XV
"BALADA DA VAMPIRA – MAIS QUE TUDO”
(Para cantar com a música de “Os Vampiros” de Zeca Afonso)
Nesse teu rosto,
Cerrado escudo,
Ou nesse olhar
De desamparada,
Sinto o Sol posto,
Vem no beijo mudo
Procurando amar,
Não sentindo nada.
Quem ateia a cama
É teu ser veludo
De mulher em chama
Que quer ser amada.
Tu és mais que tudo,
Tu és mais que tudo
Tu és mais que tudo
E eu não sou nada!
Tu és obra de arte,
Perfeita, demais,
Vives na beleza
De seres obra prima.
Abrem guerra a Marte
Os pobres mortais,
Querem a certeza
De ter tua estima.
Quem ateia a cama
É teu ser veludo
De mulher em chama
Que quer ser amada.
Tu és mais que tudo,
Tu és mais que tudo
Tu és mais que tudo
E eu não sou nada!
Tu és o segredo,
Vens de tempo idos,
De lendas e mitos
És moura encantada.
Nunca tenhas medo
Dos dias perdidos,
Porque, entre mil gritos,
Tu és voz amada!
Quem ateia a cama
É teu ser veludo
De mulher em chama
Que quer ser amada.
Tu és mais que tudo,
Tu és mais que tudo
Tu és mais que tudo
E eu não sou nada!
Quem ateia a cama
É teu ser veludo
De mulher em chama
Que quer ser amada.
Tu és mais que tudo,
Tu és mais que tudo
Tu és mais que tudo
E eu não sou nada!
Gil Saraiva
Nota: Letra para a Banda de bairro “Ecos da Cidade” (últimos 20 anos).
(A minha homenagem a uma SENHORA deste bairro que adoro, condolências à família, principalmente à D.ª Teresa)
XIV
"UM DIA SEM AURORA A DESPERTAR”
Senti o frio,
Ontem, com a noite a chegar.
O crepúsculo escondia um arrepio,
Que eu não consegui interpretar.
Conjugava-se a trama
Sem que o bairro soubesse,
E algures, numa cama,
A velha senhora, não porque quisesse,
Fechava os olhos para não mais
Os tornar a abrir.
Fechava-se um sorrir
Para voltar jamais…
E em Campo de Ourique,
Se olvidou a ceia,
Esqueceu-se o chique
Esta nova ideia de ser bairro fino,
Porque aqui, na aldeia,
Se cantou o hino
No partir de Aurora.
Na banca da fruta esta lutadora
Não voltará de novo ao mercado
De Campo de Ourique.
Partiu para outro lado,
Pedem-lhe que fique,
Mas esse destino não se vai mudar,
Parte porque parte para não voltar.
Vendia legumes, frutas, vegetais,
Já nem lembra o tempo os anos passados
A atender fregueses ricos ou banais,
A oferecer alegria
Em sacos pesados
Lá na frutaria.
Hoje, o dia chegou sem querer chegar,
Um dia sem Aurora a despertar…
Gil Saraiva
(A minha homenagem a uma SENHORA deste bairro que adoro, condolências à família, principalmente à D.ª Teresa)
XIV
"UM DIA SEM AURORA A DESPERTAR”
Senti o frio,
Ontem, com a noite a chegar.
O crepúsculo escondia um arrepio,
Que eu não consegui interpretar.
Conjugava-se a trama
Sem que o bairro soubesse,
E algures, numa cama,
A velha senhora, não porque quisesse,
Fechava os olhos para não mais
Os tornar a abrir.
Fechava-se um sorrir
Para voltar jamais…
E em Campo de Ourique,
Se olvidou a ceia,
Esqueceu-se o chique
Esta nova ideia de ser bairro fino,
Porque aqui, na aldeia,
Se cantou o hino
No partir de Aurora.
Na banca da fruta esta lutadora
Não voltará de novo ao mercado
De Campo de Ourique.
Partiu para outro lado,
Pedem-lhe que fique,
Mas esse destino não se vai mudar,
Parte porque parte para não voltar.
Vendia legumes, frutas, vegetais,
Já nem lembra o tempo os anos passados
A atender fregueses ricos ou banais,
A oferecer alegria
Em sacos pesados
Lá na frutaria.
Hoje, o dia chegou sem querer chegar,
Um dia sem Aurora a despertar…
Gil Saraiva
XIII
"BALADA DOS NAMORADOS”
(Cantar com a música d’ “Ó rama, ó que linda rama” de Vitorino)
Se eu for o teu namorado,
Tu és namorada minha.
És o sonho inesperado
De quem sonhos já não tinha.
De quem sonhos já não tinha,
De quem fora abandonado,
Vagabundo sem casinha
Que do sonho fez telhado.
Que do sonho fez telhado,
Abrigo, porto seguro,
Mas és sonho inacabado
Se em mim não tiveres futuro.
Se o passado der futuro,
Vida nova e alegrias,
Serás o cair de um muro,
Que ao cair fez maravilhas.
Se eu for o teu namorado,
Tu és namorada minha.
És o sonho inesperado
De quem sonhos já não tinha.
Que ao cair fez maravilhas,
Junto fome a quem prospera,
Fez continente de ilhas,
Fez nascer a nova era!
Fez nascer a nova era:
O raiar de augusta aurora,
Criou imortal quimera,
Do passado fez outrora.
Do passado fez outrora,
Fez renascer nossa vida,
De mim fez quem já não chora,
De ti fez mulher, querida.
Se eu for o teu namorado,
Tu és namorada minha.
És o sonho inesperado
De quem sonhos já não tinha.
De ti fez mulher, querida,
Alma para a qual nasci,
No deserto oásis, ida,
Passagem que descobri.
Paisagem que eu descobri,
Uma flor por entre as flores,
Uma águia, um colibri,
Por quem eu morro de amores.
Por quem eu morro de amores
És tu namorada minha,
O meu A, 20 valores,
Resposta sem adivinha.
Se eu for o teu namorado,
Tu és namorada minha.
És o sonho inesperado
De quem sonhos já não tinha.
Resposta sem adivinha,
Porque eu sou teu namorado,
Teu cacho de uvas, ó vinha,
Por ti serei vindimado.
Por ti serei vindimado,
Tu és namorada minha.
Se eu for cacho inesperado
Juntos somos vinho e vinha!
Gil Saraiva
Nota: Letra para a Banda de bairro “Ecos da Cidade” (últimos 20 anos).
XII
"BALADA DA CARA METADE”
(Cantar com a música da “Canção do cigano” de Alberto Ribeiro)
Ninguém me falou de ti,
Procurei-te com fervor,
Cara metade eu vivi
Na busca do teu amor.
Lá chegou aquele dia
Em que, por fim, te encontrei.
Tu não sabes da alegria,
Nem de tudo o que eu passei.
Onde estavas minha amada?
Que tanto tempo levei
A bater na porta errada
Ah! Até que, um dia, entrei.
Nunca te vi à janela.
Jamais me cruzei contigo.
Foste oculta Cinderela
Escondida num abrigo.
Foi um dia, por acaso,
Aquele em que eu te encontrei,
Disseste: “- Nunca me caso!”
Mas contigo eu me casei.
Eras tu minha outra face,
Ficou meu rosto feliz.
Tinhas o porte e a classe,
Tinhas o que eu sempre quis.
Ó mulher, mulher paixão,
Tu és a minha verdade.
És face desta união,
És minha cara metade!
Gil Saraiva
Nota: Letra para a Banda de bairro “Ecos da Cidade” (últimos 20 anos).
XI
"BALADA DA SEGUNDA OPORTUNIDADE"
(Cantar com a música d’ “Onde vais rio que eu canto” de Sérgio Borges)
Quero o fim desta ansiedade,
E ganhar um novo alento,
Segunda oportunidade,
Que a primeira foi tormento.
Aqui se busca amizade,
Ajuda p’ra solidão.
Busca solidariedade,
Busca-se um sonho irmão.
Busca-se um sonho irmão,
Uma alma gémea na senda
De um caminho de paixão,
De um ser que nos compreenda.
De um ser que nos compreenda,
Que nos livre do passado,
Um alguém que nos entenda,
Um alguém p’ra ter ao lado.
Quero o fim desta ansiedade,
E ganhar um novo alento,
Segunda oportunidade,
Que a primeira foi tormento.
Quero viver em pecado
E aquecer os pés de inverno,
Um alguém apaixonado,
Que me tira do inferno!
Que me tire do inferno,
Que me dê a mão amiga,
Um meigo existir eterno,
Que tudo o resto é cantiga.
A quem dedico a cantiga,
A quem dou meu coração,
Onde descanso a fadiga
Na esperança da comunhão.
Quero o fim desta ansiedade,
E ganhar um novo alento,
Segunda oportunidade,
Que a primeira foi tormento.
Alcançar a salvação,
E gritar felicidade,
Quero é nesta união
O fim de tanta ansiedade.
O fim de tanta ansiedade
O ganhar de um novo alento,
Transformando esta saudade
Em folha que leva o vento!
Em folha que leva o vento,
Seja no campo ou cidade,
Não quero mais desalento,
Quero o fim desta ansiedade.
Quero o fim desta ansiedade,
E ganhar um novo alento,
Segunda oportunidade,
Que a primeira foi tormento.
O fim de tanta ansiedade
O ganhar de um novo alento,
Transformando esta saudade
Em folha que leva o vento!
O fim de tanta ansiedade
O ganhar de um novo alento,
Transformando esta saudade
Em folha que leva o vento!
Gil Saraiva
Nota: Letra para a Banda de bairro “Ecos da Cidade” (últimos 20 anos).
X
"BALADA DA CRISE INSTALADA"
(Cantar com a música d’ “Ó rama, ó que linda rama” de Vitorino)
Por nós a crise passou,
Depois foi a recessão,
Veio a Troika e repressão,
Que a muitos o pão roubou…
Pedem solidariedade,
Que já esqueçamos o Passos,
Criam programas e laços,
Calam vozes e a verdade!
Vem falar de sacrifícios,
Um sujeito bem sinistro,
E nos dizem que é ministro,
Rói-nos ossos, rouba ofícios.
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Quando é que ele rebenta,
As águas, ah, desse parto,
Porque está ficando farto
Da sebenta bolorenta.
Vai crescendo o capital,
Rei José fica sem sorte
E na prisão perde o porte
Com acusação fatal.
Fico do lado da morte,
Eu que sofro pela vida
Nem tanga trago vestida,
Ele é corte atrás de corte.
Lei das rendas, chegou Cristas,
Roubou-me o teto a sorrir
E anunciam que hão de vir
Uns diabos socialistas.
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Quando é que ele rebenta,
As águas, ah, desse parto,
Porque está ficando farto
Da sebenta bolorenta.
Chega Costa, de viagem,
Vem matar a austeridade,
Prometendo honestidade
Traz Cabrita na bagagem.
Por fim chega a geringonça,
Baralhada, um pouco lerda,
Que o socialismo de esquerda
Tem muito amigo da onça.
Arde assada muita gente
E às dezenas nos compêndios,
Em Pedrogão dos incêndios,
O fogo ganha contente.
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Quando é que ele rebenta,
As águas, ah, desse parto,
Porque está ficando farto
Da sebenta bolorenta.
Morre Igor, aeroporto,
Por SEF sem compaixão,
Instala-se a confusão,
Quando um vivo vira morto.
Entre tristeza e loucura,
No meio de gente cega,
Um novo partido, Chega,
Anunciando Ventura.
E a direita radical
Promete cortar a eito,
Sem saber o que é respeito,
Pedófilo, genital.
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Quando é que ele rebenta,
As águas, ah, desse parto,
Porque está ficando farto
Da sebenta bolorenta.
Finalmente se alivia,
A vidinha portuguesa,
Mas logo para tristeza.
Eis que vem a pandemia.
E aqui, na capital,
Na carteira, sinto o corte,
Mais um português sem sorte,
A sofrer com Portugal!
Este país aguenta,
Pois tem um costume brando,
Só não se sabe até quando,
Quando é que ele rebenta.
Gil Saraiva
Nota: Letra para a Banda de bairro “Ecos da Cidade” (últimos 20 anos).
IX
"O QUE É A POESIA?"
- Pai, explica-me, se faz favor: o que é a poesia?
O significado da poesia depende de quem cria,
Aquilo que gera e muito de quem lê.
Pode ser a tela, em arco-íris,
Que um cego de nascença idealizou
Num dia em que inspirou a maresia
E em que sentiu o Sol nessa sua derme
Que jamais observou.
É como o hino heroico,
Que um mudo,
Num simples olhar pátrio,
Pela expressão sentida,
Do seu rosto, entoou.
É, talvez, a balada de sofrimento,
Que um eterno surdo,
Por um gesto de dor
Num outro ser que se contorce,
Num outro alguém que geme,
Pelo seu olhar atento,
Ele escutou.
Será, quiçá,
A força da vida,
Que um aparente morto,
Sem se saber como
Ou porquê, ressuscitou.
Porque a poesia,
Desde que poetas há na existência,
É sempre o reflexo da emoção,
É o genuíno eco da sensibilidade,
De quem experimenta em verso a alma,
Na fusão perfeita dos sentidos e dos sentimentos.
Gil Saraiva
VIII
"ACHO QUE MUNDO É PORTUGAL"
Eterna é a perfeição e não o Homem.
Perfeito é o sonho e não o ato.
Sonhar é ver a luz e não o ser.
Já a luz só é mensagem para quem vê.
Ver não é saber, apenas se resume a testemunho.
Testemunhar é olhar o arco-íris
E não é compreender a física da Terra.
Terra há muitos que a trabalham
E não são assim tantos aqueles que a têm.
Ter é poder e conquistar e nada tem a ver com perfeição.
Confundem-se conceitos e defeitos,
Verdades com aparências e ilusões,
Porque nem toda a gente tem no sítio
Aquilo que se conhece por aptidões.
Nem sempre usamos a palavra certa
Trocamos razões por canhões
E geramos assim tão facilmente
A mais singular das confusões.
Se o arco-íris é mero acontecer,
Já o crepúsculo implica entardecer
E noite é noite e não escuridão e breu
Até porque existe a Lua Cheia.
Acontecer exige o ato em si e não a causa,
Que o ato é luz e não promessa.
Que a luz é mais do que o sonho
E menos do que o pensar.
O sonho é o produto do Homem, não das coisas.
Quanto ao Homem, este, é ser e não saber.
Porque o ser é perfeição e não é dúvida,
Que a perfeição é busca e é humana
No conceito, na forma, no progresso
E nada tem a ver com exterior
E muito menos com verso ou universo.
Pode o Homem ser eterno e não mortal?
Enquanto luso, eu acho que mundo é Portugal!
Gil Saraiva
VII
"LIBERDADE DE SER LIVRE EM LIBERDADE”
O contexto das coisas molda a liberdade…
No coreto do Jardim da Parada eu vi uns
Olhos negros, um nariz arrebitado,
De saia gaiata, camisa de bolinhas,
Com cabelo negro, liso à Joana d’Arc,
Um riso atrevido, sensual, perdido,
E uns gestos felinos, quase provocantes.
Não liguei muito e depois pensei...
E se o meu cérebro me contasse
O que vai no coração dos outros? Dir-me-ia
Que o puto da bicicleta estava apaixonado,
Todavia, e se o sentimento pela petiza
Viesse do quarentão sentado na mota?
Seria um caso de arrepiante pedofilia
Pois a cachopa não teria mais que quinze anos.
Na verdade, dependendo da realidade,
O contexto das coisas muda a liberdade!
Liberdade! Viva a liberdade!
Viva a sociedade de consumo,
Viva o trabalho,
Viva o ministro que chegar primeiro.
Viva a vida, viva a morte,
Que o uso da labuta do operário
Vive nos bolsos, a quem a sorte
Deu o nome pomposo de: Patrão.
És livre de estudar,
Mas tens dinheiro?
Livre de trabalhar, se houver labor,
Até és livre de ter um teto ou um caixão.
E ainda és livre de a Portugal chamares prisão,
Em liberdade, talvez, por confusão.
Guardam o teu transpirado capital
Aqueles para quem suaste
Tão livre do repouso que mereceste.
Liberdade! Viva a liberdade!
Virados para a Lua,
A hiena e o abutre,
A pantera, o urso e o leão,
São quem primeiro tem direito à refeição
De outros animais que são repasto,
Tenrinho, dos donos do sertão.
Liberdade, solidariedade e, porque não,
Fraternidade, para a irmandade
Dos que nasceram do ouro ou do falcão,
Do nobre comando imposto por dentes
De hiena, de tigre, orca ou tubarão.
Liberdade! Viva a Liberdade!
Dos que germinaram no lado oculto,
Em escuridão.
Que sobreviva o pobre,
O emigrante, o imigrante,
O esfarrapado e o pedinte,
O desgraçado, o cornudo, o elefante,
O sacrificado e o ouvinte,
Todos aqueles a quem o azar
Entrou pela porta, sem bater
E que apenas vieram
Do lado errado da liberdade.
Liberdade! Viva a liberdade!
Vivam os que veneram o homem pequeno
Cara franzina, de fuinha, amostra de bigode,
Cabelo preto lambido por cabra, vaca ou bode,
Porque a estupidez humana é misteriosa.
Viva o direito de se poder dizer não!
É fácil tudo negar, como resposta,
Como é fácil olhar e nada ver,
Pensar como é bom algo acontecer,
Não mexer uma palha e cantar glória,
Recusando os atos da vitória
Com medo de nunca a obter.
A ignorância, a negação e o fanatismo
São as sementes podres da sociedade.
Liberdade! Viva a liberdade!
Gil Saraiva