Nota do Autor:
I
“GOTA DE LÁGRIMA”
Pelo teu rosto se desenha, em movimento,
A lágrima que cai, neste momento…
E, se olhares para mim, não me vês chorar.
Jamais conseguirias, pois não sabes
Sequer onde ou como procurar…
Porque a gota de lágrima que choro,
É por dentro, entre a alma e o coração,
Que desce, que resvala, que ecoa,
Por não saberes o quanto eu te adoro,
Nas cavernas das saudades do meu ego
A onde a tua lágrima ocupa um oceano,
Por onde tristemente eu navego…
Vem, ama-me mesmo que por engano,
Vem, ó gota de lágrima que adoro,
Junta-te à lágrima que eu, agora, choro…
Gil Saraiva
Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 2003 e 2008
X
“ENTRADA NO PARAÍSO”
Porto e Portal da vila,
Imponentes entradas,
A quem tributo até as aves prestam,
Onde o chegar é natural,
Lembrando talvez outras arcadas
Ou romantismos que se manifestam
Numa vassalagem da memória
De gerações vividas,
Longa história,
De muitas vindas, muitas idas…
Pegadas gravadas pelo tempo,
Entre o riso e o contratempo,
De quem ali passou,
De quem dali gravou
O portal, o porto, o movimento,
De quem ali viveu mais que um momento…
Este todo é belo,
Fascinante, admirável,
Simples porto,
Onde se chega num sorriso,
Para depois transpor portal austero,
Tão memorável,
Que transpô-lo
Nos deixa, enfim, no paraíso…
Assim chegamos nós,
Trocando beijos,
Fazendo do Amor,
A nossa voz,
Nossos desejos,
Com paixão, com fé
E com esplendor…
Paisagens,
Puras, com verdade,
Do Morro da Saudade,
Que se vivem plenas
Pelas margens
Do oceano que nos beija os pés.
Um vivo sortilégio da paixão
Entre nós dois amor, amante, amada,
Que, sem sentirmos, nos invade o coração,
E que se instala sem jamais nos pedir nada…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da paixão
VIII
"UM COPO"
Um copo de cerveja
E um cigarro...
E a música apalpando toda a gente...
Um copo de cerveja
E um cigarro...
E gente sentindo o corpo quente...
Um corpo que deseja
E mais um charro...
E o álcool subindo calmamente...
Um corpo que deseja
E o mais que agarro...
E outro corpo aquecendo lentamente...
Um litro se despeja,
Zarpa o carro...
E o leito se aproxima ardentemente...
Um litro se despeja,
Zarpa o carro...
E zarpa o sangue no corpo da gente...
Um fogo que se inveja,
Coze o barro…
E… unindo dois corpos fortemente:
É movimento,
Ritmo, ternura,
É febre,
Suspiros e loucura;
É infinito
Num tempo finito,
No segundo louco da expansão...
Um grito se solta
E é bizarro...
É suor, saliva e sucos de emoção...
Um grito se solta,
Coze o barro
No exato momento da fusão!...
É já... ainda não...
E mais... agora!...
É vem... amor...
É dia dos sentidos,
É noite, ardor,
É dentro e fora,
É grito que se quebra em mil gemidos!...
Gil Saraiva