Livro de Poesia: Serra da Lua: Serra, Várzea e Mar - III
IV
"SERRA, VÁRZEA E MAR"
Na Serra do teu corpo
O amor
Não tem fim...
Na Várzea do teu ser
O sonho
Não tem nome...
No Mar do teu existir
A vida
Não tem idade...
Tem um rosto,
Um olhar,
Que te devora faminto
De expectativas,
De êxtase,
De plenitude...
Daqui,
Deste lugar único
Onde a paisagem
É apenas tu,
Eu venero a Serra Da Lua
Jurássica no existir,
Húmida na ramagem,
Nebulosa na sensualidade,
Verde na esperança
De um palácio sem pena
De quem, sem ti,
É Rei em tempo de República...
Sou como o labirinto
De minas e secretos caminhos
Que infestam Várzea e Mar,
Montes e penedos,
Arribas e falésias,
Vales e palacetes…
Sou a passagem esquecida
Que o teu caminhar nunca percorreu
Por falta de mapa ou segurança,
Ou porque a fé
Não tem preço marcado
Nas vendas da feira de S. Pedro...
Sou como o mar
Que afaga, sem cansaço,
A rocha talhada
Pelas caricias da espuma...
Sou como o vento
Criando cavernas, pontes
E esculturas maduras
De séculos de existir,
Mas jovens na forma hirta e firme
Com que recebem
As marés a cada dia
No litoral mais ocidental
Da velha Europa...
Mas tu és a flor,
Pura na cor alva dos teus braços,
Quais pétalas de seda
Onde amordaçaria meus lábios
Para a eternidade…
Tu és o ser
Simples,
Na forma selvagem e rebelde
Com que de branco e verde
Invades a floresta de acácias e pinheiros
Sem te importares com o tamanho,
O talho ou a idade dessa flora conformada
Com a existência...
Tu és minha,
Não por registo, contrato,
Declaração ou pacto,
Mas por amor!
Eu sou o Vagabundo Dos Limbos,
Haragano, O Etéreo,
Senhor da Bruma.
Que na Serra Da Lua
Estendeu a mão
E colheu para sempre do verde
O branco,
A pincelada,
A que as gentes chamam
Flor silvestre ou gota de água...
Na Serra do teu corpo
O amor
Não tem fim...
Na Várzea do teu ser
O sonho
Não tem nome...
No Mar do teu existir
A vida
Não tem idade...
Porque tu, como as marés,
Moldas em mim,
Como se rocha eu fosse,
Os segredos da força
Que nos une,
Os sentimentos
Que nos tornam um...
Um só ser, uma só serra,
uma única várzea,
Um imenso mar...
Nas Serras do teu corpo
Eu encontro o vale
E jamais me volto a encontrar!
Gil Saraiva