Livro de Poesia - A Exoração do Postremo: À Pena Livre - II
II
"À PENA LIVRE"
Escrevo,
Sem pensar,
À pena livre,
Porque é bom viver em liberdade,
Porque se alguém,
Um dia,
Numa gaiola prender uma andorinha,
Não conseguirá, contudo,
Reter a primavera!
Escrevo,
Escrevo sem pensar,
À pena livre,
Porém, se alguém as minhas letras,
Um dia, quiser ler,
Num livro cujo autor tenha de mim o nome,
Não ficará feliz,
Pois publicar não posso…
Faltam-me as cunhas ou as notas,
Que não as letras e os poemas,
As histórias, os relatos e as crónicas,
Os contos, as legendas, os romances,
Para os ou as pensar
Em liberdade!
Porque eu escrevo,
À pena livre,
Voando pelos ares imaginários
Dos sentidos,
Esses, que têm o defeito
De nos dizer, enfim,
Que efetivamente
Estamos acordados,
Mas de pena presa,
Na nossa condição comunitária!
Pensava eu
Eu escrevia à pena livre,
Livre é, na verdade,
A minha pena,
Essa de não conseguir publicar
Em liberdade!
Mas eu escrevo,
Sem pensar,
À pena livre,
Porque é bom viver em liberdade
E guardo nas gavetas da memória
O que, um dia, quis dizer aos outros,
Sem que me prendesse a sociedade!
De qualquer modo
Eu escrevo,
Sem pensar,
À pena livre!
Gil Saraiva