![Felicidade.jpg Felicidade.jpg]()
IX
"FELICIDADE"
Dar asas à imaginação exige
Que nos afastemos da realidade...
Não podemos imaginar
Presos no colete de forças
Das normas e das leis,
Dos parâmetros sociais
Em que estamos envolvidos...
Imaginar
Implica liberdade de espírito,
De conceitos,
De regras e de tabus...
Tal como a imaginação
Apela a uma forte libertação
Também o amor demanda
Os mesmos procedimentos...
Para amar é preciso ser livre
E estar disposto a tudo...
A diferença entre amar e imaginar
Traduz-se no objetivo de cada um dos termos,
Na força implícita
Que em cada caso teremos que usar...
Se a finalidade da imaginação
Se retracta no ato criativo
De gerar um contexto
Nunca antes tornado cognitivo,
Em que o esforço pedido à mente
É apenas de abstração,
Já amar obriga à utilização
De todos os recursos do ser
E tem, por fim,
A conquista inequívoca
Do que se ama...
Uma certeza podemos ainda acrescentar:
Quem ama utiliza, vezes sem conta,
A imaginação como recurso, meio,
Perspetiva e criação
Dos seus cenários de futuro,
Tornados presente em cada hora...
Já quem imagina apenas se limita
A criar a metáfora de cenários
Ou futuros possíveis
Sem a preocupação de com eles atingir
Qualquer nível de alegria.
É aqui que reside
A diferença fundamental:
Imaginar solicita um ato criativo
Por si só suficiente,
Enquanto amar possibilita
Que se encontre a chave última da razão
Pela qual todos existimos:
A felicidade!...
Por tudo isto,
Eu confesso, neste testemunho,
Que sou livre e feliz:
Não só eu imagino que amo...
Como amo porque me tornei
Inegavelmente detentor
Da Felicidade!
Gil Saraiva
![Amanhã.jpg Amanhã.jpg]()
X
"AMANHÃ"
A manhã passou
Pela minha pele
O radioso sorriso
Do seu Sol...
A dançar,
Atravessei as portas
Da alma...
Lá dentro
Um hino erguia-se mais alto
Com sons de dádiva
E oração...
Um hino à vida,
Uma melodia plena
De odores de amor,
Correndo entre essências,
Que germinam existências,
Num ocaso rubro de ilusões...
Rara visão esta!...
A um canto,
Para lá das portas da alma,
Um caixão coberto de flores
Parecia sozinho...
Porém, na sombra,
Uma velha senhora,
Aparentando ter morrido,
Velava abandonada
Numa cadeira feita de mágoa e dor...
Velava a morte,
Dentro do caixão,
Entre pétalas e espinhos:
Pétalas de amor;
Espinhos de tristeza...
A senhora,
A quem o tempo que passou
Chamou de eternidade,
Parecia não sair dali...
Todavia,
Olhando em redor,
Lá a fui descobrindo,
Um pouco
Em toda a parte!
Já não sofria
No canto da felicidade!...
Ria, dançando,
Ao ritmo vivo da alegria!
Noutro, o da saudade,
Chorava
Rios de suspiros
E lagos de esperança...
Mais além,
No recanto do amor,
Parecia ter dezoito anos
Tal era a orla
Repleta de Emoção...
A manhã passou
Pelos meus lábios
Num sensual beijo
De existir...
E, sem querer,
Descobri,
Nesse momento,
Porque vale a pena
Esperar por amanhã!
Gil Saraiva
![DSCF1506.JPG DSCF1506.JPG]()
X
“OS CHALÉS”
Como peças de um grande dominó
Os chalés vestem a encosta
Do Morro de S. Paulo: É Portaló…
Se do Pessoa eu vejo bem o porto
Nos outros se tem igual conforto…
Temos Zélia Gatai, Voltaire
E Jorge Amado,
José de Alencar, Júlio Verne,
José Saramago…
Temos Marguerite Duras
E emoções
Seja em Machado de Assis,
Luís de Camões,
Nas aventuras
De Alexandre Dumas,
Joaquim Ubaldo Ribeiro
Ou Eça de Queirós
Por entre as brumas…
Castro Alves tem também telheiro,
E nem os miseráveis são refugo
Pois que aqui tem também,
Seu chalé, o Vítor Hugo…
Todos estes chalés de Portaló,
Têm nomes de escritores imortais,
Porque a ilha inspira e trás à mó
Os mais férteis e profícuos cereais,
Que depois de moídos e tratados
Geram um mosto, quando combinados
Com extratos de estros especiais.
Aqui amor eu escrevo entre chalés,
O que sou, o que amo, como te adoro,
Aqui eu te descrevo como és,
Por ti eu grito, riu, gozo e choro.
Aqui a fantasia é mais real,
Nestas cabanas na mata integradas,
Chalés atlânticos, casinhas enquadradas,
Num ambiente perfeito e natural.
Jamais aqui me ouvirás pedir socorro,
Vamos ficar por cá, para sempre, querida,
Tu que és a felicidade desta minha vida
Fica comigo para sempre neste morro.
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![Mil Amores.JPG Mil Amores.JPG]()
IV
“MIL AMORES”
No ar, o som das aves é vida,
É luz que brilha atrevida,
É música, é alegria
Cantada, como por magia,
Em tom de felicidade
Com força, com garra, com vontade…
Pelas calçadas e valados
De um cinza feito de matizes,
Onde desponta, aqui e ali, a cor da terra,
Pelos arbustos salpicados
Entre o verde das copas
E o amarelo das raízes,
Por entre tons do morro
Que lembram a serra,
Pelo verde, da erva, tão garrido,
Pelas pétalas que o tornam colorido,
Por toda a parte, enfim,
Pairam aromas mil
De mil e uma flores,
Pairam partes de mim
Enfeitiçado pelo estio primaveril,
Por Portaló,
Por mil amores…
Mil amores de ti amada minha,
Tu que ao existires,
Me dás sentido,
Tu que me fazes rei,
Por seres rainha,
De mil amores contados
Ao ouvido…
Por ti eu sou alguém,
Dentro de ti, vassalo e rei,
Senhor da Bruma, e mais além
Serei
De tudo o que, por ti,
Eu conquistei.
Chamas-me e me invades
Em fervores,
Que, vindos de ti,
São mil amores…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![O Refúgio.JPG O Refúgio.JPG]()
II
“O REFÚGIO”
Venham visitar o refúgio
Dos poetas, criadores,
Dos amantes, pensadores,
Sem subterfúgio
Entrar com amor,
Vir sentir a paz
E a harmonia,
Num descanso tão consolador
Seja no pôr-do-sol
Ou no raiar do dia…
É aqui que escrevo
Eu estas linhas,
É aqui que estou
Eu deslumbrado,
Tentando colocar nas entrelinhas
O quanto aqui me sinto
Apaixonado…
O Portaló tem um manto de magia,
Algo me faz sentir
Enfeitiçado,
Como se num cerne de alegria
Fosse possível tocar
A nostalgia,
Sem ficar triste ou angustiado.
Beijar a saudade
Que já sinto deste lugar
Onde a realidade
É lagrima de mar
Em felicidade.
Aqui, neste refúgio, não estou só,
Aqui me sinto amado
E desejado,
Aqui, neste hotel de Portaló,
Nem penso no futuro,
Esqueço o passado,
Me sinto tão seguro
E só penso em pecado.
Anda amor, vem, vamos amar,
Dançar o dentro e fora,
Com loucura,
Adoro ouvir-te em êxtase gritar:
“- No refúgio, amor, mete mais.
Ah! Está tão dura.”
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![Porto e Portal.jpg Porto e Portal.jpg]()
“PORTO E PORTAL”
Morro de S. Paulo, Tinharé,
Cheira a Brasil e a saudade,
Aroma mais puro que o café,
Um cheiro profundo
A felicidade…
Descer na paisagem,
Até tocar o mar,
Por rampa de miragem
Singular,
Onde carros de mão,
De malas cheios,
Dizem ser táxis,
Sobem de escalão,
Movidos a braços
Num calor de Verão…
E atracado bem perto a um portal
Que com coragem a tudo resiste,
Feito de séculos, pedras e de cal,
De obra humana firme que persiste,
Qual testemunha histórica da vila,
Eis que se pode vislumbrar o porto…
Subir, descer, andar, pareceu desporto,
Recebem-se os turistas de mochila
Pois no ponto de entrada e de saída,
Neste recanto onde o amor cintila,
A paisagem parece desmedida…
De um lado, o morro da saudade
Ou de São Paulo, bem colorido,
A onde o sonho vira realidade,
Do outro, o portal, o porto, o mar
E lá no fim, quase que esquecido,
Uns rasgos traços tentam desenhar
A terra ao fundo, o continente,
As margens da baía, como espuma,
Desvanecida assim por entre a bruma,
Tão longe desta ilha, desta gente….
Nós viemos lá da outra banda,
Transferidos por um velho bimotor,
Que, pelos ares, cumpriu sua demanda
De nos trazer à terra do amor.
Do aeródromo ao morro, meia hora,
Por caminhos de areia, cá chegamos…
E quando na base do morro estacionamos,
Vieram logo os táxis, sem demora.
Carrinhos de mão, daqueles das obras,
Com moleques, tisnados pelo Sol,
Pareciam sapos, lagartos, mesmo cobras,
Imitando na subida dura, de andar mole,
O passo da lesma, lagarta ou caracol.
Nos carrinhos… as malas dos turistas,
Enquanto estes se perdiam com as vistas.
Já nós os dois, amor, de mãos entrelaçadas,
Namorámos morro a cima e na descida
Vendo botecos, lojinhas e esplanadas,
Pensámos estar vivendo uma outra vida,
No paraíso perdido da paixão,
Lembras-te querida?
Até de ti,
Armada em atrevida,
Levei um apalpão,
Sem saber ler,
Nem achar que o posso descrever…
Por fim, porto e portal,
Num largo, feito movimento,
Onde amar parece natural.
Ali o amor tem cor,
sabor e cheiro,
Porque ali
O romance é hospedeiro,
De mim, de ti,
De nós,
Em imprevistas
Emoções,
Impulsos e ecos egoístas,
Do bater dos corações apaixonados
Ao qual nos rendemos,
Num torpor,
Que por amor,
Nos faz do verbo amar escravizados…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
![Mais Perto do Céu.JPG Mais Perto do Céu.JPG]()
PORTALÓ (MEMÓRIAS DA BAHIA) -----"----- PARTE I: PAISAGENS OU O SORTILÉGIO DA PAIXÃO
I
“MAIS PERTO DO CÉU”
Quem não tem
Fantasias nesta vida?
Filmes não vividos,
Só sonhados…
Soluções impossíveis
Que parecem ter saída,
Raciocínios absurdos,
Mas na perfeição elaborados…
Caminhos percorridos
Pela mente,
Porque foram,
Por ela,
Imaginados.
Sonhar uma viagem,
Mas tão secretamente,
Que não se encontram
Excertos registados…
E assim…
Descobri um ponto no infinito,
Preciso, definido,
Desvendado,
E vê-lo mais perto,
Cada vez,
Sem palavras usar,
Nem mero grito,
A pouco e pouco
Melhor sendo focado,
Redesenhando,
Com espantosa nitidez,
As formas, os traços,
As imagens,
Que na memória recordam as paisagens…
Quem não teve
Fantasias nesta vida?
Quem não sentiu saudades
Mesmo que apenas de fugida?
Foi destapado o esquecimento,
O véu,
Que nos prova o quanto,
De verdade,
Já vivemos plena felicidade,
Mais perto,
Bem mais perto do céu…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
![Aqui.jpg Aqui.jpg]()
"AQUI..."
Aqui,
Onde a palavra mais se afirma
Como produto social,
A faculdade última
De comunicarmos
Por meio de sinais
Que todos entendemos,
Porque são próprios
Desta comunidade
Que constituímos...
Aqui,
Onde a fala
Se traduz na escrita
Como um ato de utilização
De uma linguagem,
E porque não,
Como a concretização
Do potencial da língua
Passada à palavra...
Aqui,
Falamos...
Escrevemos...
Sentimentos em sinais,
Próprios do grupo
Que constituímos...
Aqui
Traduzimos estados da alma
Em discursos originais,
Vivos e criativos,
Através de combinações livres
Do que somos, sentimos,
Queremos, desejamos
E em última análise
Sonhamos...
Aqui...
Somos,
Nas palavras,
Verdadeiras metáforas
Do que queremos ser...
Configurações tacitamente
Assumidas pela líbido...
Aqui...
Inventamos verdades inequívocas
Provocadas pelo efeito do écran,
Como se da nossa própria visão
Se tratasse...
E nos lugares comuns
Desta linguagem
Afirmamos o grito
Da nossa solidão...
Aqui
Queremos existir
Em felicidade!...
Pura,
Simples,
Essencial...
Aqui
Conseguimos entender
E produzir
Um número infinito de frases
Que nunca antes lemos,
Ouvimos ou pronunciamos...
E porquê?
Porque estamos integrados!...
Aqui...
Somos parte de um todo
Que funciona sem conhecimento
De todas as partes,
Aparentemente anárquico,
Mas obviamente
Interligado a esquemas
Que apenas o nosso subconsciente
Consegue interpretar...
Enfim...
Aqui...
Somos os filhos
De uma mesma alcateia
E ao uivarmos,
Não estamos apenas a venerar a Lua
Que se encontra cheia...
Mas a dizer também aqui
Que queremos amar!...
Gil Saraiva
![Saudades.jpg Saudades.jpg]()
"SAUDADES"
Saudades
Choro de um riso antigo
Hoje recordado...
Saudades
Vou deixando
Aqui, além...
Recordações
Eu guardo dos meus passos:
Daquele alguém que um dia olhou pra mim
E me chamou de amigo...
E num olhar
Disse poder guardar de mim memória
E registar bem fundo o meu sorriso...
Saudades
Vou guardando, conformado,
Daqui, de além e de todo o lado
Onde há um abraço de amizade;
Onde a Humanidade for humana;
Onde a Paz existir na Natureza
E onde a Liberdade for amada...
Saudades,
Nostalgias, lembranças, emoções
E outros sentimentos pouco claros
Que vão ficando em nós
E que nos tornam
Produtos inventados pela mente
De quem a nosso lado já viveu
E guardou para si a nossa imagem...
Saudades
De outrora... de uma hora,
Daquele momento exato,
Inesquecível,
Daquele instante louco, fugidio,
Em que a flor abriu, desabrochou...
Ou de outro que não conto por pudor,
Mas que por certo falava de Amor...
Saudades,
Momentos presentes do Passado
Que o Futuro não pode apagar;
Vivências de uma vida,
Lágrimas de dor, felicidade,
Desejos e gritos já vividos;
Anos de sonho e de saudades
E dias que são claras ilusões...
Saudades
Vou guardando, vou deixando
Aqui, ali, além, por todo o lado
Onde a lágrima seja borboleta
Ou onde a eternidade iluminada
Se reduza breve, num segundo,
A gotas de orvalho e de saudade...
Saudades
Choro de um riso antigo
Hoje, uma vez mais,
Já recordado
Ou novamente,
Até que enfim, reencontrado!...
Saudades
Choro de um riso antigo...
Gil Saraiva
![Sombras.jpg Sombras.jpg]()
"SOMBRAS"
As sombras desse imenso castanheiro,
Retiram deste solo o sol que quente
Aquece as casas, animais e gente,
Inverno, primavera, o ano inteiro.
As sombras, deste sólido mosteiro,
Apagam o brilhar do afluente
Que se arrastando, só, assim tão crente,
Inveja um soalheiro, além, ribeiro...
As sombras negras, soltas na cidade,
Vão devorando o verde natural...
Ah! Só a tua sombra é liberdade,
A sombra do teu ser não tem igual,
Pois nela se protege a felicidade
Deste meu simples ser, sentimental.
Gil Saraiva