Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Imagine-se - IV
IV
"IMAGINE-SE..."
Imagine-se um mar de prata,
Bordado ao ouro macio
De um pôr-do-sol...
Deixemos agora
A nossa mente
Colocar algumas aves nidificando
Na costa fina de arbustos salgados,
Reserva natural
De um qualquer sonhado paraíso...
Em silêncio,
Os bateres de asas
Confundem-se com o restolhar do vento
Que sorri para primavera,
Agora tão tangível...
O sentimento é, por certo, de harmonia!...
Para quem não sente em verso
O deleite que os sentidos propiciam,
Recomendo que respirem fundo...
Deixem entrar languidamente
O cheiro a maresia...
Issooo!...
Procurem agora sentir
A aragem vos acariciar,
De leve,
Passando-se, suave,
Pelo brilho dos olhos
E obrigando ao esvoaçar de alguns cabelos...
Com o olhar,
Sigam as aves
Que gritam cânticos de amor
E de acasalamento...
Se entreabrirem os lábios,
As papilas vão, por certo,
Detetar o gosto a mar,
O gozo das sensações plenas
E do encontro puro e idílico com Gaia,
A deusa que, voluptuosa,
Representa a Terra original...
Sentem?
Agora pensem,
Com um sorriso,
Num bem-querer ausente...
Procurem influenciar a mente,
Mas sem esforço...
Issoooooo!...
Estão a contemplar a sereia?
Nem sempre a conseguimos vislumbrar,
Mas ela existe
E responde por:
Amor…
É no exato instante
De sensual e romântica lasciva,
Em que de joelhos nos dobramos
Para colher uma flor
De beira de caminho
Que nos sentimos integrados,
Cheios de afeto,
De vida e de natura,
Enfim...
De plenitude!!!
Imagine-se
Um mar de prata,
Bordado ao ouro macio
De um pôr-do-sol
E conclua-se
Que, afinal,
Amar é simples...
Senão...
O mar seria água
E nada mais,
As aves: pássaros,
E a reserva: pântano...
Imagine-se...
Gil Saraiva
Nota: dedicado à Ria Formosa, Algarve, Portugal