Livro de Poesia - Falcão Peregrino: Pessoa Que Ri - VIII
VIII
"PESSOA QUE RI..."
Renasci num bairro da cidade
Onde um dia,
Faz tempo, nasci,
Lá para as bandas de Campo Grande,
Que mal conheço,
Talvez pelo tamanho...
Renasci num casamento,
O meu segundo
Ou quinto se não contarmos os papeis…
Num segundo,
Num momento,
Num clique,
Renasci ali,
Na Casa Fernando Pessoa
Onde casei de novo,
Convencido,
Quase meio século
Depois de ter nascido,
Que renascera mesmo
Em pleno Campo de Ourique...
De novo era gente,
Uma criatura nova,
Não na idade,
Que essa não deixa Cronos
Em cuidados,
Mas na vida.
Renasci porque vi
O que nunca ninguém viu,
Um Pessoa que ri…
Da improvável volta que dei
Na minha conturbada vida
Ou desta atualidade
Que nos cerca,
Deste Quinto Império
Em saldos,
Destes políticos
Sem espinha vertebral,
Num mar
Já salobro das lágrimas de Portugal.
Renasci
Na alma de um ser
Que, como eu,
Se sentia desaparecida a dada altura...
Um ser exatamente como tu,
Aquela que fez Pessoa rir,
Ao casar comigo
Em casa dele,
Sem consentimento do próprio...
Renasci e afinal,
Apenas sou
O único homem
Que viu Pessoa rir...
Gil Saraiva