Livro de Poesia - Ântumos Implexos dos Airados: Sátiras de Uma Política Doente - VI
VI
"SÁTIRAS DE UMA POLÍTICA DOENTE"
O caminho descendente que conduz ao inferno
Vai até à encruzilhada onde o Aqueronte,
O Rio da Angústia plena,
Entronca no Cocito,
O Rio das Lamentações.
Pelas margens passeiam políticos e ricaços
Fazendo piqueniques com populares corrompidos,
Sedentos por servir, para serem servidos.
Algures, um velho alentejano de ar manhoso,
Canta um Paco Bandeira distorcido:
“- Ó relvas, ó relvas,
Maroscas à vista.
És contrabandista de universidades,
Enganas o povo com tuas vaidades,
Com tuas vaidades…”
Outro velho, um barqueiro,
Transporta as almas dos mortos
Para a outra margem, mais acima,
Até onde se encontram as portas adamantinas do Tártaro.
Terroristas, que já foram de carne e osso,
Fazem companhia a Cérbero,
O cão de três cabeças e cauda de dragão,
Que guarda os portões, com falsidade,
Sorrindo gentil a todas as almas que entram,
Rosnando feroz às muitas
Que aflitas tentam sair.
Para lá dos pórticos está o Tribunal dos Três Juízes,
Indiferente a juras de futuro bom comportamento,
Que na Terra, libertam varas de bandidos da prisão.
Radamanto, Minos e Éaco
Lavram as sentenças com pesada mão.
A opção da salvação envia os justos
Lá para os Campos Elísios,
Que não os de França, mas sim do Paraíso.
Os outros embarcam pelo Flégeton,
Pelo Estige ou pelo Lete,
Rumo aos três cantos dos infernos,
Pelos rios do fogo, da invulnerabilidade
Ou o do esquecimento.
A Justiça terrena descansa nas margens do esquecimento,
Os poderosos e ricos banham-se no Rio do Fogo,
Onde milhares de vítimas são finalmente saciadas.
Gil Saraiva