X
"FALCÃO PEREGRINO"
Vagabundo dos Limbos,
Haragano, O Etéreo,
Senhor da Bruma,
Um Falcão Peregrino,
Que vagueia pela net
Olhando todos
E ninguém,
Como quem olha as montras
Sem poder comprar,
Como quem tem fome de existir
Nos sentimentos profundos
De outro alguém...
Como quem procura a eternidade
Sem saber que ser feliz
Se encontra
Num simples e mágico segundo...
Sou como quem
Inesperadamente descobre
Que o segredo do amor
Começa em si mesmo
Mas que tem de terminar
Num outro alguém
Para se desvendar,
Em farrapos de divino infinito,
Em nossa alma...
Serei eu
O Falcão Peregrino,
Descobrindo o mundo
Apenas por te querer
Perto, próxima, tangível
E real?
Serei eu
A ave implacável,
Na busca insana,
Ávida de lar,
Completo de ser e de existir,
Porque nela bate um coração menino,
Pela simplicidade dos desejos,
Dos olhares
E do sentir?
Sim, eu sou o timbre do sino,
Que ecoa pelas serras e vales,
Na senda
De se fazer ouvir...
Eu sou o predador dos males
Que me devoram,
Por te querer descobrir
Antes que seja tarde,
Antes que a memória esqueça o hino
Da felicidade,
De voar nas asas de um amor,
Que busco sedento de ninho,
De calor,
Em liberdade,
Qual Falcão Peregrino.
Vem,
Que se faz noite,
Alma gémea de mim...
Vem,
Para a peregrinação poder parar...
Vem,
Porque a viagem
Tem de ter um fim...
Vem,
Para que possamos alcançar
O vibrato feliz de um violino,
Que liberta o Falcão Peregrino.
Gil Saraiva
IX
"FELICIDADE"
Dar asas à imaginação exige
Que nos afastemos da realidade...
Não podemos imaginar
Presos no colete de forças
Das normas e das leis,
Dos parâmetros sociais
Em que estamos envolvidos...
Imaginar
Implica liberdade de espírito,
De conceitos,
De regras e de tabus...
Tal como a imaginação
Apela a uma forte libertação
Também o amor demanda
Os mesmos procedimentos...
Para amar é preciso ser livre
E estar disposto a tudo...
A diferença entre amar e imaginar
Traduz-se no objetivo de cada um dos termos,
Na força implícita
Que em cada caso teremos que usar...
Se a finalidade da imaginação
Se retracta no ato criativo
De gerar um contexto
Nunca antes tornado cognitivo,
Em que o esforço pedido à mente
É apenas de abstração,
Já amar obriga à utilização
De todos os recursos do ser
E tem, por fim,
A conquista inequívoca
Do que se ama...
Uma certeza podemos ainda acrescentar:
Quem ama utiliza, vezes sem conta,
A imaginação como recurso, meio,
Perspetiva e criação
Dos seus cenários de futuro,
Tornados presente em cada hora...
Já quem imagina apenas se limita
A criar a metáfora de cenários
Ou futuros possíveis
Sem a preocupação de com eles atingir
Qualquer nível de alegria.
É aqui que reside
A diferença fundamental:
Imaginar solicita um ato criativo
Por si só suficiente,
Enquanto amar possibilita
Que se encontre a chave última da razão
Pela qual todos existimos:
A felicidade!...
Por tudo isto,
Eu confesso, neste testemunho,
Que sou livre e feliz:
Não só eu imagino que amo...
Como amo porque me tornei
Inegavelmente detentor
Da Felicidade!
Gil Saraiva
VIII
"PESSOA QUE RI..."
Renasci num bairro da cidade
Onde um dia,
Faz tempo, nasci,
Lá para as bandas de Campo Grande,
Que mal conheço,
Talvez pelo tamanho...
Renasci num casamento,
O meu segundo
Ou quinto se não contarmos os papeis…
Num segundo,
Num momento,
Num clique,
Renasci ali,
Na Casa Fernando Pessoa
Onde casei de novo,
Convencido,
Quase meio século
Depois de ter nascido,
Que renascera mesmo
Em pleno Campo de Ourique...
De novo era gente,
Uma criatura nova,
Não na idade,
Que essa não deixa Cronos
Em cuidados,
Mas na vida.
Renasci porque vi
O que nunca ninguém viu,
Um Pessoa que ri…
Da improvável volta que dei
Na minha conturbada vida
Ou desta atualidade
Que nos cerca,
Deste Quinto Império
Em saldos,
Destes políticos
Sem espinha vertebral,
Num mar
Já salobro das lágrimas de Portugal.
Renasci
Na alma de um ser
Que, como eu,
Se sentia desaparecida a dada altura...
Um ser exatamente como tu,
Aquela que fez Pessoa rir,
Ao casar comigo
Em casa dele,
Sem consentimento do próprio...
Renasci e afinal,
Apenas sou
O único homem
Que viu Pessoa rir...
Gil Saraiva
VII
"RASTO"
Olhar o céu
E ver nas estrelas
O florir da primavera...
Sentir em cada uma
O perfume de uma flor!...
Tocar o infinito
Como quem toca uma quimera
Na essência vaporina
De um odor!...
Colher a mais perfeita,
Porém...
Da vista oculta,
Que não do meu sentir...
Que não do coração...
Sorrir só por sorrir!...
Em pétalas de amor
A desfolhar...
Entre meus dedos
Dar-lhe a forma
E um olhar...
Sentir a agitação do pólen
Me viciar o corpo,
Ir mais além...
Que ao infinito
Nunca foi ninguém!...
Regar,
Essa mais linda flor,
De vida,
De lágrimas de sémen
E saudade...
E ver nascer
Em folhas de prazer
Um novo amor,
Roubando assim à estrela
A liberdade!...
Ébrio de sonhos
Busco a flor oculta
Olhando o céu estrelado
E vasto...
Perdido de ilusão
Busco de novo...
Para encontrar apenas
O seu rasto...
Quem quiser ver
Florir a primavera,
Nas estrelas
Do universo imenso,
Tem que uma oculta flor
Ver brilhar
Sem que um qualquer outro
Possa vê-la!...
Para poder ser minha
A oculta estrela
Tem de pensar o mesmo
Do que eu penso,
Tem de por mim sentir
Um amor tão vasto...
Que eu possa,
Por amor,
Seguir-lhe o rasto!...
Gil Saraiva
VI
"EU ESPERO"
Penso sozinho, eu sei,
Na solidão...
E o silêncio, nas sombras,
Não me ajuda...
Apenas faz crescer
Minha paixão...
Apenas me corrói
E me tortura
Em processos de mágoas
E loucura!...
E como se agrava a minha dor...
Em mil momentos de pavor...
Pois quanto mais eu penso,
Mais eu sei,
O quanto me doi
E me magoa,
Ter na solidão a voz amiga
Ou um riso cínico de intriga!...
Onde estará o meu amor?
Será que me deseja
Ou que me insulta?
E pensará em mim
A flor oculta?
Porque será que amar
Também é dor...?
Talvez se sinta só,
Para além das estrelas,
Através de imaginária ponte...
Através da linha do horizonte
Vem com as ondas do mar,
Vem para amar...
Espuma de raiva incontida
De querer e me não ter,
Mas de ser vida...
Mas de ser, ser...
Ela sabe, ao certo,
Que a desejo...
Me conhece bem
Em cada beijo...
Ai! Como posso eu
Viver sem ela...?
Eu quero o meu amor aqui,
Comigo...
Brilhando com o brilho
De uma estrela!...
Sinto algures alguém...
Sinto um respirar na escuridão...
E sinto mesmo
Sem sentir ninguém
Porque oiço bater um coração,
No silêncio dos limbos
Que não vejo,
No escuro vagabundo
Onde desejo,
Qual Haragano,
Um etéreo ser,
Sem forma definida...
Eu a verei até,
Talvez, quem sabe,
Um outro Inverno...
E esperarei de pé,
Mesmo que a força acabe,
Na calote cristálica , glaciar,
No frio gelado de tão externo...
Se tiver de aguardar...
Aguardarei...
Aguardarei por meu amor eterno!...
Como um raio de Sol ela será...
Tão radiante
O gelo fundirá
E nada esconderá o seu semblante!
Viajar pela noite viajarei...
Guiando-me pela luz sem ter sinais...
A luz do seu amor, do meu amor,
A luz dos nossos ideais!...
E agora, por fim, nada mais digo...
Sei... sou... desejo... quero...
Eu sei, meu amor, o que consigo,
E grito:
"-Acredita amor... amor... eu espero!..."
Gil Saraiva
V
“CHAMAR PAI”
Na vida,
Em toda a vida existe apenas
Um ser a quem podemos chamar Pai.
Sobre o meu…
Eu lembro o Homem,
O ser maravilhoso,
O altruísta,
Carinhoso,
Atento, forte,
O tal pilar,
Que me fez gente,
Que me deu a pista
Da luta que é a vida,
Da conquista
Da honra, do saber,
Do caminhar…
Na vida,
Em toda a vida existe apenas
Um ser a quem podemos chamar Pai.
De grandes mãos,
Nem sempre carinhosas,
De voz grossa,
Nem sempre satisfeita,
De suor e trabalho,
De raça e proteção,
De luta em épocas nervosas,
De quem vigilante se não deita
Se dai depender no amanhã meu pão…
Na vida,
Em toda a vida existe apenas
Um ser a quem podemos chamar Pai.
Ele foi meu médico,
Enfermeiro, socorrista,
Meu mestre,
Meu modelo, meu herói,
O professor mais dedicado,
Mais atento,
O génio, o mago,
O alquimista,
Onde a minha vida se criou
E se constrói
Nas bases que não leva o vento
Porque são sólidas,
Quais colunas de aço,
Que me fizeram firme cada passo.
Na vida,
Em toda a vida existe apenas
Um ser a quem podemos chamar Pai.
Nem sempre o entendi,
Pensei, por vezes,
Que nem sequer me ouvia,
Que me ignorava o existir…
Mas, afinal, ele estava ali
Vigiando não só como eu crescia
Como se estava bem no progredir,
Nervoso por
Qual Anjo da Guarda
Me vigiar atento a retaguarda…
Na vida,
Em toda a vida existe apenas
Um ser a quem podemos chamar Pai.
Do amor que me ofereceu nada,
Em troca, pediu,
Nas asneiras que fiz
Me deu conselhos,
Dele tive suporte,
Parabéns e alegrias,
Felicidade sempre que sorriu,
Lágrimas nos difíceis dias,
Mas nunca desistiu,
Nunca partiu…
Meu Pai,
Meu amigo,
Companheiro,
Um exemplo para mim,
Para o mundo inteiro,
É alma pura
Em trono de marfim.
Ele é o meu exemplo
Mais perfeito,
Ele que vive para sempre
No meu peito…
Hoje
Podia ser Dia do Pai,
Bem que podia,
Mas Dia do meu Pai
É qualquer dia!
Se algo houvesse a fazer,
Por mim,
Ele o faria,
Mas nem por isso,
Muitas das vezes,
Me o diria…
Assim, era o meu Pai,
Severo, austero,
Sempre com uma piada
Atrás das costas,
Um amigo,
Mesmo um camarada,
Sempre pronto para tudo,
Do amor… à espada.
Na vida,
Em toda a vida existe apenas
Um ser a quem podemos chamar Pai.
Gil Saraiva
IV
"IMAGINE-SE..."
Imagine-se um mar de prata,
Bordado ao ouro macio
De um pôr-do-sol...
Deixemos agora
A nossa mente
Colocar algumas aves nidificando
Na costa fina de arbustos salgados,
Reserva natural
De um qualquer sonhado paraíso...
Em silêncio,
Os bateres de asas
Confundem-se com o restolhar do vento
Que sorri para primavera,
Agora tão tangível...
O sentimento é, por certo, de harmonia!...
Para quem não sente em verso
O deleite que os sentidos propiciam,
Recomendo que respirem fundo...
Deixem entrar languidamente
O cheiro a maresia...
Issooo!...
Procurem agora sentir
A aragem vos acariciar,
De leve,
Passando-se, suave,
Pelo brilho dos olhos
E obrigando ao esvoaçar de alguns cabelos...
Com o olhar,
Sigam as aves
Que gritam cânticos de amor
E de acasalamento...
Se entreabrirem os lábios,
As papilas vão, por certo,
Detetar o gosto a mar,
O gozo das sensações plenas
E do encontro puro e idílico com Gaia,
A deusa que, voluptuosa,
Representa a Terra original...
Sentem?
Agora pensem,
Com um sorriso,
Num bem-querer ausente...
Procurem influenciar a mente,
Mas sem esforço...
Issoooooo!...
Estão a contemplar a sereia?
Nem sempre a conseguimos vislumbrar,
Mas ela existe
E responde por:
Amor…
É no exato instante
De sensual e romântica lasciva,
Em que de joelhos nos dobramos
Para colher uma flor
De beira de caminho
Que nos sentimos integrados,
Cheios de afeto,
De vida e de natura,
Enfim...
De plenitude!!!
Imagine-se
Um mar de prata,
Bordado ao ouro macio
De um pôr-do-sol
E conclua-se
Que, afinal,
Amar é simples...
Senão...
O mar seria água
E nada mais,
As aves: pássaros,
E a reserva: pântano...
Imagine-se...
Gil Saraiva
Nota: dedicado à Ria Formosa, Algarve, Portugal
III
"O CREPÚSCULO..."
Não sei porque encontro beleza
Num vespertino entardecer...
Vejo pior,
Tudo parece envolto numa bruma
Feita de cinzas sem forma,
De contornos mal definidos,
De brilho escasso...
Perco a noção da distância,
Esforço o olhar
E fico perdido
Na indefinição das formas...
Não capto o cinismo
De quem não me quer bem...
O pôr do Sol
Muda-me a cor às coisas
Sem aviso prévio,
Num fogo que não queima
Mas que arde
De emoções que me confundem...
Porque gosto delas...
Estranho... não?
Desgasta-se num ápice a luz
Do Astro Rei,
O brilho cristalino
Dá lugar a uma escuridão
Salpicada de breves lampejos estrelares
Que, pouco ou nada,
Ajudam na poupança de energia,
Nos lares de milhões,
A quem a noite afaga...
Junto à falésia
O Falcão regressa ao ninho,
E, nós, saímos da rua,
Correndo para casa,
Em busca da fluorescência
Da lâmpada da cozinha...
Mas todos gostamos do entardecer,
Do crepúsculo,
Do ciclo infindo
Que se repete a cada dia...
Aqui, olhando as rochas,
Que clamam liberdade,
Na praia deserta,
Erguidas das águas para o céu,
Fugindo ao mar,
No brilho esbelto do Sol
Que já vai indo,
Tento pensar... porquê...?!
Talvez... porque a penumbra
Nos torna mais atentos,
De sentidos em alerta,
De um apuro extremo,
Em condições otimizadas
Para abrirmos o coração
Mais facilmente
E sermos românticos...
Ou, talvez,
Porque o crepúsculo,
Ao chegar,
Também anuncia a madrugada
Que virá, por certo,
Num novo amanhecer...
O crepúsculo também anuncia a madrugada
E, como Jano,
Que não tem uma só face,
Ao chegarem as trevas,
Temos sempre
Aquela certeza interiorizada
De que a alvorada se fará,
Não tarda...
Dialéticas da alma,
Na dicotomia que nos faz sentir
E ir em frente,
Entre o negro dos rochedos
E o branco dourado do Sol que desce,
Amando ou chorando,
Rindo ou desprezando...
Mas...
Eternamente envoltos
Num crepúsculo
Que simboliza a esperança
De uma nova luz,
Que há de chegar,
Depois da noite ultrapassada...
Adoro esse crepúsculo
Que me traz as noites em que amo
Ou temo...
Que me dá os dias em que o riso
É esperança...
Caramba,
Afinal, não é à toa que o crepúsculo
Também anuncia a madrugada...
Gil Saraiva
II
"BIUNIVOCAMENTE..."
Tu és o aroma
Que meus passos
Adoram percorrer,
O sorriso que ilumina
O fundo da minha alma,
A vida pela qual
Eu acabo por descobrir
Que tudo valeu a pena...
Mais do que a flor
És a essência,
A coerência,
A relação adequada
Entre o sentir
Que te transmito
Pelo conhecimento do que és
E o amor que me difundes
No cerne desse mundo
Que te constitui...
A essência...
A verdade...
A pureza dos princípios,
A lógica ordenada
De nossos olhares,
A ordem afrodisíaca
De uma linguagem mista,
Linguisticamente pura,
Absolutamente articulada,
Interativa...
Onde o discurso de incoerente
Desagua em ideias
Plenas de subjetividade,
De nuances incompreensíveis,
Em que tudo se resume
Àquilo a que o coração
Chama de Amor...
Tu és o aroma,
O texto sagrado
De uma religião paranormal
Porque transcendente da razão...
Tu és o acontecimento,
A situação e mais ainda,
A equívoca equação
Que não se anula
Mas se traduz no íntimo
Deste teu interlocutor...
A falta de univocidade
Pode transformar nossas palavras
Num lugar indefinido
Que nenhum de nós
Consegue controlar...
Mas controlar para quê?
Importa sim sentir...
Sim... sentir...
O aroma
Que meus passos adoram percorrer,
O discurso de ideias
Plenas de subjetividade,
O texto sagrado
De uma religião paranormal,
A equívoca equação
Que não se anula,
O lugar indefinido,
Sem norma, sem razão,
Sem leis, sem regras,
Em que biunivocamente
Nos amamos!...
Gil Saraiva
INTRODUÇÃO
O Falcão Peregrino, é das poucas aves que pode ser encontrada em todos os continentes, excetuando a Antártica. Estou a falar de um pássaro solitário, que se encontra espalhado por quase todo o mundo e que migra, em muitos casos, para nidificar ou para procurar novos terrenos, muitas vezes mais abundantes em alimentação. Fosse eu um poeta andino este livro teria, muito provavelmente, o nome de “El Condor Pasa”, contudo, não é esse o caso e, sendo eu um escritor luso, o Falcão Peregrino é o animal, que melhor representa este vagabundo de sonhos e sentimentos, que me constitui. Um ser constantemente na busca de um território onde se sinta bem, numa quase vadiagem permanente, por falta de localizar um espaço, onde faça sentido viver, porque, para subsistir, preciso de amar.
Eu sou um predador de emoções, de sentidos e sentimentos, de vivências que me apontem o caminho da felicidade. Posso não ter a equidade visual do falcão, mas tenho, na ponta tátil dos meus dedos, na deteção dos aromas, na infinita imaginação da minha alma, os meios para detetar, não a presa como a ave, mas o amor de que necessito para existir e sobreviver em alegria.
O meu ego peregrino não é o mais veloz do mundo, como o voo do pássaro que aqui me representa, porém, a minha existência viaja, com a mesma velocidade vertiginosa, na senda de um outro existir que me complete, que me permita extinguir a solidão que me cobre os poros, como uma capa transparente, que me impede de, finalmente, alcançar a desejada satisfação e bem-estar.
O desejo de me apartar do meu cativeiro de falcão é vibrante, premente, ansioso e parece não ter fim ou meta à vista. Onde se encontra a alma gémea que me dará descanso, plenitude, razão de ser e de viver em felicidade? Quando terminará a viagem do peregrino ermita cuja sina é a solidão, até um dia encontrar quem procura, sem previamente poder saber a quem busca, nos seus infindos voos de alma?
Tudo tem de ter um fim. Porém, será que esta prospeção me poderá trazer, um dia, a alegria da descoberta? Anseio pela resposta como por essa nova experiência de existir. No meu estro perscruto pela musa de meus versos, vasculhando-me o cerne, a alma, o ego e o coração. A minha esperança morrerá se, entretanto, eu sucumbir, mas, até lá, o Falcão Peregrino não para de voar, numa caça sem armas que não seja o pulsar do coração.
Gil Saraiva
Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 2003 e 2009.