Livro de Poesia - Sintagmas da Procela e do Libambo: Poema Homónimo - IX
IX
“SINTAGMAS DA PROCELA E DO LIBAMBO”
Tratados da pobreza,
Miséria, destruição,
E da desgraça,
Crónicas conjunturais de pandemias mil,
Anunciadas…
Tsunami terra adentro
Arrasando vidas estacionadas,
Nas margens de um mar
Antes sem ameaça.
Grilhetas e correntes
De vidas ainda escravizadas
Pela fome, pela doença,
Pela guerra que não passa,
Despojos e ruínas que não esquece o tempo.
Tudo e todos descendentes
De mortes antecipadas,
Que chegam cedo,
Às vezes a vidas ainda agora começadas.
Horrores de um século que ao passado
Não fica a dever coisa nenhuma…
Sintagmas da procela e do libambo,
Sinais que o tempo teima em replicar,
Tragédias na sombra de um melambo,
De uma acácia, de um castanheiro,
De uma árvore a abater ou a queimar…
Sintagmas do caos,
Apeadeiro de vivências
De dor ou sofrimento,
Num mar de tumulto derradeiro,
Procela ou maremoto em movimento
Ou vulcão que rebenta reivindicando
Terra e mar, bens, casas e piscinas,
Que a natureza não tem título de propriedade
Quando chega absoluta e suprema
Nos sintagmas da procela e do libambo…
Gil Saraiva