Melopeias Róridas Entre Armila e Umbra é um livro criado na humidade existente entre o brilho e a sombra de um hino, que se declama por entre o anel usado na criação da esfera celeste, que divide, entre o verde e o vermelho, a bandeira nacional. Poderia antes dizer, procurando uma explicação mais singular, que são “Melodias Recitadas por Entre o Húmido Sombrio de uma Aliança Inimitável” ou, apenas, “Trovas de um Amor Luso”. São versos de um amor em tempos sombrios onde, enquanto poeta, procuro, como toda a gente, a esperança infinita da descoberta da alma gémea, numa aliança capaz de unir dois seres múltiplos e diversos, na mágica fusão humedecida de um amor uno e indivisível. Enfim, são versos de amor para um amor que se deseja real, sem laivos de impossível, sem fábulas perdidas nas lareiras dos antigos casarios da serra, rodeados de sombras e sortilégios, por entre a superstição das gentes, que as contam pelo passar do boca-a-boca, desde tempos já esquecidos neste tempo. Afinal, tudo é bem simples e pode ser condensado em três palavras: Poemas de Amor.
“Ântumos Implexos dos Airados” é um livro de poesia á tripa-forra, escrito na loucura dos dias no domínio anarquista das vivências. Inversamente a póstumo, que nos atira para o depois da vida, o ântumo é sinónimo do que acontece em tempo de vida a um alguém a que nos queiramos referir. Por outro lado, implexo é uma palavra que nos apresenta tudo o que se mostra complexo e intrincado na passagem dos dias, enquanto os airados são o retrato puro dos moinas, dos doidinhos da silva, dos que ainda não se adaptaram convenientemente às regras, preceitos e princípios básicos da vida comunitária, onde a convivência ordeira é recomendável.
Em consequência destas conclusões, quando se fala de “Ântumos Implexos dos Airados” estamos a falar dos “Antecedentes Intrincados dos Moinas” ou das “Vivências Complexas dos Desvairados”.
Dizer “Ântumos Implexos dos Airados” quando se dá um título a um livro é, sem margem para dúvida, dedicar a escrita ao estro dos tempos que costumamos apelidar como nossos, muitas vezes associados aos anos da juventude antes da chegada adulta e responsável da vida ativa e social. São os anos loucos da vida de cada um em que, mais do que as coisas terem de fazer sentido se procura, das mais variadas formas e feitios, encontrar a felicidade imediata, sem medir as consequências de qualquer ato praticado.
Gil Saraiva
Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 2011 e 2021.
“Tetrásticos de Supercílio Trépido”, poderiam ser simplesmente, pelo lado figurativo, “Quadras de Orgulho Trémulo” ou “Quadras de uma Soberba Assustada”, contudo, face à variedade das quadras apresentadas, muitas delas com ligações entre elas, mas de conteúdo disperso e por vezes anacrónico, são mais, no sentido restrito dos significados, “Quadras de Sobrancelha Que Treme” ou “Quadras de Sobrancelha Hesitante”, a traduzir quatro versos, em estrofe, que se juntam em grupo para transmitir sentimentos, sentidos e sensações, boas ou más, dependendo do lado para onde o seu pendor foge de um modo quase ocasional.
Não sendo a quadra uma forma de estrofe de um estilismo requintado ou mesmo de nível superior, e sendo um facto de que a mesma é mais usada de um modo popular, com origens bem mais humildes do que o eruditismo de que é exemplo o soneto, falar de quadras orgulhosas ou em soberba é um contrassenso que só é ultrapassado se as mesmas forem simultaneamente medrosas, tremendo de receios ou hesitações.
Quando a segurança dos conteúdos, e por vezes da forma, é posta em causa pela própria linha temporal em que foram escritas, é simples de compreender que muitas delas tenham sido criadas com os receios próprios da ignorância formal ou de que os conteúdos apresentados sejam, por força das épocas em que foram elaboradas, bem mais ingénuos ou simplistas do que deveriam ser.
A sobrancelha erguida que treme com medo é uma metáfora perfeita para se falar de “Quadras de Orgulho e Preconceito” no sentido em que o presente livro não tem o intuito de ser uma seleção elitista de estrofes de quatro versos, mas sim uma mostra de que também se pode fazer poesia com receio, simplicidade, ingenuidade e pouco conhecimento cognitivo ou mesmo formal. Em resumo estas quadras de sobrolho tremido são usuais e populares desabafos em verso e não têm intensões de ser qualquer outra coisa que não isso mesmo.
Gil Saraiva
Observação: As quadras deste livro foram criadas dos meus sete anos até à atualidade.
Um Novo Livro que Começa para Assinalar o Dia Mundial da Poesia
Introdução
Plectros de um Egrégio Tetro Umbrático é um livro que nasce numa época estranha, em tempos de pandemia, distanciamento social, confinamentos e desconfinamentos, tempos em que o beijo é mais do que pecado e o abraço pode ser fatal. Tempos inumanos, surreais e absurdos. Tal como o título, que parece saído de um palavreado há muito em desuso, pela clara queda da utilização de cada uma das palavras que o constituem. A ideia de arcaico vem-nos à cabeça, sem que isso seja necessariamente verdade, afinal, “Plectros de um Egrégio Tetro Umbrático”, nada mais é do que “Poesias de um Senhor da Bruma Imaginário” ou, como diriam os ingleses, “Poetry of an Imaginary Mist Writer”. Um escritor, neste caso um poeta, que tenta ver para além do nevoeiro, da bruma ou do etéreo a que, hoje em dia, damos o nome de internet.
Tudo se desenvolve na imaginação do homem que escreve por entre a neblina de uma vida tornada confusa, em tempos disformes de uma pandemia ditadora.
Chamar a este livro de poemas “A Exoração do Postremo” foi uma escolha fácil devido à sua temática verso após verso, poesia após poesia. Com efeito, trata-se da suplica do último dos vagabundos ou, posto noutra perspetiva, do último dos amantes que ainda acreditam no poder e no clamor do romantismo. Situações de pedidos de apoio piegas ou desinformados são coisas que não se adequam à natureza deste livro, que procura antes do mais servir de mensagem às mais profundas e sérias exorações de um Haragano do Éter ou de um Senhor da Bruma.
Todavia, todo e qualquer postremo parece, à partida um desesperado o que não é efetivamente o caso neste livro. Aqui trata-se mais do último grito do último dos românticos, em jeito de súplica dirigida a quem, tendo vontade, querer e acreditar, o pode, talvez, numa ou outra circunstância, ajudar com um fidedigno conhecimento das causas e dos efeitos deste dar a mão.
Mais do que tudo, o importante é deixar o alerta para que ele possa ser lido, ouvido pelos corações, para quem a leitura basta para conseguir-se entender um apelo dirigido ao âmago e ao cerne de quem ainda sente com sentimento e não apenas com os sentidos. Entender “A Exoração do Postremo” é compreender a alma do último dos seres que suplicam pelo direito absoluto ao sentimento.
No seguimento dos afinismos que ligam quem escreve a quem o poderá vir a ler, é fácil de entender a “Crença em um Fanal na Chona Lôbrega” mesmo que o título fuja aos vocábulos mais correntes, nele se acaba por descobrir a “Esperança em um Farol na Noite Tétrica” ou, como diz o povo, “A Luz ao Fundo do Túnel”. Por mais lúgubre e sinistra que nos pareça a vida, enquanto ela se ancorar numa esperança firme e num acreditar que depois da tempestade tem sempre de chegar um tempo de bonança, não há como não lutar e assim sobreviver.
Todavia, longe dos berços dourados das histórias de encantar, existe um mundo em que nem tudo é justo, correto, educado ou sensível. Na realidade do quotidiano a vida é uma mistura heterogénea entre bem e mal, onde as fronteiras, de ambos os lados, são difusas, mal definidas e quase sempre sem grandes defesas ou segurança entre elas.
Um fanal pode não ter a grandiosidade do Farol de Alexandria, mas, apesar de tudo, não deixa de ser uma luz, que nos dá crença e esperança, na chona lôbrega, qual noite sinistra, em que por vezes nos sentimos envolvidos. Neste momento particular da história da humanidade, em que se enfrenta uma pandemia sem rosto, que colhe sem piedade os anciãos da sabedoria humana, património que são dos povos do mundo, importa resistir, ter a fé, a crença, a esperança, na mais ténue luz que se veja a brilhar.
Gil Saraiva
Nota: Os poemas deste livro foram criados entre 2019 e 2020.
Tive alguma discussão com quem me costuma ler antes de eu começar a divulgar o conteúdo dos meus livros em público. No entender desses amigos e amigas o título do livro parecia rebuscado e pouco claro. Todavia, acabaram por me dar razão, uma vez que é precisamente esse o objetivo do nome do livro. Seria muito mais fácil escrever Revoltas Profundas de uma Mulher-Menina em vez de Díscolas de Runim Iaiá. Claro que sim, sobre isso não há a mínima dúvida. Só que ficaria a faltar o peso histórico e universal das revoltas que são mais do que apenas isso, traduzindo antes verdadeiras batalhas.
O dicionário de sinónimos de 1985 da Porto Editora refere díscolas como significando alarmes, ansiedades, desassossegos, impaciências, inquietudes, perturbações, receios, revoltas e sobressaltos. Um conjunto de sentimentos e estados de alma que importam para este livro enquanto unidade e intenção transmissiva.
Por outro lado, o mesmo dicionário, vai buscar às origens dos ciganos em certas partes do Brasil a palavra runim, como sinónimo de mulher. Uma mulher que, a existir em Portugal, seria alvo de três discriminações. A descriminação quase banal de ser mulher em Portugal, a de ser brasileira, inúmeras vezes colada à prostituição em largos setores da nossa sociedade e a de ser cigana, a raça menos apreciada por muitos ditos brancos no nosso país. Ora, reunir três discriminações tão fortes numa só palavra, pereceu-me o ideal para este livro.
Porém, eu queria falar da mulher menina, da jovem que se torna mulher, de pleno direito e que inicia a sua caminhada como ser adulto pelo mundo dos humanos. Ora, iaiá, significa moça, menina, quer no Brasil, quer em certas partes da África portuguesa. A sua origem remonta ao tempo da escravatura e o seu uso era empregue pelas amas escravas, exportadas das colónias portuguesas de África para o Brasil, para designar as filhas dos seus donos. Mais uma vez discriminações raciais, de género, de status e mesmo de origem.
De tudo isto nasceu este título: Díscolas de Runim Iaiá ou Revoltas Profundas de uma Mulher-Menina. O peso, e a diferença conotativa destes dois títulos, impõe sempre a escolha do primeiro em detrimento do segundo que, mesmo embora possa ser mais claro e muito próximo da objetividade, perde na conotação, nas raízes de uma velha revolta na luta pelo direito de se ser um ser humano com igualdade de deveres e direitos enquanto se é mulher. Mais ainda quando nos queremos referir a uma mulher que se inicia pelos caminhos da vida adulta.
A igualdade de género, mantendo homens e mulheres as suas caraterísticas próprias, bem como todos aqueles que nascem num género que não aquele onde se sentem integrados devia ser um direito fundamental com honras de destaque e sublinhado. Não são admissíveis comportamentos quinhentistas depois da mudança de milénio e a quatro quintos já passados do primeiro quartel do século XXI. Manter atitudes de índole machista, racista, xenófoba, entre outras, devia ser intolerável na sociedade em que vivemos, mais ainda se, como é o caso, nos encontramos no Mundo Ocidental. O respeito não implica cortesia nem galanteio entre géneros, se bem que na devida ocasião seja agradável, mas sim um reconhecimento cabal de que os géneros se encontram ao mesmo nível.
Por outro lado, a língua portuguesa é só uma. As diferenças faladas do português em Timor, Angola, Brasil ou Portugal não determinam línguas diferentes, apenas maneiras diversas de usar a mesma língua. Por isso, e especialmente por isso, é tão correto usar uma palavra que se utiliza mais no Brasil em Portugal, como em Timor ou em Cabo-Verde. São todas palavras portuguesas e também elas devem ser iguais seja qual for o país que as empregue.
Aliás, segundo os estudiosos da matéria, o português é uma língua viva e em franca expansão, devido à dinâmica linguística desenvolvida nos outros países de Língua Oficial Portuguesa, que não Portugal. Recentemente passamos a ser reconhecidos pela UNESCO como a quarta língua mais falada em todo o mundo. Porquê? Porque no universo dos países de Língua Oficial Portuguesa não se fala moçambicano, angolano, brasileiro, goês ou português, sim, em todas elas, por acordo firmado entre as partes, o que é falado é o português.
Aliás, no caso do título, embora ausentes, na sua grande maioria, da internet nos dicionários online da Língua Portuguesa, o referido Dicionário de Sinónimos da Porto Editora, editado em 1985, reconhece estas palavras e o seu significado, mas não é o único, a versão de 1981 do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Sociedade de Língua Portuguesa, de XIII Tomos mais um para os Autores de Língua Portuguesa, editado pelos Amigos do Livro Editores, sob a coordenação de José Pedro Machado, já reconhece e explica a origem de todas as palavras usadas no título deste livro há, portanto, 40 anos, já a partir do início do próximo ano, dentro de dias.
Resta-me desejar a todos os leitores, sejam de que género forem, uma leitura sentida desta minha alma em permanente díscolo. Ao meu mentor, deixo ainda um agradecimento pelo uso do seu espaço na divulgação dos meus sonetos. Para todos fica o meu obrigada.
Ariana Telles
Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 2000 e 2020.
O bardo era o indivíduo que transmitia histórias, mitos, lendas, tradições, costumes e poemas de forma oral, cantando-as em narrativas ao seu povo em poemas recitados. Era simultaneamente, com frequência, o músico, o poeta, o historiador e por vezes o conselheiro moralista da povoação nos tempos da antiga Europa desde a idade do ferro à pré-feudal e quase até à chegada do iluminismo, em que o termo acabou absorvido por posteriores designações. Noutras regiões chamavam-no de trovador, uma designação de origem francesa, sendo o papel de ambos idêntico e, embora este último provenha da escola do primeiro, em certas regiões foram coincidentes por uns tempos, até que a designação de bardo acabou por cair em desuso com o passar dos séculos.
O presente livro tem esse desassossego próprio dos bardos, sempre preocupados em perpetuar as memórias do passado e em sobreviver à custa das suas palavras, conselhos e canções. Aqui, nesta edição onde o bardo sou eu, a inquietação é a mesma, ou seja, deixar para a posteridade as memórias de sentires e sentimentos que foram meus. É a demonstração clara de um legado que fica para um futuro que um dia acabará por chegar. Espero que este livro, enquanto embaixador de sentimentos, se cumpra conseguindo sobreviver ao próprio autor, conforme este prevê.
Os “Desvarios em Sol-Posto” fecham a trilogia dos poemas marginais. Sendo que marginais aqui, no presente contexto, são todos aqueles versos que não se enquadram diretamente nos normais parâmetros de qualidade, de um poeta que se queira afirmar como tal, no meio cultural em que se encontra inserido. São coisas para ficar na gaveta do esquecimento, lembranças juvenis de tempos idos ou meros desabafos que nunca chegaram a merecer, por parte de quem os escreve, um verdadeiro apelido de poesia.
Tendo a presente trilogia sido iniciada com o livro “Divagações Quase Líricas”, a que se seguiu um outro intitulado “Devaneios de Estros Imémores”, é com estes “Desvarios em Sol-Posto” que esta pequena saga divergente se concretiza por fim. Sendo que a grande maioria dos textos foram criados como letras para músicas de bandas, trovadores, baladeiros ou fadistas, o seu conteúdo gira em torno das temáticas escolhidas por aqueles que as apresentavam em palco.
Para quem se deu ao trabalho de seguir este livro, ou até a acompanhar toda a trilogia, é importante o conhecimento dos porquês que à mesma deram origem. De todos eles apenas as letras para a banda “Iris” vingaram.
Gil Saraiva
Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 1968 e 2020.
No seguimento das “Divagações Quase Líricas” surgiram os “Devaneios de Estros Imémores” que correspondem a mais desabafos em verso deste ser estranho que me toma de assalto em dias de rotina desinspirada, criados fora das convenções, para umas bandas musicais ou cantores a solo, na senda de um trocadilho ou apenas com a preocupação de libertar um pensamento imberbe ou, por vezes, descontrolado. Este é o tipo de poesia que normalmente acaba amarrotada nos cestos dos papeis porque os autores não a consideram digna de si próprios.
Todavia, estes resquícios da palavra visam muitas vezes ilustrar uma música de uma banda ou de um fadista. que tenta despontar no seu meio anárquico, quantas vezes sem o menor sucesso, mas que, excecionalmente salta para a ribalta dos sons sem que uma explicação convincente o consiga justificar.
Afinal, quer estes devaneios acompanhem os sons de uma banda ou visem de ânimo leve elogiar uma tasca, uma casa de pasto ou uma taberna, eles representam, sem preocupações de perfeição, momentos vividos pelos seus autores, algures num passado remoto ou num presente irrelevante. A quem ler estes devaneios pede-se a paciência e a compreensão bastante para os entender enquanto desabafos fora da normal textura poética.