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VI
“QUERO VOLTAR AO NORDESTE”
Regressar a Natal bem no Natal
No calor agradável do verão,
Fazer da brisa fresca uma paixão,
Que nos penteia a alma ao natural,
Como ourives talhando um cristal,
Lapidando amor ou ilusão
Na nossa pele aberta à sensação
De receber um Sol sentimental.
Sentir neste Nordeste o pôr-do-sol,
Passar em Ponta Negra no agito,
Soltar feliz a voz e sem um grito
Imitar vocalmente o rouxinol.
Amar, dançando um samba brasileiro,
No Nordeste, qual bicho-carpinteiro.
Gil Saraiva
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XXV
"O TEU NATAL"
Hoje é Natal, Natal na minha vida.
Tocam os sinos p’la minha alma fora...
E em cada canto do meu ser, agora,
Tudo vibra sem conta nem medida!...
É Natal! É Natal porque é nascida,
Do ventre desse Amor, a nova aurora,
Filha de nós os dois, pequena amora,
Fruto de louca noite, sem dormida...
Hoje é Natal! O teu Natal Diana!
E em lágrimas de riso choro amor...
Hoje é Natal, é vida feita flor...
Tem a minha alma nova soberana.
Temos os dois o bem mais desejado:
A Taça da Vitória, um El Dourado...
Gil Saraiva
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"OS AZARES DE UM HOMEM DE SORTE"
Sou um homem de sorte!
Perguntam-me porquê?
Coisa mais simples:
Tenho a sorte de ser feliz,
Alegre,
Um otimista, enfim...
Mas e a Vida corre bem?
Ah... a Vida...
Essa ingrata criatura,
Sem forma ou rosto,
Nem sempre corre
Quanto mais bem...
Se é pra subir,
Subir na Vida,
Quase gatinha
A pobre atrapalhada.
Mas a descer é mestre,
Dá cartas,
Tem os recordes todos
E as medalhas...
Parece andar a jato,
É campeã!
Nos momentos sem altos
E sem baixos
Marca passo,
Conta um por um,
Como se cada passo
Fosse ouro
Que há que guardar para sempre,
Qual tesouro!...
É prima dos Azares a minha Vida,
Com eles convive sem pudor,
Dão-se tão bem,
No dia-a-dia,
Que chego a pensar
Se não seria melhor
Que casassem por amor!...
Se casa, carro, mulher,
Perco de uma vez apenas,
Diz-me a Vida que é banal...
Um azar nunca vem só!...
E se um outro azar houver
É normal,
É natural:
Seja a falência da firma,
Seja o que Deus quiser...
Um azar nunca vem só!
Mas sou um homem de sorte!
Estou vivo,
Choro e coro
Com todas as minhas forças...
E nem a madrasta Morte
Me bate à porta, faz tempo...
Para rir
Basta um sorriso
De quem me quer
Como sou...
Ah! Sim...
Eu sou um homem de sorte...
Tudo o resto são más línguas;
Coisas
Que o vento levou...
E se a tal,
A minha Vida,
Comigo quiser viver,
A sorrir
Tem que aprender,
Que eu tenho mais que fazer
Que aturar os primos dela,
Esses Azares
Sem gosto,
Viciados no desgosto...
Sorriam, estou bem disposto,
Pois sou um homem de sorte,
Para quem sempre é Natal
Ou Páscoa ou Carnaval...
Sou um ser dos alegres
Que sorri até para o não!...
Os Azares de um homem de sorte
Valem pouco, nada são!...
Gil Saraiva