(Fotografia de Gil Saraiva - Jardim da Parada - foto montagem)
XLI
"O CAVALEIRO DA PARADA"
Tomava a bica, ali, n’ «O Meu Café»
Quando a vi passar pelo jardim,
Qual figura romântica, que assim
Faz do nada um ateu conquistar fé.
Campo de Ourique ganhou nova sé
E o Jardim da Parada, para mim,
Do coreto fez lar de serafim.
Tentei-me aproximar, pé ante pé,
Não fosse a divindade eu assustar.
Atravessei a rua com cautela,
Qual monstro que se chega, ao pé da bela,
Com ar de peregrino em altar.
Mas antes de a abordar foi-se a alegria...
Um cavaleiro chegou e ela partia…
Gil Saraiva
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IX
“OS FILHOS DA SOLIDÃO”
(balada de um tempo que passa)
Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,
Desvio o olhar para não ver nada…
Em Faro, no Manuel Bivar,
Eu fecho os olhos para não olhar...
Caras rugosas, com idade de avô,
No Jardim, sentadas, na Doca ou no Lago,
Formas sombrias que o tempo parou…
Bocas que apenas provaram o vago…
Rostos que ninguém mais ali focou...
Olhando o vazio...
Silêncios de arrepio...
Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,
Desvio o olhar para não ver nada…
Em Faro, no Manuel Bivar,
Eu fecho os olhos para não olhar...
Caras dos filhos da Solidão,
Avôs e avós,
De tantos como nós,
Rostos reformados,
Sem compreensão...
Sem compreensão
Seja inverno ou Verão…
E vozes, berros e gritos calados
Nos olhos perdidos,
Pelos filhos esquecidos...
Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,
Desvio o olhar para não ver nada…
Em Faro, no Manuel Bivar,
Eu fecho os olhos para não olhar...
Na calçada as migalhas de pão
Para os pombos ter de alimentar...
Mas para os filhos da Solidão
Não vejo por perto
A esperança pairar...
Filhos que agora são avôs, avós,
De gente que hoje já os esqueceram,
Perdendo os olhares, os laços, os nós,
Daqueles para quem eles mais viveram…
Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,
Desvio o olhar para não ver nada…
Em Faro, no Manuel Bivar,
Eu fecho os olhos para não olhar...
E passam os dias,
Os meses, os anos,
E mudam os rostos desta solidão...
Novos enganos,
Outra geração,
Mas a forma de olhar não vai mudar,
Não...
As mesmas rugas parecem ficar
Em outros olhos pregados no chão...
Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,
Desvio o olhar para não ver nada…
Em Faro, no Manuel Bivar,
Eu fecho os olhos para não olhar...
Mas se eu vir os filhos da solidão,
Escuto o cantar da brisa cansada
Cantando a balada do tempo que passa,
Escuto de inverno, primavera, verão…
Escuto o outono no Jardim da Parada,
Escuto a balada perdendo essa raça,
E vejo, no Jardim Manuel Bivar,
A doca de lágrimas sempre a brilhar…
Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,
Desvio o olhar para não ver nada…
Em Faro, no Manuel Bivar,
Eu fecho os olhos para não olhar...
Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,
Em Faro, no Manuel Bivar,
Desvio o olhar para não ver nada…
Eu fecho os olhos para não olhar...
Desvio o olhar para não ver nada…
Eu fecho os olhos para não olhar...
Gil Saraiva
Nota: Letra para um Trovador Popular.
(entre cá e lá...)
![Jardim da Parada.JPG Jardim da Parada.JPG]()
XVI
“JARDIM DA PARADA”
No Jardim da Parada pulsa vida,
Qual retrato moderno em bairro antigo,
Onde não paira nunca qualquer p'rigo
Do viver na Lisboa concorrida…
Campo de Ourique lá lhe dá guarida,
Agradece o Jardim, se torna abrigo
Das gentes que partilham só consigo
Um espaço quase feito por medida…
Teófilo de Braga é o jardim
Onde brincam crianças todo o dia,
Onde uma “suecada” em alegria
Junto ao coreto quase não tem fim…
Cá namoram casais e a tarde tarda…
Que a Maria da Fonte a todos guarda…
Gil Saraiva
(entre cá e lá...)
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VIII
“FIM DE TARDE”
O fim da tarde chega de mansinho
Ao seu lado trazendo o entardecer,
Mas o melhor de ver a luz descer
É saber meu amor lindo a caminho.
Vem do trabalho, de regresso ao ninho,
Atravessa Lisboa pra me ver
E ao chegar, o beijo que eu vou ter,
Faz-me esquecer as horas que sozinho
No Jardim da Parada eu esperei.
Campo de Ourique ganha nova vida,
As sombras do jardim viram guarida,
Num refúgio de amantes viro rei.
Do banco do jardim eu já governo
Mas só pelo teu beijo viro eterno!
Gil Saraiva