"MÚSICA"
A música tem o espaço invadido
De ternas melodias...
No bar,
A tela sem som,
Transmite ilusões
De novelas sem fim...
A cena,
Com contornes de virtualidade,
Faz-me ver-te ali...
Do outro lado do bar,
Na penumbra das luzes
Em perpétua difusão...
Ali...
Nessas formas
Desse corpo que sonho;
Nas margens desse teu cabelo,
Onde os meus dedos anseiam
Perder-se um dia mais...
Procuro,
Com ânsia adolescente,
O teu olhar,
Profundo...
Oculto...
Magnífico...
E sinto-o no sorriso
Desses lábios
Que Mona Lisa invejaria ter...
Porque não falas?
A espera
É como um incêndio de floresta...
Consome tudo em seu redor...
Devora o íntimo do ser e...
Mesmo assim...
É divino o prazer
Da ansiedade...
A música
Tem o espaço invadido
Do teu ser...
E a tela,
Sem som,
O sorriso mudo dos teus olhos!
A cena faz-me imaginar
Contornes de impossível...
E na penumbra das luzes
O sonho aparenta
Um perpétuo devir...
Gil Saraiva
"VEM"
Vem...
Extraterrestre que o céu
Ao Homem te entregou
Porque as fábulas não servem pra sonhar!
Vem...
Fantasma que a casa
Ao anoitecer expulsou
Porque as fábulas não são para assustar!
Vem...
Sereia que o mar
Um dia rejeitou
Porque as fábulas não sabem nadar!
Vem...
Lobisomem que a Lua
Uma noite abandonou
Porque as fábulas não vivem ao luar!
Vem...
Abominável Homem que a neve
Uma manhã desmascarou
Porque as fábulas não sabem hibernar!
Vem...
Vampiro que a noite
Ao nascer da aurora atraiçoou
Porque as fábulas não vivem a sangrar!
Vem...
Loch Ness que o lago
Da eterna neblina se acabou
Porque as fábulas também têm de acabar!
Vem...
Conto de fadas, mito, animação,
Mistério oculto no fundo mais profundo,
Bruxedo, animal, pré-histórico, ladrão,
Mágico, mago, astronauta em novo mundo...
Vem...
Venham... bruxa, fada, feiticeira, anjo,
E porque não um pouco de diabo,
Adamastor nas dobras de outro cabo!
Vem...
E sejas conto, fábula, ou página de história,
Ou auto da derrota ou da vitória,
Mito, religião, Bíblia, mentira,
Credo, cruzes e um pouco mais de fé...
Vem...
Venham encher com tudo isto esta minha alma
Que ficou cega, vazia, nua,
Abandonada...
E quer poder sonhar
E ser amada
Mesmo que o preço seja não ser nada!
Vem...
Porque as fábulas não servem pra sonhar!
Porque as fábulas também têm de acabar!
Gil Saraiva