Onde estará o meu amor?

Será que me deseja

Ou que me insulta?

E pensará em mim

A flor oculta?

Porque será que amar

Também é dor...?

 

Talvez se sinta só,

Para além das estrelas,

Através de imaginária ponte...

Através da linha do horizonte

Vem com as ondas do mar,

Vem para amar...

 

Espuma de raiva incontida

De querer e me não ter,

Mas de ser vida...

Mas de ser, ser...

 

Ela sabe, ao certo,

Que a desejo...

Me conhece bem

Em cada beijo...

Ai! Como posso eu

Viver sem ela...?

 

Eu quero o meu amor aqui,

Comigo...

Brilhando com o brilho

De uma estrela!...

 

Sinto algures alguém...

Sinto um respirar na escuridão...

E sinto mesmo

Sem sentir ninguém

Porque oiço bater um coração,

No silêncio dos limbos

Que não vejo,

No escuro vagabundo

Onde desejo,

Qual Haragano,

Um etéreo ser,

Sem forma definida...

 

Eu a verei até,

Talvez, quem sabe,

Um outro Inverno...

 

E esperarei de pé,

Mesmo que a força acabe,

Na calote cristálica, glaciar,

No frio gelado de tão externo...

 

Se tiver de aguardar...

Aguardarei...

Aguardarei por meu amor eterno!...

 

Como um raio de Sol ela será...

Tão radiante

O gelo fundirá

E nada esconderá o seu semblante!

 

Viajar pela noite viajarei...

Guiando-me pela luz sem ter sinais...

A luz do seu amor, do meu amor,

A luz dos nossos ideais!...

 

E agora, por fim, nada mais digo...

Sei... sou... desejo... quero...

Eu sei, meu amor, o que consigo,

E grito:

"-Acredita amor... amor... eu espero!..."

 

Gil Saraiva

 

 

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Chamar Pai - V

Chamar Pai.jpg

         V

 

“CHAMAR PAI”

 

Na vida,

Em toda a vida existe apenas

Um ser a quem podemos chamar Pai.

 

Sobre o meu…

Eu lembro o Homem,

O ser maravilhoso,

O altruísta,

Carinhoso,

Atento, forte,

O tal pilar,

Que me fez gente,

Que me deu a pista

Da luta que é a vida,

Da conquista

Da honra, do saber,

Do caminhar…

 

Na vida,

Em toda a vida existe apenas

Um ser a quem podemos chamar Pai.

 

De grandes mãos,

Nem sempre carinhosas,

De voz grossa,

Nem sempre satisfeita,

De suor e trabalho,

De raça e proteção,

De luta em épocas nervosas,

De quem vigilante se não deita

Se dai depender no amanhã meu pão…

 

Na vida,

Em toda a vida existe apenas

Um ser a quem podemos chamar Pai.

 

Ele foi meu médico,

Enfermeiro, socorrista,

Meu mestre,

Meu modelo, meu herói,

O professor mais dedicado,

Mais atento,

O génio, o mago,

O alquimista,

Onde a minha vida se criou

E se constrói

Nas bases que não leva o vento

Porque são sólidas,

Quais colunas de aço,

Que me fizeram firme cada passo.

 

Na vida,

Em toda a vida existe apenas

Um ser a quem podemos chamar Pai.

 

Nem sempre o entendi,

Pensei, por vezes,

Que nem sequer me ouvia,

Que me ignorava o existir…

Mas, afinal, ele estava ali

Vigiando não só como eu crescia

Como se estava bem no progredir,

Nervoso por

Qual Anjo da Guarda

Me vigiar atento a retaguarda…

 

Na vida,

Em toda a vida existe apenas

Um ser a quem podemos chamar Pai.

 

Do amor que me ofereceu nada,

Em troca, pediu,

Nas asneiras que fiz

Me deu conselhos,

Dele tive suporte,

Parabéns e alegrias,

Felicidade sempre que sorriu,

Lágrimas nos difíceis dias,

Mas nunca desistiu,

Nunca partiu…

Meu Pai,

Meu amigo,

Companheiro,

Um exemplo para mim,

Para o mundo inteiro,

É alma pura

Em trono de marfim.

 

Ele é o meu exemplo

Mais perfeito,

Ele que vive para sempre

No meu peito…

 

Hoje

Podia ser Dia do Pai,

Bem que podia,

Mas Dia do meu Pai

É qualquer dia!

Se algo houvesse a fazer,

Por mim,

Ele o faria,

Mas nem por isso,

Muitas das vezes,

Me o diria…

 

Assim, era o meu Pai,

Severo, austero,

Sempre com uma piada

Atrás das costas,

Um amigo,

Mesmo um camarada,

Sempre pronto para tudo,

Do amor… à espada.

 

Na vida,

Em toda a vida existe apenas

Um ser a quem podemos chamar Pai.

 

Gil Saraiva

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Imagine-se - IV

Imagine-se.jpg

IV

 

"IMAGINE-SE..."

 

Imagine-se um mar de prata,

Bordado ao ouro macio

De um pôr-do-sol...

Deixemos agora

A nossa mente

Colocar algumas aves nidificando

Na costa fina de arbustos salgados,

Reserva natural

De um qualquer sonhado paraíso...

 

Em silêncio,

Os bateres de asas

Confundem-se com o restolhar do vento

Que sorri para primavera,

Agora tão tangível...

 

O sentimento é, por certo, de harmonia!...

 

Para quem não sente em verso

O deleite que os sentidos propiciam,

Recomendo que respirem fundo...

Deixem entrar languidamente

O cheiro a maresia...

 

Issooo!...

 

Procurem agora sentir

A aragem vos acariciar,

De leve,

Passando-se, suave,

Pelo brilho dos olhos

E obrigando ao esvoaçar de alguns cabelos...

 

Com o olhar,

Sigam as aves

Que gritam cânticos de amor

E de acasalamento...

 

Se entreabrirem os lábios,

As papilas vão, por certo,

Detetar o gosto a mar,

O gozo das sensações plenas

E do encontro puro e idílico com Gaia,

A deusa que, voluptuosa,

Representa a Terra original...

 

Sentem?

Agora pensem,

Com um sorriso,

Num bem-querer ausente...

 

Procurem influenciar a mente,

Mas sem esforço...

 

Issoooooo!...

 

Estão a contemplar a sereia?

Nem sempre a conseguimos vislumbrar,

Mas ela existe

E responde por:

Amor…

 

É no exato instante

De sensual e romântica lasciva,

Em que de joelhos nos dobramos

Para colher uma flor

De beira de caminho

Que nos sentimos integrados,

Cheios de afeto,

De vida e de natura,

Enfim...

De plenitude!!!

 

Imagine-se

Um mar de prata,

Bordado ao ouro macio

De um pôr-do-sol

E conclua-se

Que, afinal,

Amar é simples...

 

Senão...

O mar seria água

E nada mais,

As aves: pássaros,

E a reserva: pântano...

 

Imagine-se...

 

 

Gil Saraiva

 

Nota: dedicado à Ria Formosa, Algarve, Portugal

 

 

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: O Crepúsculo - III

O Crepúsculo.jpg

           III

 

"O CREPÚSCULO..."

 

Não sei porque encontro beleza

Num vespertino entardecer...

 

Vejo pior,

Tudo parece envolto numa bruma

Feita de cinzas sem forma,

De contornos mal definidos,

De brilho escasso...

 

Perco a noção da distância,

Esforço o olhar

E fico perdido

Na indefinição das formas...

Não capto o cinismo

De quem não me quer bem...

 

O pôr do Sol

Muda-me a cor às coisas

Sem aviso prévio,

Num fogo que não queima

Mas que arde

De emoções que me confundem...

Porque gosto delas...

Estranho... não?

 

Desgasta-se num ápice a luz

Do Astro Rei,

O brilho cristalino

Dá lugar a uma escuridão

Salpicada de breves lampejos estrelares

Que, pouco ou nada,

Ajudam na poupança de energia,

Nos lares de milhões,

A quem a noite afaga...

 

Junto à falésia

O Falcão regressa ao ninho,

E, nós, saímos da rua,

Correndo para casa,

Em busca da fluorescência

Da lâmpada da cozinha...

 

Mas todos gostamos do entardecer,

Do crepúsculo,

Do ciclo infindo

Que se repete a cada dia...

 

Aqui, olhando as rochas,

Que clamam liberdade,

Na praia deserta,

Erguidas das águas para o céu,

Fugindo ao mar,

No brilho esbelto do Sol

Que já vai indo,

Tento pensar... porquê...?!

 

Talvez... porque a penumbra

Nos torna mais atentos,

De sentidos em alerta,

De um apuro extremo,

Em condições otimizadas

Para abrirmos o coração

Mais facilmente

E sermos românticos...

 

Ou, talvez,

Porque o crepúsculo,

Ao chegar,

Também anuncia a madrugada

Que virá, por certo,

Num novo amanhecer...

 

O crepúsculo também anuncia a madrugada

E, como Jano,

Que não tem uma só face,

Ao chegarem as trevas,

Temos sempre

Aquela certeza interiorizada

De que a alvorada se fará,

Não tarda...

 

Dialéticas da alma,

Na dicotomia que nos faz sentir

E ir em frente,

Entre o negro dos rochedos

E o branco dourado do Sol que desce,

Amando ou chorando,

Rindo ou desprezando...

Mas...

Eternamente envoltos

Num crepúsculo

Que simboliza a esperança

De uma nova luz,

Que há de chegar,

Depois da noite ultrapassada...

 

Adoro esse crepúsculo

Que me traz as noites em que amo

Ou temo...

Que me dá os dias em que o riso

É esperança...

 

Caramba,

Afinal, não é à toa que o crepúsculo

Também anuncia a madrugada...

 

Gil Saraiva

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Biunivocamente - II

Biunivocamente.jpg

            II

 

"BIUNIVOCAMENTE..."

 

Tu és o aroma

Que meus passos

Adoram percorrer,

O sorriso que ilumina

O fundo da minha alma,

A vida pela qual

Eu acabo por descobrir

Que tudo valeu a pena...

 

Mais do que a flor

És a essência,

A coerência,

A relação adequada

Entre o sentir

Que te transmito

Pelo conhecimento do que és

E o amor que me difundes

No cerne desse mundo

Que te constitui...

 

A essência...

A verdade...

A pureza dos princípios,

A lógica ordenada

De nossos olhares,

A ordem afrodisíaca

De uma linguagem mista,

Linguisticamente pura,

Absolutamente articulada,

Interativa...

 

Onde o discurso de incoerente

Desagua em ideias

Plenas de subjetividade,

De nuances incompreensíveis,

Em que tudo se resume

Àquilo a que o coração

Chama de Amor...

 

Tu és o aroma,

O texto sagrado

De uma religião paranormal

Porque transcendente da razão...

 

Tu és o acontecimento,

A situação e mais ainda,

A equívoca equação

Que não se anula

Mas se traduz no íntimo

Deste teu interlocutor...

 

A falta de univocidade

Pode transformar nossas palavras

Num lugar indefinido

Que nenhum de nós

Consegue controlar...

 

Mas controlar para quê?

Importa sim sentir...

Sim... sentir...

 

O aroma

Que meus passos adoram percorrer,

O discurso de ideias

Plenas de subjetividade,

O texto sagrado

De uma religião paranormal,

A equívoca equação

Que não se anula,

O lugar indefinido,

Sem norma, sem razão,

Sem leis, sem regras,

Em que biunivocamente

Nos amamos!...

 

Gil Saraiva

 

 

Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Introdução

Falcão Peregrino.jpg

INTRODUÇÃO

O Falcão Peregrino, é das poucas aves que pode ser encontrada em todos os continentes, excetuando a Antártica. Estou a falar de um pássaro solitário, que se encontra espalhado por quase todo o mundo e que migra, em muitos casos, para nidificar ou para procurar novos terrenos, muitas vezes mais abundantes em alimentação. Fosse eu um poeta andino este livro teria, muito provavelmente, o nome de “El Condor Pasa”, contudo, não é esse o caso e, sendo eu um escritor luso, o Falcão Peregrino é o animal, que melhor representa este vagabundo de sonhos e sentimentos, que me constitui. Um ser constantemente na busca de um território onde se sinta bem, numa quase vadiagem permanente, por falta de localizar um espaço, onde faça sentido viver, porque, para subsistir, preciso de amar.

Eu sou um predador de emoções, de sentidos e sentimentos, de vivências que me apontem o caminho da felicidade. Posso não ter a equidade visual do falcão, mas tenho, na ponta tátil dos meus dedos, na deteção dos aromas, na infinita imaginação da minha alma, os meios para detetar, não a presa como a ave, mas o amor de que necessito para existir e sobreviver em alegria.

O meu ego peregrino não é o mais veloz do mundo, como o voo do pássaro que aqui me representa, porém, a minha existência viaja, com a mesma velocidade vertiginosa, na senda de um outro existir que me complete, que me permita extinguir a solidão que me cobre os poros, como uma capa transparente, que me impede de, finalmente, alcançar a desejada satisfação e bem-estar.

O desejo de me apartar do meu cativeiro de falcão é vibrante, premente, ansioso e parece não ter fim ou meta à vista. Onde se encontra a alma gémea que me dará descanso, plenitude, razão de ser e de viver em felicidade? Quando terminará a viagem do peregrino ermita cuja sina é a solidão, até um dia encontrar quem procura, sem previamente poder saber a quem busca, nos seus infindos voos de alma?

Tudo tem de ter um fim. Porém, será que esta prospeção me poderá trazer, um dia, a alegria da descoberta? Anseio pela resposta como por essa nova experiência de existir. No meu estro perscruto pela musa de meus versos, vasculhando-me o cerne, a alma, o ego e o coração. A minha esperança morrerá se, entretanto, eu sucumbir, mas, até lá, o Falcão Peregrino não para de voar, numa caça sem armas que não seja o pulsar do coração.

Gil Saraiva

 

Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 2003 e 2009.

 

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