Livro de Poesia - Crença em um Fanal na Chona Lôbrega: O Eco dos Sentidos - VI
VI
"O ECO DOS SENTIDOS"
Era uma vez
Um escritor chamado eu,
Que escreve de pequenino
(Mas que vaidade Deus meu)
Dirão, talvez,
Lá do alto,
Os doutos homens das letras,
Com desprezo pela escrita
Do escritor que hoje sou eu,
Que pouco sabe da arte,
Que tenta expor umas tretas.
Mas o escritor feito eu
Não se demove ou acanha,
Escreve o que sente
E não sente,
Só à caneta é fiel.
Que o escritor é… tinta ardente
Numa folha,
No papel,
No pensamento da vida,
Numa quimera esquecida
Chamada civilização…
Não há só filosofia,
Crença ou religião,
Saber de mente vazia,
Ou a douta opinião…
Há também a fantasia
De quem escreve uma aliança,
Uma semente vazia
Ou um mundo em mudança…
Caneta e tinta,
Papel.
Resignado, suicida,
O escritor bem sente o fel
De quem pouco vive a vida…
Escreve uma folha,
Outra folha,
Poeta feito valente,
Do que pensa, consciente,
Com tinta, compreensão.
Escreve o fel, a dor
O mel, o amor,
Escreve chegada ou partida
Na folha ardente da vida…
Resignado, suicida…
Caneta, tinta, papel,
Grava o que sente
Na ferida!
Sente o mundo, a dor, o ar,
Não sente os doutos, vendidos,
Sente o ser, sentir e amar,
Sente o eco dos sentidos…
Gil Saraiva