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Estro

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

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Livro de Poesia: Portaló - Parte I - Paisagens - IX - Porto e Portal

Porto e Portal.jpg

 

“PORTO E PORTAL”

 

Morro de S. Paulo, Tinharé,

Cheira a Brasil e a saudade,

Aroma mais puro que o café,

Um cheiro profundo

A felicidade…

 

Descer na paisagem,

Até tocar o mar,

Por rampa de miragem

Singular,

Onde carros de mão,

De malas cheios,

Dizem ser táxis,

Sobem de escalão,

Movidos a braços

Num calor de Verão…

 

E atracado bem perto a um portal

Que com coragem a tudo resiste,

Feito de séculos, pedras e de cal,

De obra humana firme que persiste,

Qual testemunha histórica da vila,

Eis que se pode vislumbrar o porto…

 

Subir, descer, andar, pareceu desporto,

Recebem-se os turistas de mochila

Pois no ponto de entrada e de saída,

Neste recanto onde o amor cintila,

A paisagem parece desmedida…

 

De um lado, o morro da saudade

Ou de São Paulo, bem colorido,

A onde o sonho vira realidade,

Do outro, o portal, o porto, o mar

E lá no fim, quase que esquecido,

Uns rasgos traços tentam desenhar

A terra ao fundo, o continente,

As margens da baía, como espuma,

Desvanecida assim por entre a bruma,

Tão longe desta ilha, desta gente….

 

Nós viemos lá da outra banda,

Transferidos por um velho bimotor,

Que, pelos ares, cumpriu sua demanda

De nos trazer à terra do amor.

 

 

Do aeródromo ao morro, meia hora,

Por caminhos de areia, cá chegamos…

 

E quando na base do morro estacionamos,

Vieram logo os táxis, sem demora.

 

Carrinhos de mão, daqueles das obras,

Com moleques, tisnados pelo Sol,

Pareciam sapos, lagartos, mesmo cobras,

Imitando na subida dura, de andar mole,

O passo da lesma, lagarta ou caracol.

 

Nos carrinhos… as malas dos turistas,

Enquanto estes se perdiam com as vistas.

 

Já nós os dois, amor, de mãos entrelaçadas,

Namorámos morro a cima e na descida

Vendo botecos, lojinhas e esplanadas,

Pensámos estar vivendo uma outra vida,

No paraíso perdido da paixão,

Lembras-te querida?

Até de ti,

Armada em atrevida,

Levei um apalpão,

Sem saber ler,

Nem achar que o posso descrever…

 

Por fim, porto e portal,

Num largo, feito movimento,

Onde amar parece natural.

 

Ali o amor tem cor,

sabor e cheiro,

Porque ali

O romance é hospedeiro,

De mim, de ti,

De nós,

Em imprevistas

Emoções,

Impulsos e ecos egoístas,

Do bater dos corações apaixonados

Ao qual nos rendemos,

Num torpor,

Que por amor,

Nos faz do verbo amar escravizados…

 

Gil Saraiva

 

* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão

 

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