![DSCF2381a.JPG DSCF2381a.JPG]()
XII
“DESPEDIDA”
No Hotel Portaló o ser se reparte
Qual afago, festa ou cafuné,
De chalé em chalé
Cultura é baluarte
Que à natureza se mistura
Com engenho…
Quem chega,
Chega a um mundo à parte;
Quem parte
Não esquece o desempenho
De quem
O acolheu naquele hotel,
De quem
Lhe deu guarida,
Deu quartel,
Deu nova vida…
Portaló não é porta,
É como um véu,
Passar por ele só importa
Para quem quer ficar perto do céu…
Quem parte
Leva natura e arte
Quem chega
Tem saudades quando parte…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![DSCF1523.JPG DSCF1523.JPG]()
XI
“CHALÉ FERNANDO PESSOA”
Aqui, no Portaló, em Tinharé,
Longe de Paris, Rio ou Lisboa,
A vida, qual sorriso de um bebé,
Segue calma, simples e tão boa…
“Tudo vale a pena…” a forma é pura,
A prosa à poesia dá frescura
Com aromas de ser e de natura,
Neste espaço feito luz e cor…
Cada chalé tem nome de poeta ou de um escritor,
Cada chalé tem um coração, tem um sentir,
Tem paz, tranquilidade e tem amor,
Tem essência, alma e existir…
A pena é verde aqui, como a mata atlântica
E a palavra é barco, galeão, canoa,
É terra que floresce de romântica…
Em Fernando Pessoa
Me instalei meia quinzena,
E me senti um Rei, sem ter a coroa,
De um quinto império sem arena…
Fiquei por Portaló enamorado,
E pelos versos de Pessoa eu inspirado
Entendi, então, de forma plena,
O que vale ter a alma não pequena…
Casámos na casa de Pessoa,
Longe daqui, lá para Lisboa,
E a Lua de Mel realizámos,
Na Bahia, no Morro de São Paulo,
E neste chalé nos instalámos,
Chamado de Fernando Pessoa,
A milhares de quilómetros de Lisboa.
Não existem coincidências,
Digo eu, que pouco sei,
Mas que o poeta foi padrinho
Não duvido,
Por entre incongruências
Foste rainha e eu glorioso rei,
E tudo pareceu fazer sentido.
Fomos unidos por estros do além,
Abençoados por ninfas,
Trovadores,
Predestinados ao amor, que de nós vem,
Apenas tu e eu e mais ninguém…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![DSCF1526.JPG DSCF1526.JPG]()
![DSCF1506.JPG DSCF1506.JPG]()
X
“OS CHALÉS”
Como peças de um grande dominó
Os chalés vestem a encosta
Do Morro de S. Paulo: É Portaló…
Se do Pessoa eu vejo bem o porto
Nos outros se tem igual conforto…
Temos Zélia Gatai, Voltaire
E Jorge Amado,
José de Alencar, Júlio Verne,
José Saramago…
Temos Marguerite Duras
E emoções
Seja em Machado de Assis,
Luís de Camões,
Nas aventuras
De Alexandre Dumas,
Joaquim Ubaldo Ribeiro
Ou Eça de Queirós
Por entre as brumas…
Castro Alves tem também telheiro,
E nem os miseráveis são refugo
Pois que aqui tem também,
Seu chalé, o Vítor Hugo…
Todos estes chalés de Portaló,
Têm nomes de escritores imortais,
Porque a ilha inspira e trás à mó
Os mais férteis e profícuos cereais,
Que depois de moídos e tratados
Geram um mosto, quando combinados
Com extratos de estros especiais.
Aqui amor eu escrevo entre chalés,
O que sou, o que amo, como te adoro,
Aqui eu te descrevo como és,
Por ti eu grito, riu, gozo e choro.
Aqui a fantasia é mais real,
Nestas cabanas na mata integradas,
Chalés atlânticos, casinhas enquadradas,
Num ambiente perfeito e natural.
Jamais aqui me ouvirás pedir socorro,
Vamos ficar por cá, para sempre, querida,
Tu que és a felicidade desta minha vida
Fica comigo para sempre neste morro.
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![DSCF1511.JPG DSCF1511.JPG]()
IX
“EPOPEIA”
Neste hotel de nome Portaló,
Somos como a aranha em sua teia,
Somos o guardião de uma baleia
Num quarto batizado Moby Dick…
Só importa a quem cá fique
Instalado na encosta,
Saber daquilo que gosta,
Porque aqui não há despique…
No Morro de S. Paulo,
Em Portaló,
Ilha de Tinharé,
Terra de verde e pó,
Banhada de fé,
De azul, de céu e de águas,
Onde o passado em tempos
Lavou mágoas,
Por entre aromas tropicais
E de café,
Olhando paisagens geniais
Escutando um violão,
Um oboé,
Tudo floresce em cada grão de areia
Para gravar em nós esta epopeia…
Epopeia de amor,
Que entre imensos amplexos,
Faz vibrar, bem no calor,
Os nossos excitados sexos.
Num entra e sai
Que não para, não descansa,
Entusiasmado,
Parece mais maratona
Do que um ato isolado,
Este frenesim de amor,
Com travos de feromona…
Afrodisíaca viagem de alegria,
Neste morro, nesta aldeia,
Onde aos saltos as hormonas,
Libertam as feromonas,
Criando ninhos na areia,
Fazer amor e senti-lo é quase igual,
Por aqui, num local fenomenal,
Onde o amor é epopeia…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![DSCF1524.JPG DSCF1524.JPG]()
VIII
“QUARTO, COM VISTAS”
Aqui em Portaló cada espaço
Tem seu nome,
Cada quarto é um abraço,
Se usa “meu” como pronome…
Quartos com identidade
Onde a chama se conquista
Com vigor, tenacidade,
Sem que ninguém lhe resista…
Aqui belo é felicidade
Nestes “meus” quartos com vista….
Seja Fernão Capelo Gaivota
Ou O Velho e o Mar,
O sentir é patriota
De quem por aqui passar…
Ficar em Eva Luna
A pernoitar,
Robson Crusoé,
Lobo do Mar,
Pequeno Príncipe
Ou O Alquimista,
Num sorriso bem risonho
Cada quarto é egoísta,
Cada momento é um sonho…
No nosso quarto, chalé,
Sua história vira nossa,
Ele passa a guardar memórias,
Primeiro em rodapé,
Dos êxtases e das vitórias
Dos teus orgasmos, dos risos,
Do meu gozo, dos sorrisos,
Dos acordares, das glórias
De dois amares consumados,
De quem, por amor, se entrega,
Num frenesim de conquistas,
Entre toques encantados,
Em luar que não sossega
Nossas ações mais ariscas
Dos corpos entusiasmados…
E quando, um dia, velhinhos,
Recordarmos as origens
Destes momentos alados,
Envoltos em novos ninhos,
Ah, não será com vertigens,
Que sentiremos, que amados,
Fomos bem mais que turistas
Naquele quarto, com vistas…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![Dia dos Namorados.jpg Dia dos Namorados.jpg]()
"Dia dos Namorados, Para Alguns..."
Por ver chegar o dia triste estou…
Sim, porque hoje celebram namorados
Serem um par, o estar apaixonados
Bem dif’rente de como, agora, eu vou…
Celebram o que, em mim, se evaporou,
E há, por todo o lado, encantados
Abraços, beijos, mimos devotados,
Que p’ra longe de mim alguém levou...
Por toda a parte aromas e fragrâncias
Rapidamente espalham os odores
De pecados de amor, sem arrogâncias,
Que em mim parecem tão devastadores...
Dia dos Namorados, quem me dera
Voltar a celebrá-lo… é longa a espera…
Gil Saraiva
![As Águas.JPG As Águas.JPG]()
VII
“AS ÁGUAS”
Bebem-se caipirinhas e sorrisos,
Piropos, muitos risos,
Tudo se bebe molhado
Entre adivinhas…
Nas águas da cascata,
No relvado,
Na piscina e nas praias,
Tudo ao calor resiste e se desnata
Nos biquínis, nos chapéus, nas minissaias,
Na chuva que ao cair é catarata
E que minutos depois já se esqueceu
Porque apenas nos lavou o eu…
Ah! Isto sim, é vida!
Águas bem-ditas, mais do que água benta,
Que nos fazem esquecer uma partida,
Que embora longe já nos atormenta…
Que toquem oboés,
Que dobrem sinos,
Que do velho Sinai desça Moisés,
Que se dance o samba, cantem hinos,
Mesmo após o poente glorioso
Fazer nascer a lua prateada,
Pois tudo aqui é bom, é tudo gozo,
Tudo nos traz a alma embriagada
Neste Portaló feito virtude
Onde cada momento é plenitude…
Mas devo confessar, ó meu amor,
Apenas o teu corpo mata a sede
Deste meu ser molhado em teu calor,
Seja na cama, na relva, na parede,
Contra a qual nada tenho, nem critico,
A forma como de encontro a ela,
Em ti, atinjo, meu amor, o pico…
Tu és a água que, às vezes, cai do céu,
Mais a do mar salgado,
Do Oceano, da cascata,
A da piscina, da praia e do lavar
Só tu me passas de húmido a molhado…
Porque em ti meu corpo a sede mata,
Em golos de Sol e de luar,
Por entre a poesia e a sonata…
Nas encostas deste morro encantado,
Te sirvo eu, no crepitar das fráguas,
Para me servir de ti, musa das águas…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![A Vigília.JPG A Vigília.JPG]()
VI
“A VIGÍLIA”
O sonho parece não ter fim…
Criando pequenas praias graciosas
O mar banha os despontares de areia,
Com flores de espuma, qual jardim,
Regado a gotas de oceano, preciosas,
Pérolas de mar na maré cheia…
De forma suave, harmoniosa,
Chegam as águas fluidas à muralha,
E a meiga ondulação vai radiosa
Penteando as pedras sem batalha,
Numa paz cúmplice que enleia
As margens por onde serpenteia…
Na piscina do hotel a queda de água
Trauteia indolente a voz da vida,
Sem sinas, tristeza ou sequer mágoa,
Apenas porque a vida lhe é querida…
Ao fundo um colorido bar molhado,
Servido por morena no sorrir garrida,
Refresca, por dentro e por fora,
O mais acalorado convidado,
Para quem as cervejinhas, canapés
Ajudam a ficar mais relaxado,
Na plácida vigília dos chalés….
Subitamente, tu entras na piscina,
E a água reflete as tuas formas
Num misto de sereia e de menina,
Que rompe status quo, rompe normas,
Apenas transmitindo o sensual
Apelo ao sexo, pelo movimento,
De um nadar suave e natural.
Tocam alarmes no meu pensamento
Há muitos predadores
À solta, a esta hora,
Que, tal como nativos batedores,
Vão dar por ti e sem demora.
Qual harpia me ergo concentrado,
Para além de meu amor, tu és família,
De pé, monto o meu posto de soldado,
Anunciando que estou de vigília.
Tu dás conta do meu ar de vigilante,
Rindo, tiras da água o corpo sedutor,
Dizendo bem alto e provocante:
“- Anda, vem, vamos fazer amor.”
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![Harmonia.JPG Harmonia.JPG]()
V
“HARMONIA”
Aqui,
Neste hotel me sinto estranho,
Aqui,
Nada é pequeno nem tacanho,
Aqui,
Eu vivo paz, me sinto em casa,
Aqui,
Posso voar sem grão na asa….
Por entre árvores de fruto e palmeiras,
Por entre arbustos, por entre trepadeiras,
Passam correndo répteis velozes,
Lagartos, entre o verde e o castanho,
Fugindo, sem tempo para poses,
Com medo de nós pelo tamanho
Ou pelo gargalhar das nossas vozes…
Por todo o lado
Vibra, quase com ardor, a empatia…
O sonho aqui está acordado
E a saudade é meta para um dia…
Tudo aqui
É natureza na essência,
Aves, flores, gentes e magia,
Tudo aqui
É puro, é existência,
Porque aqui
Se respira a harmonia…
Mas só por ti entendo a melodia,
São os teus olhos que me fazem
Ver o dia,
A tua boca rindo é alegria
E o teu corpo, amor,
Pura harmonia…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
![Mil Amores.JPG Mil Amores.JPG]()
IV
“MIL AMORES”
No ar, o som das aves é vida,
É luz que brilha atrevida,
É música, é alegria
Cantada, como por magia,
Em tom de felicidade
Com força, com garra, com vontade…
Pelas calçadas e valados
De um cinza feito de matizes,
Onde desponta, aqui e ali, a cor da terra,
Pelos arbustos salpicados
Entre o verde das copas
E o amarelo das raízes,
Por entre tons do morro
Que lembram a serra,
Pelo verde, da erva, tão garrido,
Pelas pétalas que o tornam colorido,
Por toda a parte, enfim,
Pairam aromas mil
De mil e uma flores,
Pairam partes de mim
Enfeitiçado pelo estio primaveril,
Por Portaló,
Por mil amores…
Mil amores de ti amada minha,
Tu que ao existires,
Me dás sentido,
Tu que me fazes rei,
Por seres rainha,
De mil amores contados
Ao ouvido…
Por ti eu sou alguém,
Dentro de ti, vassalo e rei,
Senhor da Bruma, e mais além
Serei
De tudo o que, por ti,
Eu conquistei.
Chamas-me e me invades
Em fervores,
Que, vindos de ti,
São mil amores…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso