X
“OS CHALÉS”
Como peças de um grande dominó
Os chalés vestem a encosta
Do Morro de S. Paulo: É Portaló…
Se do Pessoa eu vejo bem o porto
Nos outros se tem igual conforto…
Temos Zélia Gatai, Voltaire
E Jorge Amado,
José de Alencar, Júlio Verne,
José Saramago…
Temos Marguerite Duras
E emoções
Seja em Machado de Assis,
Luís de Camões,
Nas aventuras
De Alexandre Dumas,
Joaquim Ubaldo Ribeiro
Ou Eça de Queirós
Por entre as brumas…
Castro Alves tem também telheiro,
E nem os miseráveis são refugo
Pois que aqui tem também,
Seu chalé, o Vítor Hugo…
Todos estes chalés de Portaló,
Têm nomes de escritores imortais,
Porque a ilha inspira e trás à mó
Os mais férteis e profícuos cereais,
Que depois de moídos e tratados
Geram um mosto, quando combinados
Com extratos de estros especiais.
Aqui amor eu escrevo entre chalés,
O que sou, o que amo, como te adoro,
Aqui eu te descrevo como és,
Por ti eu grito, riu, gozo e choro.
Aqui a fantasia é mais real,
Nestas cabanas na mata integradas,
Chalés atlânticos, casinhas enquadradas,
Num ambiente perfeito e natural.
Jamais aqui me ouvirás pedir socorro,
Vamos ficar por cá, para sempre, querida,
Tu que és a felicidade desta minha vida
Fica comigo para sempre neste morro.
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
“PORTO E PORTAL”
Morro de S. Paulo, Tinharé,
Cheira a Brasil e a saudade,
Aroma mais puro que o café,
Um cheiro profundo
A felicidade…
Descer na paisagem,
Até tocar o mar,
Por rampa de miragem
Singular,
Onde carros de mão,
De malas cheios,
Dizem ser táxis,
Sobem de escalão,
Movidos a braços
Num calor de Verão…
E atracado bem perto a um portal
Que com coragem a tudo resiste,
Feito de séculos, pedras e de cal,
De obra humana firme que persiste,
Qual testemunha histórica da vila,
Eis que se pode vislumbrar o porto…
Subir, descer, andar, pareceu desporto,
Recebem-se os turistas de mochila
Pois no ponto de entrada e de saída,
Neste recanto onde o amor cintila,
A paisagem parece desmedida…
De um lado, o morro da saudade
Ou de São Paulo, bem colorido,
A onde o sonho vira realidade,
Do outro, o portal, o porto, o mar
E lá no fim, quase que esquecido,
Uns rasgos traços tentam desenhar
A terra ao fundo, o continente,
As margens da baía, como espuma,
Desvanecida assim por entre a bruma,
Tão longe desta ilha, desta gente….
Nós viemos lá da outra banda,
Transferidos por um velho bimotor,
Que, pelos ares, cumpriu sua demanda
De nos trazer à terra do amor.
Do aeródromo ao morro, meia hora,
Por caminhos de areia, cá chegamos…
E quando na base do morro estacionamos,
Vieram logo os táxis, sem demora.
Carrinhos de mão, daqueles das obras,
Com moleques, tisnados pelo Sol,
Pareciam sapos, lagartos, mesmo cobras,
Imitando na subida dura, de andar mole,
O passo da lesma, lagarta ou caracol.
Nos carrinhos… as malas dos turistas,
Enquanto estes se perdiam com as vistas.
Já nós os dois, amor, de mãos entrelaçadas,
Namorámos morro a cima e na descida
Vendo botecos, lojinhas e esplanadas,
Pensámos estar vivendo uma outra vida,
No paraíso perdido da paixão,
Lembras-te querida?
Até de ti,
Armada em atrevida,
Levei um apalpão,
Sem saber ler,
Nem achar que o posso descrever…
Por fim, porto e portal,
Num largo, feito movimento,
Onde amar parece natural.
Ali o amor tem cor,
sabor e cheiro,
Porque ali
O romance é hospedeiro,
De mim, de ti,
De nós,
Em imprevistas
Emoções,
Impulsos e ecos egoístas,
Do bater dos corações apaixonados
Ao qual nos rendemos,
Num torpor,
Que por amor,
Nos faz do verbo amar escravizados…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
VIII
“MORRO DE S. PAULO”
Ao olhar
Ressalta já o Morro de S. Paulo;
Ao recordar
Um morro de reis, de glórias
E de escravos;
Morro de histórias,
Fantasmas e de bravos;
Morro de saudade,
No tempo perdido,
Onde um minuto vale a eternidade,
Onde cada segundo tem sentido…
Aqui, no Morro de S. Paulo,
Das águas feitas de cristal,
Se elevando
O sonho ganha corpo, rosto, forma,
É natural…
E o sorriso vai edificando,
Em cada instante,
Uma outra plataforma,
Feita de natureza cativante
Como que esculpindo nova Atenas…
Mais do que bonito
O Morro de S. Paulo
É belo apenas!
Aqui,
De mãos dadas, passeamos
O nosso amor
E ele sorri, enquanto andamos,
Ao Sol e ao calor,
Por entre as lojas
Como que para nós engalanadas,
Por entre ruas estreitas,
Calcetadas,
Onde se vendem,
Quase às toneladas,
Recordações,
Que um dia,
Empoeiradas,
Nos despertam a saudade,
A nostalgia,
Dos olhares trocados naquele morro.
Objetos, símbolos, na verdade,
Do amor vivido, da alegria,
De quem dentro de ti
Não quis socorro…
No Morro de S. Paulo fui feliz,
Fomos amor rubro,
Intenso, enlouquecido…
Que ali se cimentou, criou raiz,
Que jamais por nós será esquecido…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão