Gil Saraiva: Imagem de autor (direitos reservados)
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"ENQUADAR A POLÍTICA"
Um político bonito
Ganha votos das mulheres?
Já um decote, acredito.
Acredita, se quiseres…
Para os políticos é:
Prometer é ser ouvido.
Diz a Anica de Loulé:
De vidro é o prometido.
Ensinei meu papagaio:
Diz que Rosas são Heróis.
Tive azar, falta de paio,
Em vez disso ele me diz: Boys.
Ser Laranja é como um Rio,
Lá para trás deu poder,
Com Martelo há que ter brio,
Sem rabelo, água meter.
Com Chicão é guerra santa,
Diz São Francisco dos Santos,
Nessa boca a fala é tanta,
Que nos olhos vai dar prantos.
Parece haver muita Costa,
Sem bazuca é buracão,
Se a pandemia deu bosta,
PRR é salvação.
Mas que mal é ter um tacho?
Porque não copo ou panela?
Querem saber o que eu acho?
Melhor, é toda a baixela.
Ao escrever frontalidade
No livro das citações
É preciso, na verdade,
No sítio ter os calções.
Nossa memória é curta,
Diz o povo e tem razão.
O passar do tempo encurta
A promessa em ilusão.
Ave-maria: PP.
Chutos com PS vi.
Zeca Afonso: PCP.
Laranjas, nem os ouvi.
Política em Portugal
Dá saúde e faz crescer.
Não é bem proporcional,
Pois quem tem não quer perder.
Nada tem hoje de sinistro
Governar este país.
Voto que pague um ministro
Quem nele votou, quem o quis.
Eu quero é ser comissário
Nesta Europa a vinte e sete.
É melhor que ser otário,
Comigo ninguém se mete.
Mil debates na TV,
A toda a hora, é normal,
Mas ninguém explica o porquê
De haver fome em Portugal?
Eleições é voto certo,
Nas autárquicas, certeiro.
Não seria mais correto,
Prender, quem roubou, primeiro?
Gil Saraiva
“PARA QUE A TROIKA NÃO SE ESQUEÇA”
Dizem
Que temos nós
Direito à vida.
Dizem
Que vem na lei,
Que tem de ser.
Dizem
Que ninguém pode,
Dela, ser privado,
Salvo se crime houver
E, sem saída,
Se age
Por mais meios
Não haver…
Uns dizem
Que é direito assegurado,
Que assim se constrói democracia…
Outros dizem que tirá-la
É pecado,
Sentença capital da agonia,
Condenando,
Até ao fogo eterno,
As almas pecadoras ao Inferno.
Mas o que dizer de quem,
Que aplica um memorando
E navegando à vista, navegando,
Saca de todos nós o que não temos?
Rouba dizendo que devemos
Não se sabe o quê, à Troika prenha,
Que tanto nos odeia e desdenha,
Roubando a quem tem necessidade,
Tirando a quem não tem capacidade.
Impõe-se assim esta ordem estranha,
Injusta, violenta, uma artimanha,
Que nos vai forçando a cumprir,
Sem vontade se ter e sem sorrir,
Tudo o que nos obriga a própria lei,
Imposta porque quem tem força de rei.
Uma lei tão vil,
Tão errada, falsa,
Tão tamanha,
Que o povo ao suicídio
Vai levando ou à pobreza,
Por não haver maneira
Ou poder ter
Como se cumprir um tal comando,
Que da força da lei
Faz fortaleza,
Imposto por um Governo fraco
Que apenas quer encher o saco.
É assim a vida,
O que dizer?
Pergunta o Estado,
Vendo cofres a encher,
Num confisco que cheira realeza,
De quem o povo, aos poucos,
Vira presa…
Dizer que são culpados!
Porque não?
Dizer
E condená-los a Prisão!
Homicídio involuntário
De gente sem saída,
Gente que se mata,
Só por desespero,
Gente fraca, sem sorte,
Sem alma e sem bocado,
A quem o futuro foi roubado.
Gente que não sabe de roubo
Ou contrabando,
Que grita dor e fome em desespero,
Que definha pelo exagero
Do saque em favor do memorando
Assinado, à revelia, por tal bando.
Dizem que temos nós direito à vida.
Dizem que vem na lei, que tem de ser.
Quem julga os assassinos,
Das almas sem saída,
De tanta gente que assim
Ficou perdida?
Quem julga um Estado destes, a preceito?
Um estado assim tão vil, tão mau, demente,
Que abusa do Povo já desfeito,
Como se nada fosse, ou… quiçá…
Nódoa atroz que sai com detergente.
Dizem que temos direito à vida…
Dizem… e quem o diz,
Só mente!
É preciso avivar, de todos, a memória
Dos tempos em que vida foi avessa,
Lembrar os dias sem saída, sem glória,
Para que a Troika não se esqueça!
Gil Saraiva