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II
“BAHIA”
Há quem diga que o céu
Pode esperar…
Neste momento meu,
Basta ficar
Mais perto,
Mais certo
Desse paraíso, por fim,
Localizar…
Terra sagrada onde Eva
Viu Adão,
Sonhos que a vida leva
Num rio de paixão…
Vamos
Para o sonhado mundo
Da nossa imaginação.
Iniciamos, lá do fundo,
A viagem final com um sorriso,
Por que é bom
Viajar para o paraíso…
Primeiro a Via Láctea,
Galáxia nossa
no Universo imenso…
Uma vez localizada
Procurar a agulha no intenso
Palheiro celestial
E, quando encontrada,
Desvendar por fim o Sistema Solar,
Berço do nosso bem,
Do nosso mal,
Coisa nossa,
Casa, terra, lar…
Depois…
Depois o Sol, os Planetas…
Olha a Terra… oceanos, continentes…
Paz e guerra…
E finalmente,
Já focando os trópicos,
Bem na nossa frente,
Mais perto,
Mais à vista, mais concreto,
Avistar o triângulo sul-americano,
Ouvir o leopardo, a harpia
E o tucano…
Solos de Vera Cruz,
Solo brasileiro,
Que Portugal, há tempos,
Viu primeiro…
Avistar, agora, bem mais perto
O azul e verde da Bahia,
Imagem inversa do deserto,
De mata atlântica,
Que vibra de harmonia…
Terra brilhando plena
À luz do Astro Rei,
Joia maior que descrever nem sei…
Eis, ali, na nossa frente,
A sagrada Bahia,
Finalmente…
Imagem venerada
Que se guarda, qual tesouro,
Que brilha mais que o ouro,
Num verde e azul por si só tão reluzente…
E quase gemo de prazer e depois grito:
“- Amor, caramba! Isto é Bahia
E é tão bonito!”
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
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IX
"NÃO POR MIM..."
Às vezes
Acho-me um ser híbrido...
Não importa se o sou
Mas o que penso...
É como se metade do que me constitui
Fosse sentir
E só a outra parte de mim
Fosse homem nato...
Sou,
Tal como o dia tem na noite
Uma outra face,
Um ser ambidestro
No que toca à mística
Representada pelo coração...
Um quase ser criança
Entre pudores que,
Nesta idade que tenho,
Já extintos deveriam estar.
Mas corre-me nas veias
O devir...
A sensação última de atingir
A plenitude das coisas
Simples e pequenas
Que permanecem fiéis à memória
De quem realmente as viveu
Com existência.
Mas para que falo eu isto?
Que importância tem?
Para que raio interessa
Um tal assunto?
Ahhhhhhh...
Importa refletir,
Sentado nas escadas alvas e frias
Do mármore que edifica e marca
Cada registo do que sou,
Tentando sempre
Ir mais longe no pensar...
O que me move?
Ou, talvez, o que me comove?
Ou, ainda, o que me demove...?
É delicioso poder concluir que,
Em cada caso,
A chave é sempre a mesma:
Sentimentos!
Vindos de dentro,
Da arca radioativa do amor
À qual chamamos
Alma...
Sentimentos,
Desempacotados,
Pelo espírito
Que nos torna humanos,
Postos a render
Para que possamos desfrutar,
A cada pegada impressa
No caminho da vida,
A realização
Do que deveríamos ser
Para que o existir tenha um propósito:
Felizes sermos!...
A demanda pela verdade
É um falso caminho se,
No final da linha,
Não encontrarmos
O amor!
É pela sensualidade dos corpos
Que a alma,
Feita espírito inventivo,
Nos mostra a excelência de uma espécie
Com milénios de existir:
O Ser Humano.
Um ser que não se reproduz apenas,
Mas que se funde em harmonia
Sempre que a longa busca,
Pela alma gémea,
Se conclui com êxito.
Ser sensual
É ser-se humano
E ter com isso a esperança
De perpetuar a espécie
Por forma a poder gritar bem alto,
Aos quatro ventos:
É amor!...
Às vezes
Acho-me um ser híbrido...
Não pelo que sou
Mas pelo que os meus olhos captam
Do mundo
A que chamamos evoluído...
Onde sensualidade
Se confunde com pornografia,
Tal como o bem
Se confunde com o mal...
Às vezes
Acho-me um ser híbrido,
Mas não por mim...
Não por mim...
Gil Saraiva