Livro de Poesia - Tetrásticos de Supercílio Trépido: Tetrástica lá, no Nordeste - V
Brasil - Natal – I – Morro do Careca - Vista da Piscina do Hotel (Foto de autor, direitos reservados)
V
"TETRÁSTICAS LÁ, NO NORDESTE"
Eu vim de lá, de Lisboa,
Capital de Portugal,
Em busca de coisa boa
Na cidade de Natal.
Você é Manuel Coco
E canta sem lucidez,
Não sei se é por ser louco
Ou se é da embriaguez.
Para si é natural,
Tem treino de repentista,
Lança quadras, sem igual,
Como um corredor na pista.
Eu cá preciso de ler,
Como o pardal de alpista,
Em verso canto a correr,
Mas não sou um velocista.
Venho muito eu ao brasil,
Pois amo meu povo irmão,
É terra de encantos mil
Que guardo no coração.
Como asa de borboleta,
Em Portugal, minha praia,
Tem o nome de Fuzeta,
Mas tem pouca minissaia.
Seu “Manel” sessenta e nove
É idade de respeito,
Se bem que o seu olhar prove
Que ainda gosta de peito.
Barraca do Caranguejo,
Ponta Negra, junto ao mar,
Onde comer é desejo
E música é paladar.
Em Natal o carnaval
É festa e é loucura,
Seu “Manel” por enxoval
Hipoteca a dentadura.
Barraca do Caranguejo,
Rodízio de camarão,
Ah, menina, dê-me um beijo,
Por favor, não diz que não.
Perdeu em Natal anel,
De casamento, aliança,
Empenhado p’ra bordel
Lhe dar nova confiança.
Não precisa de outro amor,
Esse velho nordestino,
Mas morena dá calor,
Que fazer? É o destino.
E eu que vim lá de Lisboa,
Capital de Portugal,
Ao ver tanta coisa boa,
Já nem sei ser natural.
Ter o destino traçado,
Pelas estrelas do céu,
É ter também a certeza
De seres minha e eu ser teu.
Veneno em ponta de seta,
Deve a poesia ser,
Em português um poeta
Só presta quando morrer.
Gil Saraiva