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"QUIMERA"
Quimera, monstro e animal sagrado,
Na antiga Grécia, foi mitologia...
Quimera, imagem, sonho encantado
Da minha atual, nova, poesia...
Quimera que morreu por ter lutado,
Naquele tenebroso, último dia,
Com Belerofonte, imortal soldado,
Que sempre que lutava não perdia...
Quimera, um sonho meu interrompido
Numa imaginária primavera...
Quimera, esse monstro adormecido,
No meu corpo cansado já de espera,
Onde os amores, que me dá Cupido,
São só Quimeras de uma só Quimera...
Gil Saraiva
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"TU"
Tens nessa voz o timbre de outros hinos;
Tens nesse corpo a carne apetitosa;
Tens nessa pele a seda mais sedosa;
Tens belos os teus olhos cristalinos;
Tens brilho nos cabelos leves, finos;
Tens nos lábios o rosa de uma rosa;
Tens nos nervos a fibra corajosa;
Tens tu, no sangue, a raça dos latinos!...
Tens tudo o que te deu a natureza...
E nada mais de bom podia dar:
Carinho, inteligência, amor, beleza,
Dedicação e calma... mais: sonhar…
Mas te perdi. Teu ser já me não quer,
Como posso ser teu? Diz-me, mulher...
Gil Saraiva
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"ACORDA"
Para um amor sentir, estando ele ausente,
E olhar eu para quem não posso ver,
Para uns lábios beijar, sem deles saber,
E para estar contigo no presente,
Com muito amor, apaixonadamente,
Sem a tua presença eu poder ter:
Eu fecho os olhos... sinto-me mover...
E quando volto a olhar, na minha frente,
Reconheço essa imagem sempre bela,
As formas desse corpo em que me deito,
O sorriso da boca mais singela,
Os olhos desse tom, lindo, perfeito...
E sinto-te alegre e me falando:
- Acorda, Amor, acorda, estás sonhando!...
Gil Saraiva
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"INFINITO"
Um astro brilha lá no firmamento;
Um ponto que me aponta o infinito;
Um cometa indicando um velho mito,
Formado há muito já no pensamento
Por não caber no nosso entendimento,
Como não coube no do antigo Egipto,
E, nem nessa Índia velha do sânscrito
Ou mesmo até no Novo Testamento...
Tantos sonhos pra lá da estratosfera;
Lendas de deuses, Deus, de Lúcifer;
Mat'rialismos, carne....... só mister!
Ah! Pobres humanos quem vos dera
Poder, como eu, viver qualquer quimera,
No infinito amor desta mulher!
Gil Saraiva
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"TU E EU"
Unidos, tu e eu, por nosso amor,
Por esse doce amor que em nós nasceu,
E, muito superior ao de Romeu
Ou ao da bela dama Leonor;
Amor mais forte que o Adamastor...
E que ninguém se atreva, nem Morfeu,
Nem Júpiter, nem Vénus, nem Orfeu,
A tentar pôr fim ao seu vigor.
Tu e eu, no amor que nos juntou,
No amor que jamais nos separou,
Os deuses venceremos, pois, unidos:
Somos mais fortes do que o forte Marte,
Mais amorosos do que mil Cupidos,
Mais belos e perfeitos do que a Arte!
Gil Saraiva
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"CANSADA"
Cansada de viver ali sozinha,
Com tanta gente sempre à sua volta;
Mas se sentindo presa quando à solta
Nesse grito de raiva se continha...
Cansada de calar a ladainha,
Daqueles entre quem se sente envolta,
Ela implora o momento da revolta,
Que jamais chega e nunca se adivinha...
Tão cansada de mágoas, deceções,
Desgostos e tristezas: podridões...
Tão mortalmente farta, dolorida,
Ela que já foi bela, jovem, nova,
Tão descansada está em fria cova
Que não me lembro já se teve vida!...
Gil Saraiva
![Medo.jpg Medo.jpg]()
"MEDO..."
Na noite os pensamentos se refletem
No fumo de um cigarro a consumir...
No desejo real de querer fugir
Dos desejos que uns olhos comprometem...
E as sombras nas paredes medo metem...
E no ar o silêncio faz-se ouvir...
E em mim sobe o desejo de sentir
O amor que os teus lábios me prometem...
Mas tenho medo que à noite me iluda...
- Quem és? Tu que me olhas ternamente ...!?
E essa sombria sombra respondeu:
- Sou uma amiga que te ofereceu ajuda.
- Mas diz-me quem és tu? (Disse insistente).
- Eu sou a Morte, o Fim, o Apogeu!
Gil Saraiva
![O Julgamento.jpg O Julgamento.jpg]()
"O JULGAMENTO"
Juntem-se as águas já sob esses céus,
E a Morte tape a fria face crua,
Que o Sol se esconda por detrás da Lua,
Que lá no alto Olimpo trema Zeus...
No julgamento já nem falta um deus;
O cansado Mercúrio apenas sua;
Vénus observa feminina e nua
E agora se aproximam os dois réus...
O Amor vai ser julgado, e por Dante,
Que no inferno tem associados,
Eu, se este tribunal tem o desplante
De condenar os dois apaixonados,
Peço a Cristo que logo, nesse instante,
P’la morte acabe então com tais jurados!
Gil Saraiva
![Balança.jpg Balança.jpg]()
"BALANÇA"
A vida, que se vive sem viver,
É o peso da morte na balança,
Que pende para o lado do sofrer
No prato negro da insegurança...
A vida, que se vive sem haver
Dentro dela uma mínima esperança,
É combate onde sem se combater
Se abandona o direito de mudança...
E se, na vida, eu não poder amar,
Sujeito-me ao consolo de chorar,
Pois que a vida, sem ti, é gargalhada...
É um eco cretino em minha mente...
Uma dentada dada por serpente
Nesta minha existência envenenada!...
Gil Saraiva
I
"Quem!"
Quem ama:
Não sabe do nunca;
Não busca o porquê;
Não procura o como;
Não conhece o mas;
Não se importa onde;
Não abrange o se...
Só tem certo o quem!
Gil Saraiva