Livro de Poesia - A Exoração do Postremo: Neva no Algarve - I
I
"NEVA NO ALGARVE"
Neva no Algarve
Em cada amendoeira…
Os primeiros turistas
Vão chegando ao Sul.
Vêm em bandos
Sedentos de conquilhas,
Esses bivalves lindos a quem os lisboetas
Chamam cadelinhas,
Porque a cultura
Não respeita a origem.
Neva no Algarve
Em cada amendoeira
Que ninguém a chame de neveira…
No olhar claro dos normandos,
Saxões e germanos,
Na pele clara de alfacinhas e nortenhos,
Que pelo Algarve
Se vão diluindo com a natureza,
Com as povoações,
Se refletem e se espelham
Cataplanas de sonho almareado,
De golfe e de gozo,
Tão claros como o nosso céu.
Neva no Algarve
Em cada amendoeira
Dizem os turistas à sua maneira…
Vende-se o Algarve,
Tudo está “For Sale”
E o algarvio de bolsos vazios
Se rende, vassalo, ao tocar do sino
De algumas libras, dólares e outros euros…
Neva no Algarve,
Em cada amendoeira,
Mesmo com pandemia…
Mesmo sem turistas,
Sem noite ou veraneio,
De bolsa vazia,
Sem festa,
Que do marisco nem o cheiro.
Neva no Algarve
Em cada amendoeira
Em cada algarvio
De cultura feita para fazer dinheiro
Entre sesta e sono.
E o corridinho é dançado à pressa
Antes que o outono
Leve embora os bandos,
Que por cá não ficam…
Neva no Algarve,
Mas a neve é outra…
Gil Saraiva